AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA DIZ QUE AMÉRICA LATINA SERÁ CRUCIAL NO DESENVOLVIMENTO DE HIDROGÊNIO DE BAIXO CARBONO
A América Latina já ocupa o papel de liderança no uso de energias renováveis. Por isso, os países do bloco terão um peso importante para o desenvolvimento do hidrogênio de baixo carbono, elemento crucial para que se atinjam emissões líquidas zero. Esta é uma das conclusões da Agência Internacional de Energia (AIE), que publicou recentemente um relatório sobre o tema. A entidade, dirigida por Fatih Birol (foto), afirma que o hidrogênio de baixo carbono vem ganhando a atenção dos decisores políticos na região, principalmente devido ao seu potencial de produzir volumes grandes e competitivos de hidrogênio para exportação aos mercados globais no longo prazo. O Brasil, como já noticiamos, já publicou as diretrizes centrais para a elaboração de seu Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2). Segundo as contas da AIE, 11 países latino-americanos já haviam publicado ou ainda estavam em fase de preparação de suas estratégias e roteiros para o desenvolvimento do hidrogênio em nível nacional, e um conjunto de mais de 25 projetos estão em fase inicial de desenvolvimento.
A demanda da América Latina por hidrogênio pode crescer até dois terços até 2030, reforçando o apoio para hidrogênio de baixo carbono na região no processo, de acordo com o novo relatório da agência. O documento diz também que o hidrogênio, sendo uma tecnologia limpa promissora, mas ainda não desenvolvida, poderia beneficiar a economia da América Latina. “A próxima década será crucial para a promessa de longo prazo de hidrogênio de baixo carbono na América Latina, e muito pode ser feito hoje para desenvolver e demonstrar tecnologias emergentes e preparar o terreno para seu futuro aumento de escala“, disse o relatório.
O documento apresenta dois casos para o crescimento do hidrogênio na América Latina: um caso de linha de base é o mais provável e um caso acelerado define uma perspectiva de crescimento mais otimista. No caso da linha de base, haveria um aumento de demanda de 52%, atingindo 6,2 milhões de toneladas métricas (mt) até 2030. Em 2019, a demanda regional de hidrogênio totalizou 4,1 milhões de toneladas, ou cerca de 5% da demanda global, de acordo com o relatório. Quase todo o crescimento do caso de linha de base ocorreria nas tecnologias e processos existentes, especificamente no setor de refino de petróleo. Da mesma forma, a produção de amônia aumentaria mais de 50%, decorrente da demanda do Brasil e do México.
Já no cenário do caso acelerado, a demanda aumentaria 67%, chegando a 6,8 milhões de toneladas. O impulso viria de novas aplicações em transporte e indústria, bem como uma implantação de infraestrutura, como estações de recarga para veículos elétricos, cujas baterias podem funcionar com células de combustível de hidrogênio.
Olhando para novas aplicações na indústria e transporte, elas corresponderão a quase 18% da demanda total de hidrogênio durante o período de previsão do caso acelerado. O relatório da agência avalia que essa fonte de demanda dependeria ainda do desenvolvimento e instalação de tipos de hidrogênio que “não estão tecnologicamente maduros”, como o hidrogênio verde – produzido por eletrólise com energia renovável.
A infraestrutura de produção de hidrogênio é altamente variável na região atualmente, já que quase 90% da indústria está localizada em cinco países, detalhou a AIE. Quem parece estar mais avançado é o Chile, que planeja se tornar uma “força motriz da economia do hidrogênio”. O país tem metas específicas de produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo até 2030 e ser um dos três maiores exportadores de hidrogênio até 2040.
Na indústria siderúrgica, o Brasil e o México juntos responderam por 80% de toda a produção regional. Assim, o relatório vê que os dois países podem ser uma importante fonte de demanda para o hidrogênio.
Em suma, a região tem uma base para desenvolver ainda mais uma indústria regional de hidrogênio. Mas construir uma cadeia de valor de hidrogênio mais robusta representa um desafio complexo que exigirá capital e atenção política ao longo de décadas.
As instalações de hidrogênio existentes na região poderiam se beneficiar com o retrofit com tecnologias de captura e armazenamento de carbono, como usinas de amônia e grandes refinarias de petróleo bruto, de acordo com o relatório. A IEA enfatizou a diferença entre as formas atuais de hidrogênio e as futuras, “hidrogênio de baixo carbono” – dos quais a América Latina tem apenas três projetos piloto atualmente.
O potencial de hidrogênio da América Latina existe para uso doméstico e também para exportação. Assim, a capacidade da região de desenvolver energia à base de hidrogênio, para si e para seus parceiros comerciais, poderia, em última instância, trazer um efeito multiplicador dos investimentos feitos hoje, argumenta o relatório.
FONTE: PETRONOTÍCIAS – petronoticias.com.br/