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meio ambiente

Célula eletroquímica transparente com eletrodos metálicos imersos em solução aquosa, tubos de circulação e frasco de LiOH desfocado ao fundo, representando recuperação eletroquímica de lítio em laboratório tecnológico.
Artigo científicoRadar científico

Reciclagem eletroquímica de baterias LFP avança com recuperação eficiente de lítio

por Equipe Analytica 10 de novembro de 2025
escrito por Equipe Analytica

A reciclagem eletroquímica de baterias LFP está ganhando relevância devido ao aumento do uso dessas baterias em veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia. Um novo método de recuperação de lítio apresenta eficiência elevada e baixo consumo energético, fortalecendo modelos de economia circular no setor.

As baterias LFP apresentam longa vida útil e baixo custo, porém a reciclagem convencional não é economicamente atrativa.

O funcionamento se apoia na mesma lógica das baterias recarregáveis. No ânodo, a massa preta funciona como fonte de íons de lítio, que migram pela membrana até o compartimento catódico. Nesse meio aquoso, os íons se combinam formando hidróxido de lítio, composto que pode retornar à cadeia produtiva como matéria-prima para novas baterias. O processo permite recuperar cerca de 94 por cento do lítio, com pureza próxima de 99 por cento.

O novo processo eletroquímico permite recuperar cerca de 94 por cento do lítio com pureza próxima de 99 por cento usando água deionizada e eletricidade.

Um dos aspectos mais relevantes é o consumo energético. Segundo os autores, o método requer aproximadamente 100 quilojoules por quilograma de massa preta, valor inferior ao observado em processos industriais convencionais. Isso reduz custos operacionais e favorece a viabilidade econômica da reciclagem das LFP em larga escala.

O consumo aproximado de 100 kJ por kg de massa preta representa uma redução significativa em relação aos métodos tradicionais.

Além disso, por evitar etapas de calcinação ou uso de solventes agressivos, o método diminui o impacto ambiental associado ao ciclo final das baterias. Em termos de segurança, a operação em meio aquoso reduz riscos térmicos e reativos. A simplicidade relativa da célula sugere compatibilidade com plataformas modulares e escalonáveis, embora ainda seja necessário avaliar a durabilidade da membrana e o tratamento dos resíduos remanescentes, compostos principalmente de ferro, fósforo e carbono.

Outro ponto estratégico é a possibilidade de adaptação do método para outras químicas de cátodo. Se confirmada, essa flexibilidade ampliaria o papel da reciclagem eletroquímica em cadeias industriais que hoje dependem fortemente de mineração e refinamento de metais críticos.

A ascensão das baterias LFP tem sido rápida em setores como transporte elétrico urbano, veículos compactos e armazenamento de energia renovável. À medida que esses sistemas entram no ciclo de substituição, soluções como essa tornam-se essenciais para fechar o ciclo de materiais, reduzir pressões sobre a extração mineral e fortalecer a economia circular no setor energético.

A técnica favorece a economia circular ao permitir que o hidróxido de lítio retorne ao ciclo produtivo como matéria-prima para novas baterias.

A inovação apresentada não encerra a discussão e ainda depende de validação em ambientes industriais. Contudo, sinaliza um caminho promissor para tornar a reciclagem de baterias LFP não apenas tecnicamente possível, mas economicamente sustentável. Diante da expansão global das tecnologias de eletrificação, métodos com menor custo energético e menor impacto ambiental tendem a se tornar parte central da política industrial e ambiental nos próximos anos.

Leia também: Estratégia modular amplia o acesso a tiofenos arilados e expande o espaço químico para fármacos, materiais e sensores

10 de novembro de 2025 0 comentários
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Microrganismos microscópicos em ambiente natural representando o papel biológico no equilíbrio climático e na mitigação do aquecimento global.
Artigo científicoDestaquesMicrobiologiaNotíciasOpiniãoRadar científico

Microrganismos e Mudanças Climáticas: o Poder Invisível na Mitigação do Aquecimento Global

por Equipe Analytica 20 de outubro de 2025
escrito por Equipe Analytica

Eles não se veem, mas estão em toda parte: nos solos, nos oceanos e até no ar. Microrganismos moldam os ciclos da Terra e podem ser os maiores aliados da ciência na luta contra o aquecimento global.

Nos últimos anos, o debate sobre mudanças climáticas tem se intensificado, mobilizando governos, cientistas e empresas em busca de soluções sustentáveis. Entretanto, uma das forças mais poderosas e ainda subestimadas desse processo não está nos grandes projetos de engenharia verde, mas em seres microscópicos que habitam solos, oceanos e até o ar: os microrganismos.

Esses organismos invisíveis formam a base funcional de praticamente todos os ecossistemas do planeta. São eles que controlam o ciclo do carbono, do nitrogênio, do enxofre e de outros elementos essenciais à vida. Sua atividade metabólica regula diretamente o equilíbrio químico da atmosfera e influencia a temperatura global, desempenhando um papel crítico na mitigação do aquecimento global.

Os engenheiros invisíveis do clima

Em solos agrícolas, florestais e marinhos, comunidades microbianas participam de processos de fixação de carbono e de decomposição da matéria orgânica. Quando o carbono é transformado em compostos estáveis no solo, ele deixa de ser liberado na forma de CO₂, o principal gás de efeito estufa.
Algumas bactérias e arqueias também atuam na oxidação do metano (CH₄), um gás com potencial de aquecimento 28 vezes maior que o do dióxido de carbono, convertendo-o em formas menos prejudiciais. Esse processo natural de biocaptura é uma das mais promissoras frentes de estudo para tecnologias de sequestro biológico de carbono.

Em ambientes aquáticos, microalgas e cianobactérias utilizam a fotossíntese para capturar CO₂, transformando-o em biomassa. Parte dessa matéria orgânica afunda para o fundo dos oceanos, onde o carbono pode permanecer isolado por milhares de anos — um fenômeno conhecido como bomba biológica de carbono. Esse mecanismo natural é uma das maiores contribuições microbianas para o equilíbrio climático global.

