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agroindustria

Notícias

Mudanças climáticas e uso do solo

por jornalismo-analytica 11 de setembro de 2019
escrito por jornalismo-analytica

Dois fatores pressionam o uso da terra no planeta, de acordo com o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em Genebra, Suíça, em 8 de agosto. O primeiro é a crescente população global, hoje em torno de 7,7 bilhões de pessoas, que aumenta a demanda por comida e recursos naturais. O segundo são as mudanças climáticas, que criam novos desafios na difícil relação da humanidade com o solo do planeta. A ação do homem se dá fundamentalmente por meio de atividades agropecuárias, uso do solo urbano e preservação de áreas naturais. Ao optar, por exemplo, por converter uma área de floresta nativa – que estocou uma quantidade considerável de carbono em sua biomassa – em pastagem para criação animal, promove-se uma grande emissão de gases de efeito estufa. As escolhas feitas pelo homem podem minimizar ou exacerbar as mudanças climáticas, que, por sua vez, levam a sociedade a novas decisões sobre como utilizar o solo, em um processo que se realimenta.

Diferentemente de seus grandes e abrangentes relatórios gerais sobre a situação do clima terrestre, dos quais já foram produzidas cinco edições (a sexta está em preparação, com lançamento previsto para o início de 2021), o novo documento do IPCC é um relatório especial, que trata de um tema mais específico. No caso, das relações entre o uso da terra e as mudanças climáticas, com ênfase em assuntos como desertificação, degradação do solo, manejo sustentável da terra, segurança alimentar, produção de biocombustíveis e fluxos de gases de efeito estufa em ecossistemas terrestres. Esse é o segundo relatório especial, que foi escrito e editado por 107 autores de 52 países, incluindo quatro autores brasileiros. O primeiro, divulgado em outubro de 2018, falava dos impactos climáticos do aumento de 1,5 ºC na temperatura global nas próximas décadas. Devido ao seu recorte, o novo documento não aborda a necessária redução da queima de combustíveis fósseis e foca essencialmente nas relações do homem com a superfície do planeta.

“A terra desempenha uma função importante no sistema climático”, disse, em comunicado durante o lançamento do relatório, o escocês Jim Skea, professor do Centro de Políticas Ambientais do Imperial College de Londres. “A agricultura, a silvicultura e outros tipos de uso da terra representam 23% das emissões humanas de gases com efeito de estufa. Ao mesmo tempo, os processos naturais dos ecossistemas terrestres absorvem dióxido (CO2) de carbono equivalente a quase um terço das emissões de dióxido de carbono da queima dos combustíveis fósseis.” Skea é copresidente do Grupo de Trabalho III do IPCC, que estuda formas de mitigar as mudanças climáticas, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa ou retirando-os da atmosfera.

Segundo o relatório, as atividades que dependem do uso da terra foram responsáveis pela emissão de 13% do CO2, de 44% do metano (CH4) e 82% do óxido nitroso (NO2) produzidos pelo homem entre 2007 e 2016. A maior parte das emissões de CO2, o principal gás de efeito estufa, vem de atividades industriais e de transporte que envolvem a queima de combustíveis fósseis.

Há cerca de 130 milhões de quilômetros quadrados (km²) de solo não coberto por gelo nas áreas continentais, 72% da terra firme do planeta. A maior parte desse solo não congelado é usada pelo homem para obter comida, água, energia, fibras para várias finalidades, madeira e ter acesso a uma série de serviços ambientais, além de manter a biodiversidade. A pecuária, intensiva e extensiva, para a criação de bovinos e de outros animais ocupa 21% do território global livre de gelo e a agricultura, irrigada e não irrigada, 12%. Desde 1961 até 2016, o consumo de carne e de óleos vegetais mais do que dobrou e as emissões de metano, produzidas naturalmente pelo sistema digestivo do gado e pelo cultivo do arroz, aumentaram 70%. Também duplicaram as emissões de óxido nitroso, que decorrem do uso de fertilizantes nitrogenados.

