IA no setor químico: um enorme potencial a ser explorado
* Por Valter Shimidu e Ricardo Santana
Em todas as indústrias, a inteligência artificial (IA) está aplicada para impulsionar melhorias nos negócios que agreguem valor – e o entusiasmo não para de crescer. Embora a adoção dessa ferramenta no setor químico ainda esteja menos disseminada, há um potencial significativo ainda não explorado. As áreas em que essas soluções podem agregar valor são inúmeras e vão desde a cadeia de suprimentos, passando pela pesquisa e desenvolvimento até segurança e compliance.
Uma das principais aplicações da IA e que mais pode trazer resultados a curto prazo está no processo de previsão de demanda, gestão de inventário e rastreamento do transporte ao longo da cadeia de suprimentos. Ela pode ser utilizada também para tornar essa operação mais ágil, eficiente e responsiva, disponibilizando informações e análises em tempo real. Otimizações podem ser impulsionadas em todo o ecossistema, não apenas em uma empresa. Além disso, a tecnologia tem um papel no processo de identificação e rastreamento da origem dos produtos – um aspecto importante, especialmente, em termos de produtos químicos especializados.
Como a indústria de produtos químicos é intensiva na utilização de energia, a implementação de IA tem capacidade de analisar o uso e padrões, ajudando a racionalizar o consumo e reduzir desperdícios desse insumo. Por exemplo, se uma empresa utiliza essa tecnologia para aperfeiçoar o uso de vapor nas plantas químicas em termos de quantidade e pressão, isso torna o processo mais eficiente, diminui as emissões de carbono e ainda ajuda na agenda de sustentabilidade.
No que diz respeito aos projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, integrar esse tipo de mecanismo nas operações pode ajudar as organizações a alcançarem progressos mais rápidos, criando simulações usadas para modelar efeitos. Já em situações em que é necessário gerenciar um ambiente operacional de maneira extremamente rigorosa com produtos químicos perigosos, a tecnologia é utilizada para fazer o monitoramento ambiental e de segurança, incluindo análises preditivas que ajudam a localizar os riscos potenciais.
Mas podemos ir além do uso da inteligência artificial tradicional já que o entusiasmo em torno dos grandes modelos de linguagem tem sido grande no setor químico. A capacidade da IA generativa de gerar conteúdo, seja em texto e imagens, seja som ou código, é potencialmente empolgante para um vasto leque de funções corporativas.
Por ser uma solução mais avançada, entre outras coisas, a IA generativa tem a possibilidade de absorver longos e complexos contratos de fornecedores mantidos por muitas empresas de produtos químicos – e, então, identificar informações específicas ou verificar o desempenho dos fornecedores em relação às obrigações legais, ao mesmo tempo em que projeta novos documentos com cláusulas específicas que equilibram risco, rentabilidade e continuidade dos negócios.
Por fim, nenhum negócio pode operar em um silo de isolamento digital enquanto o resto do mundo está adotando e institucionalizando soluções rapidamente. A jornada de adoção da IA deve começar com um processo rigoroso de descoberta de casos em que a inclusão da ferramenta agregaria valor significativo ao negócio ou resolveria questões urgentes também em prol da sociedade.
* Valter Shimidu é sócio-líder do segmento de químico e petroquímico da KPMG no Brasil e Ricardo Santana é sócio-líder de análise de dados da KPMG no Brasil.
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