Microbioma do solo: um aliado estratégico

O microbioma do solo representa um dos maiores reservatórios de carbono do planeta. A diversidade e a atividade desses microrganismos determinam a capacidade do solo de armazenar carbono de forma estável e de sustentar ecossistemas produtivos.
Práticas agrícolas regenerativas, como o uso de biofertilizantes microbianos, o plantio direto e a rotação de culturas, estimulam a proliferação de espécies benéficas e aumentam a resiliência climática dos sistemas agrícolas.
Além disso, novas técnicas analíticas, como metagenômica, bioinformática ambiental e espectrometria de massas aplicada à biogeoquímica, têm permitido mapear com precisão as funções microbianas e identificar espécies-chave com potencial biotecnológico para o controle de emissões de gases estufa.

Mudanças climáticas e a resposta microbiana

As alterações climáticas também afetam profundamente as comunidades microbianas. O aumento da temperatura média, a acidificação dos oceanos e a mudança na umidade do solo modificam a estrutura e o comportamento dessas populações.
Microrganismos que antes desempenhavam funções equilibradas podem se tornar fontes adicionais de gases, liberando CO₂, N₂O ou CH₄ em maior quantidade. Por isso, compreender a resiliência microbiana e os limites ecológicos de cada espécie é essencial para prever cenários de estabilidade climática.

Pesquisas recentes em microecologia preditiva indicam que comunidades microbianas diversas e bem adaptadas tendem a estabilizar os fluxos de carbono e nitrogênio, reduzindo oscilações climáticas locais. Assim, a diversidade microbiana emerge como um indicador de sustentabilidade ambiental e de saúde do ecossistema.

Biotecnologia e inovação analítica

A crescente compreensão das funções microbianas abriu espaço para soluções industriais baseadas em biotecnologia verde. Reatores biológicos com consórcios microbianos controlados são hoje utilizados para o tratamento de efluentes, a produção de biogás, a recuperação de metais e até a conversão de CO₂ em biomoléculas de interesse econômico.

No campo analítico, o desafio é desenvolver métodos capazes de quantificar e monitorar a atividade microbiana em tempo real. Ferramentas como cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) acoplada à espectrometria de massas (MS), associadas a técnicas de sequenciamento genético de nova geração (NGS), têm permitido mapear com rigor os metabólitos e vias bioquímicas envolvidas em processos de captura de carbono e metano.

Essas integrações entre microbiologia ambiental e ciências analíticas estão impulsionando uma nova fronteira tecnológica: a da bioanálise climática, em que o laboratório deixa de ser apenas um espaço de medição e passa a atuar como agente ativo na sustentabilidade global.

O invisível que sustenta o planeta

A relevância dos microrganismos ultrapassa o campo da biologia. Eles representam a infraestrutura biológica da Terra, controlando o equilíbrio de gases e nutrientes de forma silenciosa e eficiente.
Compreender e monitorar essas interações é um passo decisivo para transformar a ciência analítica em instrumento de ação climática, traduzindo dados em políticas, estratégias e inovação sustentável.

No fim das contas, o desafio climático global talvez não seja vencido apenas por máquinas, painéis solares ou turbinas eólicas, mas, pela sabedoria contida nas células de um microrganismo, que há bilhões de anos mantém o planeta habitável.

20 de outubro de 2025 0 comentários
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DestaquesNotíciasQUÍMICA E MEIO AMBIENTERadar científicoTécnologias químicas

Microplásticos: o desafio invisível e como a química está reinventando a solução

por Equipe Analytica 13 de outubro de 2025
escrito por Equipe Analytica

Da poluição invisível à química regenerativa: como a ciência está transformando microplásticos em energia, inovação e novas oportunidades para o planeta.

Quando pensamos em poluição plástica, nossa mente costuma ir diretamente a garrafas, sacolas ou resíduos visíveis nas praias. Mas um problema mais sutil e pervasivo ronda águas, solos, cadeias alimentares e até mesmo nossos corpos: os microplásticos. Essas partículas minúsculas (médios entre 5 mm e menos de 1 µm) são formadas pela degradação física, química ou biológica de plásticos maiores e escapam facilmente dos sistemas convencionais de tratamento.

A presença de microplásticos levanta duas preocupações interligadas: (1) seus efeitos ambientais e biológicos; e (2) a complexidade técnica de detectá-los, separá-los e removê-los eficientemente em escala real. A química analítica e a ciência dos materiais desempenham hoje papéis centrais nessa fronteira, transformando fragmentos poluentes em alvos de tecnologias de remediação (ou até valorização).

Por que os microplásticos são um problema tão difícil?

  1. Tamanho e heterogeneidade
    Com diâmetros que variam de milímetros a nanômetros, os microplásticos cruzam fronteiras de escala e desafio: muitos já são invisíveis ao olho nu. Além disso, eles variam em composição (PE, PP, PET, PS, etc.), aditivos e contaminações secundárias (metais, substâncias orgânicas).
  2. Interação com outros poluentes
    Eles funcionam como microvetores: adsorvem compostos orgânicos tóxicos, metais pesados, microrganismos, ampliando riscos à saúde humana e aos ecossistemas.
  3. Baixa densidade e dispersão
    Muitos microplásticos flutuam ou permanecem suspensos na coluna de água, escapando de processos por sedimentação clássica. Isso exige tecnologias que operem em fase dispersa, com “caça” ativa dessas partículas.
  4. Escalabilidade e custo
    Métodos promissores em escala de laboratório muitas vezes não se traduzem facilmente em planta piloto ou sistema urbano. A eficiência decai, o custo de energia sobe e a regeneração de catalisadores/instrumentos torna-se crítica.

Métodos emergentes com potencial real

Embora ainda existam desafios, nos últimos anos vieram à tona abordagens inovadoras que visam “caçar” microplásticos com mais eficiência e inteligência. A seguir, alguns exemplos notáveis:

Métodos físico-químicos (catálise e foto-Fenton assistida por luz solar)

Uma linha promissora envolve o uso de radiação solar para ativar catalisadores que geram espécies reativas (radicais •OH, por exemplo) capazes de degradar ou fragmentar microplásticos em compostos menos perigosos. Alguns estudos exploram processos “photo-Fenton assistidos por luz” acoplados a regeneração de catalisadores.

Outro caso de destaque: pesquisadores do Instituto de Ciências Básicas da Coreia criaram um sistema flutuante que, usando luz solar e água, degrada resíduos de PET e PLA liberando hidrogênio limpo. Em ensaios outdoor por meses, o sistema permaneceu estável em ambientes diversos (água doce, água de torneira, mar).