Um dos pontos do relatório que mais geraram repercussões foi a ênfase dada à adoção de dietas com menor impacto no uso da terra e, consequentemente, com menor repercussão climática em termos de emissões de gases de efeito estufa. “O relatório não faz nenhuma recomendação direta de reduzir o consumo de carne”, comenta o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), um dos brasileiros que participaram da confecção do documento. “Fala da adoção de dietas mais saudáveis e sustentáveis, que trariam benefícios para a saúde da população e ao meio ambiente.” Reduzir o desperdício de comida também é essencial. Atualmente, um terço do alimento produzido no mundo é perdido ou mal utilizado.

Segundo a sul-africana Debra Roberts, chefe do Sustainable and Resilient City Initiatives Unit em eThekwini, em Durban, e copresidente do grupo de trabalho II do IPCC, algumas dietas necessitam de mais terra e água para serem produzidas e acabam sendo fonte de mais emissões de gases de efeito estufa. “Dietas balanceadas com alimentos à base de plantas, como grãos, leguminosas, frutas e vegetais, e alimentos de origem animal produzidos de forma sustentável em sistemas com baixa emissão de gases de efeito estufa apresentam grandes oportunidades de adaptação e mitigação das mudanças climáticas”, disse Roberts, durante a apresentação do relatório.

Como abordar esse tema delicado no relatório final foi uma das questões discutidas entre os pesquisadores que participaram da elaboração do documento. “Discutimos até aspectos éticos a respeito de que tipo de dietas o relatório poderia defender”, explica a oceanógrafa e climatologista Regina Rodrigues, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que participou da produção do capítulo 7 do relatório. Uma das preocupações era não estigmatizar populações de áreas historicamente mais pobres que apenas nos últimos anos passaram a ingerir dietas com mais proteína animal, um tipo de alimento que as nações mais ricas consomem há muito mais tempo.

Polêmica da bioenergia
Outro tema que provocou discussões, em especial durante o processo final de redação do resumo do relatório para os chamados “tomadores de decisão”, foi o da bioenergia. Cultivar plantas para a produção de alguma forma de energia, como o Brasil faz com a cana-de-açúcar usada para a fabricação do etanol que substitui uma parte do combustível fóssil, é prejudicial à produção de alimentos? Essa prática é um bom ou um mau uso da terra no que diz respeito ao combate ou à mitigação das mudanças climáticas? Segundo o relatório, a resposta é: depende. Em alguns lugares, e para certas culturas, os resultados do emprego da bioenergia podem ser positivos. Em outros, podem colocar em risco a segurança alimentar e a biodiversidade.

Para a bioquímica Glaucia Mendes Souza, do Instituto de Química  (IQ) da USP e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (Bioen), o novo documento do IPCC apresenta uma avaliação ponderada sobre essa questão, baseada na literatura científica, listando prós e contras da adoção de diferentes tipos de bioenergia. “Mas a versão do sumário do relatório que estava pronta para ser divulgada em Genebra não refletia essa visão equilibrada”, comenta Souza. “Ela tratava todas as formas de bioenergia como se fossem iguais, sem deixar claro que, no Brasil, o cultivo de cana-de-açúcar para a produção de etanol não compete com a produção de alimentos e é importante para a redução das emissões por queima de combustíveis fósseis no setor de transporte. Dependendo de como são produzidas, muitas formas de bioenergia são sustentáveis, até o etanol de milho.”