Também foi relatado um catalisador à base de níquel que, de modo seletivo, quebra plásticos do tipo poliolefina (PE, PP), materiais particularmente abundantes e difíceis de reciclar, transformando-os em óleos, ceras e combustíveis. Essa abordagem também tolera plásticos misturados sem triagem intensa.

Nanotecnologia e materiais funcionais

Pesquisadores vêm desenvolvendo materiais com nanoestrutura (óxidos metálicos, MOFs, compósitos) capazes de adsorver microplásticos ou catalisar sua degradação. Por exemplo, composites que combinam BiOI com estruturas de MOFs têm sido testados para acelerar a degradação de microplásticos sob irradiação.

Membranas de nanofibras modificadas, como PVDF com óxidos metálicos e biossurfactantes, conseguiram taxas de rejeição de microplásticos de até 99,99 %.

Economia circular: transformação e valorização

Um movimento paralelo importante é abandonar a ideia de “remoção” pura e investir em transformação, ou upcycling. A visão: oxidar ou depolimerizar microplásticos em compostos úteis ou em energia limpa (hidrogênio, por exemplo).

Esse conceito tem sido explorado sob o rótulo solar reforming (reforma solar): uso de luz solar para converter resíduos plásticos em combustíveis, hidrogênio ou blocos químicos úteis.

Por exemplo, um estudo recente mostra que a forma “brookita” de TiO₂ é mais ativa que outras formas cristalinas (anatase, rutilo) no processo de photoreforming de PET, produzindo ácido acético e hidrogênio simultaneamente.

Um caminho para o Brasil?

No contexto brasileiro, onde muitos corpos hídricos enfrentam poluição plástica crescente e recursos para infraestrutura de tratamento são limitados, essas tecnologias emergentes podem ser transformadoras, se adaptadas e escaladas:

  • Pilotos regionais: implantar módulos solares compactos com catálise local para despoluição de rios ou reservatórios urbanos.
  • Integração com estações de tratamento de água (ETA): adicionar etapas de “captura ativa” de microplásticos antes da fase final de filtração.
  • Pesquisa colaborativa nacional: desenvolver catalisadores de baixo custo usando materiais abundantes localmente (óxidos de ferro, zeólitos, biocarvões) com equipes das universidades federais.
  • Avaliação de ciclo de vida (LCA): garantir que a energia incorporada nas novas tecnologias não supere os benefícios ambientais.
  • Normas e monitoramento: fortalecer redes de fiscalização de qualidade de água que incluam microplásticos como parâmetro de controle (muitas vezes ainda ausente).

Conclusão: química crítica no combate ao invisível

Os microplásticos representam uma fronteira incomum: invisíveis ao espectador comum, mas onipresentes no meio ambiente e na cadeia alimentar. A simples filtração tradicional já não é suficiente; precisamos de abordagens ativamente reativas e inteligentes.

A química analítica, os materiais funcionais, a catálise solar e o design de sistemas integrados emergem como protagonistas desse cenário. Há um potencial real de transformar o resíduo invisível em fonte de energia ou produtos úteis, desde que enfrentemos os desafios de escalabilidade, durabilidade e custo.

13 de outubro de 2025 0 comentários
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Notícias

Microalga remove resquícios de antibióticos da água, diminuindo contaminação do meio ambiente

por jornalismo-analytica 10 de junho de 2025
escrito por jornalismo-analytica

Microalgas da espécie Monoraphidium contortum têm a capacidade de remover da água resíduos de antibióticos, em especial o sulfametoxazol e a trimetoprima. Dessa forma, reduzem o risco de contaminação do meio ambiente, o que evita consequências severas para o ecossistema e para a saúde humana.

Essa foi a conclusão de um estudo realizado em parceria por pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André, Universidade Federal de Itajubá (Unifei), em Minas Gerais, e Universidade de São Paulo (USP), com o apoio da FAPESP.

O trabalho, publicado no Biochemical Engineering Journal, teve duas frentes. “Em uma delas, cultivamos a espécie de microalga em um fotobiorreator [biorreator que possui iluminação adequada para que os microrganismos realizem fotossíntese] na presença de antibióticos que são comumente utilizados no Brasil e encontrados em efluentes e corpos d´água. Ou seja, resíduos, provenientes das atividades humanas, que não foram removidos na estação de tratamento de esgoto, podendo ser lançados no meio ambiente”, explica Marcelo Chuei Matsudo, professor de biotecnologia da UFABC e autor correspondente do artigo.

Para simular o cenário comumente encontrado na natureza brasileira, os pesquisadores utilizaram sulfametoxazol e trimetoprima, que estão entre os dez antibióticos mais consumidos no país nos últimos anos. “Verificamos que, em baixas concentrações, condição encontrada nos efluentes, não houve prejuízo no crescimento da microalga, que removeu de 27% a 42% dos medicamentos adicionados ao meio”, conta Matsudo. O pesquisador ressalta ainda que nesse processo a microalga produziu uma biomassa com potencial valor comercial, já que mostrou viabilidade para a produção de biodiesel.

Na outra frente analisada na pesquisa, o pesquisador Marcus Vinicius Xavier Senra conduziu o sequenciamento do genoma dessa microalga e, com auxílio de ferramentas de bioinformática, detectou a presença do gene responsável pela produção de uma enzima que, potencialmente, degrada tais poluentes.

Os resultados obtidos ainda não podem ser colocados em prática, ressalva o pesquisador. “Paralelamente a esse trabalho, pretendemos estudar como seria esse comportamento em condições naturais, no efluente proveniente da estação de tratamento de esgoto, por exemplo, onde as condições encontradas não são as mesmas que aquelas otimizadas em um fotobiorreator com meio de cultura sintético para o crescimento das microalgas”, diz Matsudo.

Importância para o ambiente e a saúde

Os antibióticos não são totalmente metabolizados por humanos e animais. A fração restante que deixa de ser processada pelo organismo é excretada nas fezes e na urina, chegando às estações de tratamento de esgoto. A maior parte dessas substâncias não é removida pelas estações convencionais, uma vez que os processos de tratamento não são projetados para tal finalidade. Assim, pode ocorrer a contaminação do meio ambiente, que resulta em consequências severas não só para os ecossistemas, mas também para a saúde humana, com a proliferação de cepas de bactérias resistentes a antibióticos.

Por isso, há a necessidade urgente de tecnologias capazes de remover esses micropoluentes. A ozonização (utilização de ozônio para desinfecção, purificação e tratamento), a adsorção de carvão ativado (processo onde moléculas ou íons presentes em um fluido são atraídos e retidos na superfície do carvão ativado) e os processos avançados de oxidação e separação por membrana são algumas tecnologias testadas com essa finalidade, mas os altos custos operacionais e a possibilidade de geração de subprodutos ainda tóxicos limitam sua implementação.

“Nesse contexto, a biorremediação baseada em microalgas surgiu como uma abordagem promissora associada ao tratamento terciário de esgoto e águas residuais industriais”, afirma o pesquisador.

O artigo Unveiling the antibiotics removal ability of Monoraphidium contortum pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1369703X25000592.

Matéria – Thais Szegö | Agência FAPESP

Imagem – As M. contortum reduziram em até 42% a presença dos antibióticos sulfametoxazol e trimetoprima na água e ainda geraram subproduto viável para produção de biodiesel (imagem: Marcelo Chuei Matsudo)

10 de junho de 2025 0 comentários
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Notícias

Brasil registra aumento de 79% na área queimada em 2024

por jornalismo-analytica 23 de janeiro de 2025
escrito por jornalismo-analytica

Em um ano marcado pela seca extrema, 2024 registrou um aumento de 79% na área queimada e 30,8 milhões de hectares consumidos pelo fogo. É o que revelam os dados da plataforma do MapBiomas divulgados nesta quarta-feira (22): o crescimento foi de 13,6 milhões de hectares em relação a 2023 e o maior número desde 2019 no período da análise de janeiro a dezembro do ano passado.

Em comparação, a área total perdida representaria mais do que todo território da Itália. Desta, três em cada quatro hectares (73%) foram de vegetação nativa, especialmente em formações florestais (25%).

A Amazônia foi a mais afetada: 17,9 milhões de hectares foram queimados, o que corresponde a mais da metade (58%). Apenas em dezembro, quand 1,1 milhão de hectares foram afetados em todo território brasileiro, o bioma amazônico representou 88% do total (964 mil hectares).

Três estados também responderam por mais da metade (55%) das queimadas: Pará (7,3 milhões de hectares) ou 24% do total nacional, em seguida Mato Grosso (6,8 milhões) e Tocantins (2,7 milhões de hectares).

Vale lembrar que o programa BD Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também reportou um aumento de 46% nos incêndios em 2024, um recorde dos últimos 10 anos. Mas enquanto estes se referem a focos de fogo causados de forma ‘natural’ ou pela ação humana, as queimadas são sempre intencionais e geralmente causadas por práticas agrícolas ou de manejo de vegetação.

Luciana Gatti, cientista climática do Inpe e coordenadora do Laboratório de gases de efeito estufa, disse à EXAME, que o fogo acaba sendo usado como arma de desmatamento.

“Muitas vezes é considerado acidental e é mais difícil de provar e responsabilizar quem o causou. No entanto, utilizando medições com avião, recebi em 2024 inúmeras fotos que mostram claramente que a queimada é planejada para desmatar. Isso torna a situação extremamente complicada”, disse.

Seca histórica e El Niño
Os pesquisadores do Mapbiomas explicam que a seca histórica no Brasil em 2024, influenciada pelo fenômeno do El Niño e agravada pelas mudanças climáticas, são os eventos associados ao aumento das áreas em chamas. Com a baixa umidade, a vegetação fica mais suscetível ao fogo.

Ane Alencar, diretora de Ciências do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo, destacou que o ano foi atípico e alarmante para o país, com recordes em quase todos os biomas e especialmente em áreas florestais. “Os impactos dessa devastação expõem a urgência de ações coordenadas e engajamento em todos os níveis para conter uma crise ambiental exacerbada por condições climáticas extremas, mas desencadeada pela ação humana”.

Na Amazônia, o recorde foi impulsionado também por um regime de chuvas abaixo da média histórica. Felipe Martenexen, da equipe do MapBiomas Fogo, ressaltou que o fogo não é um fenômeno natural, mas sim causado pela ação humana.

“Um dado preocupante é que a classe de formação florestal foi a mais atingida, superando pela primeira vez as áreas de pastagens, que tradicionalmente eram as mais afetadas. Essa mudança no padrão de queimadas é alarmante, pois a floresta atingida torna-se mais suscetível a novos incêndios”, disse.

Outros biomas, novos recordes
No Cerrado, 9,7 milhões de hectares foram queimados, sendo que 85% (ou 8,2 milhões de hectares) ocorreram em áreas de vegetação nativa — onde ocorreu um aumento de 47% em relação à média dos últimos 6 anos. Seu histórico geralmente evolui com queimadas naturais, provocadas por raios durante a época de chuvas. Mas o que foi observado pelos pesquisadores é um aumento expressivo do fogo em períodos de seca.

Já o Pantanal, que teve o ápice da área queimada em agosto (648.796 hectares), registrou 1,9 milhão de hectares afetados pelo fogo. O número também representa um aumento de 64% em relação à média de 2019.

A Mata Atlântica teve 1 milhão hectares queimados entre janeiro e dezembro, sendo que 70% está em áreas agropecuárias. A maior parte aconteceu nos meses de agosto e setembro, reflexo dos incêndios que atingiram principalmente os plantios de cana-de-açúcar no estado de São Paulo. Embora o fogo aconteça por lá majoritariamente em áreas antrópicas, esses eventos acabam atingindo também as naturais e preocupam pela escalada de prejuízos ambientais e econômicos.

Contrariando os demais, o Pampa registrou 3,4 mil hectares consumidos pelo fogo — o menor valor dos últimos seis anos.

Eduardo Vélez, da equipe do Pampa do MapBiomas, explica que o padrão de baixa está associado aos fortes efeitos do El Niño, que no sul do Brasil se manifesta de modo inverso. “Os grandes acumulados de chuva no primeiro semestre de 2024, quando notavelmente ocorreram as enchentes. Por outro lado, as condições favoráveis ao acúmulo de biomassa vegetal podem aumentar o risco de queimadas a partir de 2025 com a confirmação do La Niña, que provoca períodos de seca”, explicou.