Além disso, essa versão do resumo também não diferenciava a produção estabelecida de bioenergia, uma realidade em alguns países, do uso experimental de tecnologias (as chamadas Beccs) que visam capturar e armazenar no solo o dióxido de carbono liberado pela queima ou fermentação de biomassa. Em tese, os Beccs poderiam parecer promissores, mas a versão inicial do resumo projetava que seriam necessários algumas centenas de milhões de hectares de terra no mundo para que essas tecnologias tivessem algum impacto na tentativa de frear o aquecimento global até 2050 – uma enormidade de terra, que poderia ser usada para plantar alimentos. “Nada indica que a produção de etanol no Brasil precise se expandir nesse ritmo para se manter competitiva”, afirma o engenheiro-agrônomo Luís Gustavo Barioni, da Embrapa Informática Agropecuária, de Campinas, um dos autores do capítulo sobre segurança alimentar e de uma seção sobre terra e bioenergia do novo documento do IPCC. Atualmente, a área plantada de cana no país é de 10 milhões de hectares, cerca de metade para produção de bioetanol e metade para acúcar.

Para desfazer essa visão generalista sobre a bioenergia que estava para ser divulgada no resumo para os tomadores de decisão, os pesquisadores brasileiros trocaram informações em tempo real, via grupos de WhatsApp, com funcionários do Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, que estavam em Brasília e em Genebra no início de agosto participando do processo final de redação do resumo executivo do relatório. A estratégia visava abastecer a delegação do Itamaraty com estudos científicos sobre a sustentabilidade da produção de bioenergia no país, que não coloca em risco a área destinada ao cultivo de alimentos.

O esforço deu resultado e o sumário se mostrou mais neutro, e em consonância com o tom do relatório, em relação ao papel dos biocombustíveis para mitigar as mudanças climáticas. “No último dia de negociação, a reunião na Suíça demorou 30 horas para chegarmos a um consenso”, conta Renato Domith Godinho, chefe da Divisão de Promoção da Energia do Itamaraty. “A Alemanha e a Suécia entenderam a nossa posição e nos apoiaram nas discussões”, comenta o meteorologista Humberto Barbosa, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que foi coordenador do capítulo sobre degradação da terra e também participou da redação final do sumário.

11 de setembro de 2019 0 comentários
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Notícias

Influência das práticas agropecuárias sustentáveis no consumo de carne no Brasil

por jornalismo-analytica 10 de setembro de 2019
escrito por jornalismo-analytica

Pesquisa da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) sobre o perfil do consumidor brasileiro mostra que mulheres com mais de 50 anos, renda elevada e grau de escolaridade superior são as que mais se preocupam com práticas sustentáveis relacionadas à criação de animais na hora de comprar carne. Trata-se de um nicho de mercado que valoriza a qualidade do produto em detrimento do preço e dá alta atenção às informações contidas nos rótulos. Grupos de consumidores como esse são capazes de motivar a expansão de práticas pecuárias sustentáveis que demonstrem cuidados com os animais, com o ambiente e com os trabalhadores envolvidos da produção.

O estudo, coordenado pela pesquisadora Marcela Vinholis com a participação dos pesquisadores  Waldomiro Barioni Júnior e Renata Tieko Nassu, foi apresentado durante a 64ª Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade Internacional de Biometria e 18º Simpósio de Estatística Aplicada à Experimentação Agronômica (RBras-Seagro), em Cuiabá (MT).

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores aplicaram 634 questionários, que resultaram em 402 respostas válidas. A sistematização e publicação foram realizadas recentemente. “Essa pesquisa pode representar uma oportunidade para a indústria de alimentos comunicar melhor o uso de práticas de produção ambientalmente mais sustentáveis como estratégia de diferenciação do produto no mercado brasileiro”, afirma Vinholis.

A pesquisa reconhece os consumidores como potenciais agentes de mudança. “Um comportamento mais responsável pode contribuir para o desenvolvimento sustentável”, explica a pesquisadora, lembrando que é importante continuar monitorando o comportamento dos consumidores para verificar se essas características se mantêm ao longo do tempo.

Rótulos estimulam consumo responsável

O estudo revela também que os consumidores buscam nos rótulos informações sobre a origem do produto. “A indústria que produz carne diferenciada precisa estar atenta para não poluir os rótulos com excesso de informações”, destaca a pesquisadora.