Houve redução também na Caatinga, onde 330 mil hectares foram queimados, uma queda de 47% em relação ao mesmo período de 2023. Neste bioma, a maior parte (81,8%) das queimadas esteve concentrada em formações savânicas.

Matéria – Exame, Sofia Schuck
Imagem – A Amazônia foi o bioma mais afetado: foram 17,9 milhões de hectares queimados ao longo do ano, o que corresponde a mais da metade (58%) registrado em todo território brasileiro (Bruno Kelly/Amazonia Real/Divulgação)

23 de janeiro de 2025 0 comentários
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Sem chuva e com incêndios, Brasil tem cidade mais poluída do que Delhi e passa o Deserto do Saara

por jornalismo-analytica 11 de setembro de 2024
escrito por jornalismo-analytica

As queimadas e a baixa umidade do ar, agravadas pela falta de chuvas, colocaram a cidade de São Paulo em uma posição ameaçadora para a saúde da população. 

Segundo o site suíço IQAir, que analisa a situação de diversos países em tempo real, a qualidade do ar em áreas da cidade da cidade de São Paulo e da região metropolitana começou a manhã desta segunda-feira, 9, entre ruim e muito ruim. Por volta das 10h, a capital ocupou a posição de metrópole com a pior qualidade de ar no mundo. Às 14h14, estava em segundo lugar, atrás de Laore, no Paquistão, que tem uma população estimada de 13 milhões de habitantes. Outra capital em condições alarmantes na América do Sul é Santiago, que ocupava a nona posição, e Lima, em 11º lugar. 

O IQAir classifica a qualidade do ar como boa, moderada, insalubre para grupos sensíveis, insalubre, muito insalubre e perigosa. 

 


Risco: na segunda-feira, 9 de setembro, às 14h12, São Paulo ocupava o segundo lugar como cidade com pior qualidade de ar do mundo, segundo a AQAir (Reprodução/AQAir)
 

 

Já a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), segundo relatório publicado às 13h, mostra que dos 22 pontos mensurados na Grande São Paulo, nove foram classificados com a qualidade do ar como “muito ruim” e 11 como ruim. Apenas duas delas conseguiram alcançar o índice de qualidade “moderado — Santo André/Capuava e Diadema. Em um raio de alcance maior, a medição estadual aponta Jundiaí, Campinas/Vila União, Paulínia/Santa Terezinha e Ribeirão Preto ficaram na categoria “muito ruim”.  O órgão faz a classificação como boa, moderada, ruim, muito ruim e péssima. 


Perigo: qualidade do ar na região metropolitana de São Paulo, no dia 9 de setembro de 2024, às 13h, segundo a Cetesb (Reprodução/Cetesb)
 

 

Doenças pulmonares 

De acordo com a Cetesb, quando o ar está muito ruim pode causar o aumento dos sintomas em crianças e pessoas com doenças pulmonares e cardiovasculares e o aumento de sintomas respiratórios na população em geral. Se o ar é classificado como péssimo, as principais vítimas são aquelas com doenças cardíacas ou pulmonares. Nessa situação, para se protegerem, idosos e crianças devem evitar esforço físico pesado ao ar livre; o restante da população deve reduzir o esforço físico pesado ao ar livre. 

Ainda segundo a Cetesb, se o ar está classificado como ruim, pessoas com doenças respiratórias ou cardíacas, idosos e crianças têm os sintomas agravados. Já a população em geral pode apresentar sintomas como ardor nos olhos, nariz e garganta, tosse seca e cansaço. A recomendação, orienta o órgão, é reduzir o esforço físico pesado ao ar livre, principalmente pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares, idosos e crianças. 

Pior do que o Saara 

As atuais condições climáticas colocaram várias regiões do país em uma categoria de umidade relativa do ar abaixo do que se registra no Deserto do Saara, uma das áreas mais secas do Planeta, que varia de 14% a 20%. 

Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) do domingo, 8, mostra que as estações meteorológicas em Coxim e em Sonora, ambas as cidades em Mato Grosso do Sul, registraram a menor umidade relativa do ar do país, de 7%. Cuiabá é a capital com menor índice, com 8%. No estado de São Paulo, Barretos alcanço o menor índice, com 9%. 

A baixa umidade relativa do ar é influenciada pelo calor intenso, a seca história e por conta dos bloqueios atmosféricos — configuração dos ventos que impede o avanço de frentes frias e, por consequência, das chuvas. A umidade cai cada vez mais à medida que há menos nuvens e chuvas. 

Abaixo, os dados mais recentes do Inmet mostram as cidades com os piores percentuais de umidade relativa do ar: 

 


Alerta: dados do Inmet, de 8/09, mostram as 20 cidades com menor umidade relativa do ar no Brasil (Reprodução/Inmet)
 

 

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a faixa de umidade ideal para o organismo humano varia entre 40% e 70%. Se a taxa cai para 30%, chega-se a uma situação de alerta, com prejuízos para a saúde. 

 

Matéria – Exame, Por Paula Pacheco 

Imagem – Saúde: problemas pulmonares se acentuam nas atuais condições de ar registradas no Brasil (Paulo Pinto/Agência Brasil) 

11 de setembro de 2024 0 comentários
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Queimadas no Brasil: CFQ alerta para o comprometimento da qualidade do ar em diversas regiões do país

por jornalismo-analytica 4 de setembro de 2024
escrito por jornalismo-analytica

O Brasil tem enfrentado uma proliferação de queimadas em diversas regiões, resultando em densas nuvens de fumaça que se espalharam por várias cidades do país. Estados como São Paulo, Goiás e Rondônia foram especialmente afetados, com a fuligem comprometendo severamente a qualidade do ar. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que, apenas na última sexta-feira (23/8), foram registrados 4.928 focos de calor como consequência das queimadas, sendo que 1.886 ocorreram no estado de São Paulo, superando o número de incêndios registrados na Amazônia no mesmo período.

A previsão é de que a fumaça leve dias para se dissipar completamente, enquanto altas temperaturas previstas para cidades como Manaus podem agravar a situação. As queimadas estão ocorrendo em uma escala ampla, e biomas como o Cerrado, a Amazônia e a Mata Atlântica estão entre os mais atingidos, contribuindo para a piora da qualidade do ar.