Resultados sugerem que os consumidores são receptivos a mensagens da indústria sobre os benefícios ambientais na compra de produtos oriundos de práticas de produção ambientalmente mais sustentáveis. “O uso de selos e certificações nos rótulos é uma das possíveis estratégias para sinalizar atributos diferenciais e estimular um comportamento de consumo mais responsável”, acredita a pesquisadora. Um eventual excesso de informações pode gerar confusão e tornar-se um obstáculo para a mudança de comportamento.

Produção sustentável é tendência no exterior

A pesquisadora Renata Nassu trabalha diretamente com a qualidade da carne. Engenheira de alimentos, além do conhecimento, ela desenvolveu uma curiosidade natural pelo assunto. Sempre que viaja, gosta de visitar supermercados e observar os padrões de compra de consumidores. Segundo ela, nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália, os consumidores se preocupam com a rastreabilidade e valorizam carne sem antibiótico e sem hormônios. Redes de supermercados especializados em produtos diferenciados se multiplicam e ganham cada vez mais adeptos na busca por produtos mais sustentáveis. Renata Nassu relembra um fato curioso que notou em suas viagens: a venda em supermercados da carne moída “de um boi só”, o que permite ao consumidor saber de onde veio o produto que está comprando. “No Brasil o padrão é misturar carnes de vários indivíduos, mas lá eles estão agregando valor com essa identificação. É uma questão de transparência”, conta. Em São Carlos (SP), de acordo com a pesquisadora, já é possível encontrar prateleiras inteiras de produtos diferenciados nos supermercados. “É um nicho em crescimento no Brasil”, revela.

Produção integrada para a pecuária 

De acordo com os pesquisadores, o fato de o Brasil ser um importante exportador de carne bovina gera demandas por adoção de práticas de produção mais sustentáveis e que minimizem o impacto ambiental associado à produção pecuária convencional e extensiva. O estudo cita como exemplo os sistemas integrados de produção, aqueles que situam em uma mesma área a pecuária, a lavoura e, em alguns casos, a floresta.

“A adoção dos sistemas de produção integrados tem sido recomendada e estimulada para a recuperação e renovação de pastagens degradadas”, frisa a pesquisadora. Ela conta que esse modelo ajuda ainda na manutenção e reconstituição de cobertura florestal, pois prevê o uso de boas práticas agropecuárias, adequação da unidade produtiva à legislação ambiental e maior diversificação da renda.

Saudáveis, mas ainda muito caros para grande parte da população

A pesquisadora Marcela Vinholis explica que as práticas de produção mais sustentáveis costumam ser mais caras porque envolvem uma gama de tecnologias, como os sistemas integrados entre lavoura, pecuária e floresta (ILPF), produção orgânica, entre outras. Além disso, segundo ela, a baixa escala de produção também impacta o valor de mercado.

Muitas vezes, a produção diferenciada ocorre em pequenas propriedades rurais, que não conseguem diluir o custo no volume de produção, como a produção em massa.

“No caso dos cultivos orgânicos, o alto custo dos produtos reflete também os gastos com insumos, como fertilizantes específicos permitidos para esse tipo de produção”, explica.

“Em todos os casos, trata-se de um aspecto da qualidade do produto a que chamamos de ‘crença’. Ou seja, o consumidor tem que acreditar que o produto foi produzido com práticas mais sustentáveis. Ele não consegue avaliar de forma objetiva no momento da compra ou do consumo”, explica a cientista, e completa: “É diferente de um indicador mais palpável, como aparência ou sabor, que ele consegue visualizar ou sentir”.

“Para resolver esse problema, a maioria desses produtos diferenciados envolve a certificação do processo de produção, que visa sinalizar e garantir ao consumidor que aquela informação é crível. Isso também infere um custo adicional ao processo”, pondera a pesquisadora.

Material obtido de Embrapa.

 

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Agrotóxico fungicida também pode atuar contra abelhas

por jornalismo-analytica 10 de setembro de 2019
escrito por jornalismo-analytica

Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, em parceria com cientistas da Universidade Federal de Viçosa (UFV), revelou que o cerconil, agrotóxico utilizado no Brasil para matar fungos, também pode ser letal para abelhas. O trabalho mostrou ainda que, mesmo aquelas que resistem inicialmente aos efeitos do produto químico, passam a se comportar como se estivessem mais velhas, indicando que não viverão por muito tempo.

Os resultados foram obtidos a partir do programa de computador desenvolvido por Jordão Natal durante seu mestrado na USP. O sistema analisou, durante 10 dias, o comportamento de 200 abelhas contaminadas com o fungicida, que é muito comum no combate a pragas de meloeiro e melancia. Elas foram colocadas junto a outras 800 abelhas saudáveis dentro de uma caixa cercada por vidros transparentes, onde câmeras registravam seus movimentos. Para diferenciar as abelhas saudáveis das contaminadas, uma marca com tinta foi feita nas costas das que ingeriram o agrotóxico. “Até o décimo dia, 65% das abelhas contaminadas haviam morrido. Já as que resistiram, tiveram seu comportamento alterado, aparentando estarem idosas, já que faziam atividades incompatíveis com a idade, como tarefas de limpeza e a procura por alimentos”, relata Natal, que teve sua pesquisa financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Vale ressaltar que as abelhas vivem, em média, 44 dias, ou seja, a maioria delas estaria morrendo antes de completar um quarto de suas vidas.

Algo que ajudou o sistema a interpretar essa grande quantidade de dados ao final do período analisado foi a localização das abelhas contaminadas dentro da caixa. A posição das polinizadoras tende a revelar em que fase da vida elas estão, pois, conforme elas envelhecem, se aproximam das extremidades. “O software foi capaz de monitorar as ações de cada uma das abelhas, o que é uma tarefa muito difícil, por serem animais de tamanho semelhante, que estão quase sempre em movimento e se cruzando rapidamente”, explica Carlos Maciel, professor do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação (SEL) da EESC e orientador da pesquisa. Apesar do desafio, o programa, que levou cerca de 10 meses para ser desenvolvido e captura até 30 fotos por segundo, apresentou um índice de 99% de precisão.

Contaminadas com doses não letais de cerconil no apiário da UFV, as abelhas utilizadas no estudo são da espécie Apis mellífera, a mais comum do mundo. “O que mais nos chocou foi descobrir que um fungicida até então inofensivo para abelhas se mostrou mais tóxico que o imidaclopride, inseticida considerado o grande vilão dos cultivos agrícolas. Os dados são preocupantes”, afirma Eugênio de Oliveira, professor de entomologia da UFV. Apesar de ainda não haver um entendimento sobre o motivo de o fungicida ter levado as abelhas à morte, o docente suspeita que o produto pode estar anulando os efeitos de enzimas responsáveis pela desintoxicação desses insetos.

No trabalho, os pesquisadores também analisaram o comportamento de abelhas que ingeriram o imidaclopride. Derivado da nicotina, o produto normalmente é aplicado em pomares, plantações de arroz, algodão e batata e, embora seja proibido em diversos países, seu uso ainda é permitido no Brasil. O software da USP mostrou que aproximadamente 52% das abelhas contaminadas com o agroquímico estavam mortas no décimo dia.

“A extinção das abelhas é uma preocupação global, pois se trata de um problema que não afeta apenas o meio ambiente, mas também a economia. Elas participam de boa parte da polinização de nossos alimentos, alguns deles, inclusive, polinizados exclusivamente por elas”, alerta Maciel, que também é pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Sistemas Autônomos Cooperativos (InSAC), sediado no SEL. Segundo o estudo realizado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), em parceria com a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (Rebipp), o valor do trabalho prestado pelos animais polinizadores à agricultura brasileira gira em torno de R$ 43 bilhões por ano. O levantamento considerou 67 cultivos, sendo que a soja, primeira colocada, responde por 60% do valor estimado, seguida pelo café (12%), laranja (5%) e maçã (4%).