O Conselho Federal de Química (CFQ) destaca a importância dos Profissionais da Química na análise e monitoramento da qualidade do ar. Esses especialistas são responsáveis por medir os índices de poluição e avaliar os impactos da fumaça na saúde pública e no ambiente. O Índice de Qualidade do Ar (IQA), por exemplo, é um dos principais parâmetros utilizados para classificar a qualidade do ar como boa, moderada, ruim, muito ruim ou péssima, dependendo da concentração dos poluentes.

O analista químico e membro da Ouvidoria-Geral do Conselho Federal de Química (CFQ), Diego Freitas, explica que durante as queimadas ocorrem diversas fases, incluindo a eliminação de água, a formação de carvão e a liberação de compostos voláteis que conferem à fumaça seu odor característico. “A queima do carvão libera gases a temperaturas acima de 600 graus. Dependendo da quantidade de oxigênio no ar, essa combustão pode ser completa ou incompleta,” alerta.

Combate e prevenção da poluição atmosférica

A fumaça gerada pelas queimadas é composta por uma série de poluentes que prejudicam a saúde humana e o meio ambiente. Entre os principais componentes estão o material particulado (como o MP₁₀ e o MP₂,₅), dióxido de enxofre (SO₂), óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO) e compostos orgânicos voláteis, como hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. A inalação desses poluentes pode causar ou agravar doenças respiratórias e cardiovasculares e até mesmo aumentar os riscos de câncer.

Os padrões de qualidade do ar externo no Brasil são regulamentados pelo IBAMA e aprovados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), ao passo que a qualidade do ar interno é regulamentada pela norma ABNT NBR 17.037/2023.

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Notícias

Metano, potente gás de efeito estufa, pode ser absorvido por bactérias nos troncos das árvores

por jornalismo-analytica 29 de julho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Bactérias que habitam as cascas das árvores parecem ser capazes de absorver um dos mais importantes gases de efeito estufa, o metano (CH4), conforme indica artigo publicado nesta semana (24/7) na revista Nature. Isso é importante porque, ao longo da última década, medições de gases que contribuem para o aquecimento global indicaram que a floresta amazônica poderia estar contribuindo para o problema, em vez de ser a solução. A entrada em cena dos novos atores sugere uma equação mais complexa do que parece, além de propor armas adicionais na busca pela mitigação dos danos globais agravados pela ação humana.

As coletas na Amazônia vêm sendo feitas desde 2013 por um grupo internacional liderado pelo biólogo brasileiro Alex Enrich Prast, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) atualmente na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o grupo do biólogo britânico Vincent Gauci, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido. “Nós mediamos os fluxos de metano na floresta com baldinhos, enquanto outros faziam monitoramento com aviões”, conta Prast. Além do trabalho em que está envolvido, ele se refere ao liderado pela química Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que, por meio de monitoramento aéreo colhendo ar em diferentes regiões da Amazônia, detectou um volume de emissões maior do que o esperado entre 2011 e 2013.

O trabalho dos pesquisadores de campo trouxe a explicação: o metano formado no solo sem oxigênio das áreas alagadas é processado pelas bactérias associadas às raízes das árvores, que funcionam como chaminés que lançam à atmosfera o gás nocivo. A união dos esforços dos dois grupos constatou que as árvores nessas áreas de várzea emitiam tanto metano quanto o que é liberado pelo oceano inteiro, como descreveram em artigo da mesma Nature, em 2017.

Papel das árvores
De lá para cá, Prast, Gauci e outros colaboradores continuaram a carregar seus equipamentos pelo meio da floresta e perceberam que muitas vezes as árvores fazem o contrário do que os resultados anteriores tinham levado a temer: assimilam mais do que emitem, funcionando como sumidouros de metano. Isso acontece nas próprias várzeas, quando não estão alagadas e têm oxigênio no solo, e também – e principalmente – em florestas de terra firme, não alagáveis.

Faltava entender por quê. Para isso, prenderam às árvores, em diferentes alturas, aparatos que funcionam como câmaras detectoras de gases e mostraram que os troncos absorvem CH4. Mais especificamente, a microbiota do tronco das árvores, que por isso é classificada como metanotrófica, ou consumidora de metano. “Vimos que a assimilação é maior na porção mais alta do tronco”, completa Prast. Nas várzeas a absorção também acontece, mas não é visível no balanço de emissões na estação alagada devido ao metano produzido no solo sem oxigênio.

Os pesquisadores também coletaram amostras da madeira em diferentes alturas, das quais extraíram DNA. “Já identificamos, na microbiota do tronco, algumas bactérias que oxidam metano.” Os pesquisadores já sabem também que há diferenças, por exemplo, na comunidade microscópica das cascas mais lisas ou mais rugosas. Por isso, mais adiante, será importante caracterizar a composição em diferentes espécies vegetais – algo que ainda não foi feito pela dificuldade de se identificar todas as árvores em campo.

Na Amazônia, as medições foram feitas na Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, em Rondônia, às margens do rio Madeira e cerca de 130 quilômetros a nordeste de Porto Velho. Os cálculos indicam que a absorção de carbono pela superfície dos troncos em florestas maduras equivale a 15% da absorção média de todo o carbono pela biomassa vegetal da Amazônia, um valor significativo. Prast agrega que a absorção detectada foi maior que a realizada pelo solo, cuja microbiota era até agora considerada a protagonista nesse ciclo gasoso, e que o fluxo de metano nas folhas – que também abrigam todo um ecossistema microscópico – não é considerável.

Metodologia
O estudo incluiu análises semelhantes na floresta Gigante, na ilha de Barro Colorado, uma estação de pesquisa no Panamá, na floresta temperada de Wytham, no Reino Unido, e em Skogaryd, floresta hemiboreal de coníferas na Suécia. A comparação entre os ecossistemas deixou claro um gradiente associado à temperatura. Os troncos absorvem mais metano em climas mais quentes – Amazônia e Gigante, em escala equivalente – do que na vegetação britânica e, por fim, na sueca. “Provavelmente essa diferença diz respeito à capacidade de a microbiota se manter nas diferentes temperaturas”, sugere Prast.

Mesmo florestas imaturas, com árvores finas, têm uma grande superfície capaz de abrigar bactérias. Entender seu papel reforça a importância do reflorestamento para mitigar as emissões de gases do efeito estufa. O estudo publicado nesta semana estima um benefício em termos de mitigação que corresponderia a 7% da absorção em florestas temperadas e 12% nas tropicais, o que equivaleria a um aumento de 10% no benefício que já tinha sido calculado para a expansão de florestas.