Com a nova tecnologia criada na EESC, que já está pronta para ser utilizada no mercado, a missão de compreender o comportamento de animais que atuam de forma coletiva se tornou mais simples, pois toda interação entre esses organismos e o meio ambiente poderá ser “ensinada” para o computador em forma de algoritmos. “O que o sistema fez em semanas, nós levaríamos alguns anos para mensurar”, comemora Eugênio. Combinando técnicas de inteligência artificial e big data, o software desenvolvido conseguiu analisar dezenas de horas de vídeo, totalizando 700 gigabytes de material. A partir de agora, os pesquisadores pretendem estudar o comportamento de abelhas contaminadas com outros tipos de agrotóxicos, a fim de ampliar o entendimento a respeito dos efeitos desses produtos químicos.

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Experiência brasileira na recuperação de solos ácidos é referência para a Etiópia

por jornalismo-analytica 6 de setembro de 2019
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Autoridades do Ministério da Agricultura da Etiópia estiveram na sede da Embrapa nesta segunda-feira (2), em reunião com pesquisadores e o presidente substituto da Empresa, Cleber Soares. Na pauta principal do encontro, os desafios da produção agropecuária do país africano e como a ciência brasileira pode contribuir para o crescimento da produtividade do campo.

Outro assunto foi o projeto de apoio técnico relacionado ao manejo de solos ácidos, realidade que mais tem prejudicado a agricultura etíope e causado preocupação entre os produtores e o governo. A iniciativa está em fase final de ajustes entre a Embrapa e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), financiadora das ações que preveem orientação técnica, a partir da adoção de boas práticas de correção de solo com o uso de calcário.

Segundo o pesquisador da Embrapa Solos e líder do projeto, Vinícius Benites, há três anos a Empresa foi demandada pelo governo etíope, mas o escopo do projeto só foi definido em 2018, quando começou a se concretizar, com a ida de pesquisadores brasileiros ao local, para encontros com as equipes técnicas estrangeiras. Além da Embrapa e da ABC, a parceria inclui o Ethiopian Institute of Agricultural Research (Eiar), instituição de pesquisa vinculada ao Ministério da Agricultura da Etiópia.

“Durante uma das nossas idas ao país, o então ministro da Agricultura nos disse que gostaria de fazer pela Etiópia o que a Embrapa havia feito pelo Brasil”, comentou Benites. Segundo ele, vai ser mais fácil resolver o excesso de acidez do solo etíope do que foi no Cerrado brasileiro. “Mas é preciso que haja uma estrutura, logística adequada e uma indústria privada bem definida que dê suporte a todo esse trabalho”, alertou. “Não cabe à Embrapa, por exemplo, montar a estratégia de distribuição do calcário que será necessário. Para isso, será fundamental um esforço do governo local”.

Na opinião do pesquisador, diante dessa realidade, existe um potencial de contribuição de empresas brasileiras ligadas à indústria de calcário, interessadas em atuar fora do país. “E consequentemente, se abrir o mercado para calcário, haverá também um mercado para máquinas de aplicação e demandas para análise de solo, que poderão ser beneficiadas com a tecnologia da Embrapa”, disse.

Ainda durante a reunião com as autoridades, o presidente substituto Cleber Soares fez um relato da transformação do perfil brasileiro, ocorrida nos anos 70, quando o País deixou de ser importador para se tornar um dos líderes no ranking de produtividade e exportação de alimentos. “A revolução conduzida pela tecnologia no campo foi surpreendente, principalmente na região do Cerrado, que também enfrentava problemas com solos ácidos”, afirmou.

Mobilização

O diretor de Melhoramento da Fertilidade do Solo do Ministério da Etiópia, Tefera Solomon, destacou a expectativa do país de adotar estratégias que solucionem o problema. “A consequência tem sido o abandono do campo, principalmente pelos jovens, que buscam oportunidades na cidade”, lamentou. Atualmente, a alta acidez do solo afeta cerca de 3,5 milhões de hectares de terras agricultáveis no país. Uma força-tarefa e o Comitê Gestor para Promoção Nacional da Calagem estão mobilizados para elaborar recomendações políticas nos próximos quatro meses.

Além da Sede, a delegação da Etiópia participou de reuniões na Embrapa Cerrados, Embrapa Arroz e Feijão e Embrapa Solos, além de visitas a locais de extração de calcário e áreas recuperadas, com o objetivo de trocar experiências com produtores beneficiados.

No encontro na Sede também estiveram presentes o gerente de projetos da  ABC, Antônio Junqueira, e o chefe-adjunto de Pesquisa da Embrapa Cerrados, Marcelo Ayres.

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Genes potencialmente ligados à resistência do gado a variações ambientais são identificados

por jornalismo-analytica 5 de setembro de 2019
escrito por jornalismo-analytica

O período seco do ano, e a consequente queda na qualidade das pastagens, afeta consideravelmente a produtividade do gado no Brasil. Tal fato, somado a um cenário de mudanças climáticas, torna cada vez mais necessária a seleção de animais resistentes a variações nas condições ambientais.

Em um artigo publicado na revista Genetics Selection Evolution, pesquisadores do Brasil e da Austrália chegaram mais perto de responder a esse desafio.

Os cientistas encontraram 16 genes potencialmente associados com a resistência do gado Nelore – principal raça para a produção de carne no Brasil – a variações climáticas que afetam o ganho de peso. Os genes candidatos estão relacionados a processos biológicos como regeneração e diferenciação celular, resposta inflamatória e imunológica.
A pesquisa integra o Projeto Temático “Aspectos genéticos da qualidade, eficiência e sustentabilidade da produção de carne em animais da raça Nelore”, coordenado por Lucia Galvão de Albuquerque, professora da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV-Unesp) em Jaboticabal.
O trabalho foi realizado em parceria com pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália.
“Estudamos a interação entre genótipo e ambiente em gado Nelore com o objetivo específico de identificar animais menos sensíveis à variação ambiental. Sempre existiu uma preocupação em melhorar a média da produtividade dos animais, mas agora é preciso também identificar aqueles mais resistentes às mudanças no clima”, disse Carvalheiro, primeiro autor do artigo, que realizou parte do estudo em Queensland com apoio de Bolsa de Pesquisa no Exterior (BEP) da FAPESP.

“Essa deve ser uma preocupação sobretudo no Brasil, onde o gado é criado em pasto de diferentes tipos e em condições ambientais diversas. Ainda mais se levarmos em conta as mudanças climáticas globais”, disse.
Modelo de Normas de Reação

Para chegar aos 16 genes candidatos, os pesquisadores usaram o banco de dados da Aliança Nelore, que combina informações de diferentes programas genéticos da raça. O banco é mantido pela empresa GenSys, de Porto Alegre, com dados genéticos e fenotípicos de diferentes características produtivas avaliadas em mais de 1 milhão de animais, de cerca de 500 diferentes rebanhos do Brasil, Paraguai e Bolívia.

Para padronizar a análise, foram considerados apenas animais com pais e mães conhecidos, de grupos contemporâneos – nascidos no mesmo rebanho, ano e estação do ano, do mesmo sexo e criados em um mesmo sistema de manejo – com um mínimo de 20 animais. Todos tiveram ganho de peso entre 30 e 250 quilos do período do desmame (por volta de sete meses de idade) ao sobreano (17 meses de idade aproximadamente). No total, foram analisados 421.585 animais, de 9.934 grupos contemporâneos.

O conjunto de dados permitiu a análise da tolerância do gado não só por conta da quantidade de informações, mas também pela diversidade de condições ambientais e de manejo em que os animais avaliados são criados. A média anual de chuvas nas fazendas, por exemplo, pode variar de 700 a 3 mil milímetros anuais, dependendo da localização. A estação seca, em algumas regiões, pode durar mais de sete meses.