O agrônomo Jean Ometto, do Inpe, considera uma boa notícia a indicação de que a recuperação florestal possa ter um benefício climático adicional substantivo. “A redução das concentrações de metano antrópico na atmosfera, por sua dinâmica e tempo de residência, é de enorme relevância para que as metas do Acordo de Paris possam ser atingidas”, informa ele, que não participou do estudo, referindo-se ao tratado internacional firmado em 2015. O metano tem vida curta na atmosfera, cerca de 10 anos, enquanto o CO2 permanece mais de um século. Mesmo assim, o CH4 tem um poder de aquecimento maior devido à maneira como sua estrutura molecular reage com a radiação solar.

Ometto alerta também para a necessidade de se entender melhor como se dá o fluxo de gases no interior da floresta. O pesquisador, especialista em balanço de gases do efeito estufa, indica que o metano que circula próximo aos troncos possa ser principalmente originado a partir de incêndios florestais, mas também da atividade biótica de comunidades de microrganismos anaeróbicos presentes nos ecossistemas dos troncos e do solo.

Papel da floresta
Nos últimos anos, Prast e colaboradores mantiveram medições periódicas em regiões diferentes da Amazônia para entender melhor o papel da floresta, já que a biomassa de árvores varia muito conforme o local. Para chegar a conclusões abrangentes, porém, parece necessário que mais grupos de pesquisa se envolvam.

“A Amazônia tem um tamanho que abarca a Europa inteira, e ainda sobra”, lembra o biólogo da UFRJ. Ele se diverte comparando a dificuldade de chegar e acampar no Cuniã (um local bastante acessível em termos de Amazônia) com o trabalho em Skogaryd, na Suécia, aonde os pesquisadores chegam por estrada em pouco tempo. “E voltam para dormir em casa depois da coleta.”

Ele ressalta que o conhecimento sobre a microbiota surgiu a partir de um resultado que parecia negativo: uma emissão de metano pela floresta, que a punha no papel de vilã. “Essa nova área da ciência não avançaria se não tivéssemos prestado atenção a esse resultado.”

“Considerar que a microbiota das cascas das árvores também consome metano altera significativamente o balanço de gases”, diz a engenheira-agrônoma brasileira Júlia Gontijo, pesquisadora em estágio de pós-doutorado na Universidade da Califórnia em Davis, Estados Unidos, no grupo do engenheiro-agrônomo brasileiro Jorge Rodrigues.

A pesquisadora publicou recentemente um artigo na revista Environmental Microbiome, no qual analisou a capacidade metanotrófica do microbioma do solo em áreas de florestas de várzea e de terra firme na região amazônica próxima a Santarém, no Pará, como parte do doutorado no Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP). Ela incubou amostras de solo das áreas de estudo e simulou as estações de cheia e seca e o aumento de temperatura esperado em projeções de mudanças climáticas.

Apesar de o solo da floresta de terra firme ser habitualmente um sumidouro de metano, Gontijo viu esse consumo diminuir com o aumento da temperatura. Já no solo de várzea, não detectou alterações expressivas no comportamento microbiano. “Esses microrganismos naturalmente lidam com flutuações drásticas no ambiente, como o alagamento periódico, e parecem ter mais plasticidade para lidar com mudanças”, pondera.

Gontijo se entusiasma com a possibilidade de sequenciar os genomas da microbiota dos troncos das árvores e compreender em profundidade quais organismos estão presentes e como a composição varia conforme o ambiente. “As metanotróficas são as minhas favoritas, pois elas podem nos ajudar no futuro.” Em amostras de solo amazônico, ela agora está estudando o material genético e também indicadores metabólicos, para investigar a ação microbiana. “A composição da microbiota não revela tudo, porque um microrganismo pode estar presente, mas dormente”, explica. Mais adiante ela pretende também sequenciar RNA para inferir a atividade desses organismos.

Projeto
Dimensões US-BIOTA – São Paulo: pesquisa colaborativa: integrando as dimensões da biodiversidade microbiana ao longo de áreas de alteração do uso da terra em florestas tropicais (nº 14/50320-4); Modalidade Projeto Temático, Programa Biota; Convênio NSF Dimensions of Biodiversity; Pesquisadora responsável Tsai Siu Mui (USP); Investimento R$ 4.199.250,78.

Artigos científicos
GAUCI, V. et al. Global atmospheric methane uptake by upland tree woody surfaces. Nature. On-line. 24 jul. 2024.
GONTIJO, J. B. et al. Methane-cycling microbial communities from Amazon floodplains and upland forests respond differently to simulated climate change scenarios. Environmental Microbiome. v. 19, 48. 17 jul. 2024.
PANGALA, S. R. et al. Large emissions from floodplain trees close the Amazon methane budget. Nature. v. 552, p. 230-4. 4 dez. 2017.

Matéria – Exame – Agência Fapesp
Imagem – Estudo: árvores da Amazônia dão sinais sobre capacidade de absorção de metano (Leandro Fonseca/Exame)

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Notícias

ESG: o que é a sigla que virou sinônimo de sustentabilidade

por jornalismo-analytica 5 de julho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Meio ambiente, social e governança. É assim que se traduz do inglês a sigla ESG (Environmental, social and Governance). Essas três letras praticamente substituíram a palavra sustentabilidade no universo corporativo. Mas, afinal, do que se trata esse novo conceito?

O que é ESG?

O ESG surgiu no mercado financeiro como uma forma de medir o impacto que as ações de sustentabilidade geram nos resultados das empresas. A sigla surgiu a primeira vez em 2004, dentro de um grupo de trabalho do Principles for Responsible Investment (PRI), rede ligada à ONU que tem objetivo de convencer investidores sobre investimentos sustentáveis.

James Gifford, economista que liderava o PRI, resumiu assim o significado de ESG:

“O ESG é apenas um subgrupo inserido no contexto maior do investimento sustentável. O termo foi criado, especificamente, para focar em questões materiais. A ideia foi inverter a lógica do que, na época, era chamado de investimento ético, para se concentrar em fatores relevantes para os investidores. Se você tem uma responsabilidade fiduciária, como no caso de um fundo de pensão, não deveria estar pensando num horizonte de nove meses, mas sim de nove anos, ou de 20 anos. E quando se considera esse horizonte, temas como mudanças climáticas, riscos sociopolíticos etc., se tornam relevantes. Algumas pessoas usam o termo de maneira mais ampla, mas o ponto central é a incorporação de fatores socioambientais nos investimentos para gerenciar riscos. Não é mais sobre ética.”

O que é ESG nas empresas?

Muitas empresas hoje são maiores do que o PIB de vários países, e muitas empresas estão diariamente — e várias vezes ao dia — se relacionamento com as pessoas, dentro de suas casas. Junto com o tamanho e a importância das empresas, vêm também as responsabilidades. Se no passado uma empresa deveria estar focada no seu crescimento e na sua lucratividade, hoje o papel delas na sociedade é muito mais amplo.

No passado, aprendemos sobre externalidades, que poderiam ser positivas ou negativas. A poluição era exemplo de externalidade negativa. Hoje, é difícil imaginar esse conceito de externalidade, pois uma empresa tem de “internalizar” — por legislação, princípio ou pressão dos clientes e da sociedade — o que antes era considerado externalidade, além de assumir responsabilidades que antes não eram consideradas suas.

Nesse cenário, vemos o conceito do capitalismo de stakeholder ganhar espaço sobre o capitalismo de Milton Friedman, economista ganhador do Prêmio Nobel que pregava que o retorno ao acionista (lucro) deveria ser o principal objetivo de uma companhia. Esse entendimento, com o ESG, está mudando. A geração de valor para todas as partes interessadas na empresa, os chamados stakeholders, passa a ser a razão de existir de uma empresa. Essa visão ficou conhecida como capitalismo de stakeholder.

O que são stakeholders e como eles se relacionam com o ESG?

Mas o que são os stakeholders? São todos os grupos de alguma forma impactados por uma empresa, e podemos resumir em colaboradores, acionistas, fornecedores, clientes e comunidade. Em uma de suas famosas cartas, o CEO da BlackRock, maior gestora do mundo com 9 trilhões de dólares em ativos, Larry Fink, definiu esse novo modelo:

“Capitalismo de stakeholder não é sobre política. Não é uma agenda ideológica ou social. É capitalismo, impulsionado por relações entre a empresa e funcionários, clientes, fornecedores e comunidades, onde os dois lados se beneficiam e sua empresa prospera. É o poder do capitalismo.”

É difícil pensar em relações duradouras e saudáveis, se não for bom para os dois lados. E capitalismo de stakeholder é sobre isso. Ao desenvolver fortes laços com seus stakeholders, as empresas reduzem o risco operacional e aumentam a qualidade de seus produtos e serviços. Quando pensam em relações frutíferas com seus stakeholders, as empresas conseguem, com seu negócio e suas práticas, causar um impacto social positivo na sociedade.

Por que a agenda ESG tem crescido tanto?
Um dos principais motivos do crescimento da agenda ESG é a urgência em combater as mudanças climáticas. De acordo com as Nações Unidas, para limitar o aquecimento global em 1,5ºC, quando comparado aos níveis pré-industriais, as emissões de carbono devem ser reduzidas em 45%, até 2030, e chegar a zero até 2050. Mais de 70 países, que representam ao redor de 76% das emissões globais de carbono, já se comprometeram com metas net zero, ou carbono zero.

Provavelmente, nos próximos anos veremos novas regulações e, nesse cenário, os maiores emissores terão de investir em novos processos, terão o custo de neutralizar suas emissões, ou vão correr o risco de perder espaço para produtos e processos menos poluentes. A regulação da emissão de carbono impacta de forma diferente os setores, trazendo riscos para alguns e oportunidades para outros.

Mas carbono não é a única emergência ambiental. Outros pontos importantes, como restrição de recursos hídricos, perda da biodiversidade e gestão de resíduos – para citar apenas alguns -, também mostram porque é importante o setor privado abraçar a agenda ambiental.

A importância do S do ESG
E, não menos importante que as questões ambientais, nossas sociedades enfrentam sérios problemas sociais. Essa frente é diretamente relacionada ao capitalismo de stakeholder – afinal, quando uma empresa foca em melhorar a relação com seus stakeholders, questões sociais são imediatamente impactadas.

Conhecer seus fornecedores (e suas práticas ambientais e sociais), manter um bom ambiente de trabalho (com diversidade, remuneração justa e investindo no desenvolvimento e dignidade de seus funcionários) e investir no desenvolvimento da comunidade na qual a empresa está inserida geram impacto positivo. Colocar o cliente no centro das decisões traz produtos e serviços de melhor qualidade, inovação e demanda mais resiliente.

E nenhuma empresa consegue gerar impacto ambiental e social positivo, no longo prazo, sem governança. Afinal, sem uma boa governança, a empresa pode não empregar os recursos da melhor forma possível. Sem uma boa governança, dificilmente a empresa terá foco no longo prazo. Sem uma boa governança, o relacionamento com os stakeholders pode não ser sólido, pois precisa de governança para estabelecer (e respeitar) políticas, regras e normas.

Enfim… sem governança, a existência da empresa fica comprometida, assim como a possibilidade de a empresa causar impacto ambiental e social.

Os pilares do ESG
As empresas buscam o ESG, portanto, para gerar um impacto positivo na sociedade e, com isso, reduzir os riscos, melhorar o relacionamento com clientes, fornecedores e as comunidades, e mostrar aos investidores que estão olhando para o negócio de maneira holística e transparente. O que motiva todo esse engajamento são os desafios enfrentados pela humanidade nas áreas ambiental e social.

Para ser ESG, uma empresa precisa observar alguns pilares:
Descobrir o seu propósito e como a sua atuação melhora a sociedade (se a empresa deixar de existir hoje, que falta faria?)
Fazer o levantamento de suas emissões em todos os níveis (escopo 1, 2 e 3) e definir metas de redução alinhadas com as melhores práticas (Science Based Targets, SBTi)
Investir no relacionamento com clientes, fornecedores e a comunidade (abrir canais de diálogo e mapear as dores de cada um e como elas se relacionam com a atuação da companhia)
Implementar políticas de governança e transparência claras e objetivas

Matéria – Exame, Da Redação
Imagem – (Andriy Onufriyenko/Getty Images)

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