Trabalhos de pesquisa desta natureza, que contemplam a interação entre o genótipo e o ambiente, costumam adotar um índice que combina informações de temperatura e umidade para predizer a condição ambiental em que o animal foi criado. No entanto, segundo os pesquisadores, este índice é muito pouco preciso para predizer a qualidade nutricional do pasto, principal componente a afetar o desempenho dos animais no sistema de produção brasileiro.

“Quando inseminamos uma vaca, o bezerro só vai nascer depois de nove meses e meio e vai passar a produzir dois ou três anos depois. Conseguimos prever a quantidade de chuva daqui a duas semanas, mas não fazemos a menor ideia de como estará o pasto daquela fazenda daqui a dois anos. Por isso, queremos identificar os animais que não terão o desempenho tão afetado em uma condição inesperada”, disse Carvalheiro.

Para isso, o grupo avaliou o ganho de peso dos animais 10 meses após o desmame, uma das características mais afetadas pela variação ambiental e devidamente registrada no banco de dados. Normalmente, o desmame dos bezerros ocorre ao fim da época de fartura de pasto. O período avaliado, portanto, é justamente quando há um período de seca e de pastagens de má qualidade.

Após testar diferentes modelos estatísticos, os pesquisadores identificaram os chamados Modelos de Norma de Reação (RNM, na sigla em inglês) mais apropriados para analisar a sensibilidade à variação ambiental. A análise estatística mostrou que não é linear a associação entre as regiões do genoma e as condições ambientais – que no estudo foram classificadas em três categorias: desafiadora (pasto bem ruim), média (melhor, mas ainda não ideal) e boa (pasto muito bem cuidado, raro no Brasil).

“Genes que indicam boa resistência do gado a uma condição que vai de desafiadora a média não são os mesmos que prevalecem nos gradientes médio a bom”, explicou o pesquisador.

Resultados
As estatísticas mostraram que, em ambientes desafiadores, genes normalmente associados com resposta inflamatória aguda, processos de diferenciação celular e proliferação de queratinócitos – células que produzem queratina, a proteína encontrada na pele e nos pelos – parecem desempenhar um importante papel na sensibilidade do gado.

Em humanos e camundongos, por exemplo, o gene REG3A é associado com o reparo de ferimentos e com a homeostase da pele, contribuindo para a defesa do organismo. Outro gene da mesma família, o REG3G, está relacionado com a defesa antimicrobiana do intestino e estratégias para manutenção da simbiose do organismo com a microbiota intestinal, o que seria um fator de proteção durante restrições severas de alimento.
Por outro lado, os genes mais associados com a resistência a ambientes não tão desafiadores (médio a bom) estão relacionados com respostas imunes e inflamatórias. Os genes IL4 e IL13 mostraram ser os candidatos mais plausíveis para esse tipo de condição ambiental.

Eles compartilham uma gama de atividades em monócitos, células epiteliais e células B, ou seja, têm papel importante na defesa do organismo. Os genes já foram apontados em outros estudos, ainda, como relacionados à regulação do metabolismo de proteínas e à função muscular, entre outras questões metabólicas. No total, os 16 genes candidatos desempenham 104 processos biológicos diferentes.

Os resultados da pesquisa já podem ser aplicados nos rebanhos que abasteceram o banco de dados usado no estudo. Os touros que mostraram melhor desempenho em condições ambientais desafiadoras, por exemplo, podem ser selecionados como reprodutores e provavelmente terão descendentes mais resistentes às mudanças ambientais.
Ainda é necessário, porém, validar os resultados em outros rebanhos bovinos. Novos estudos devem verificar se os 16 genes candidatos também afetam a resistência à variação climática em uma população independente, de animais, que não fizeram parte da pesquisa, sejam Nelore ou de outras raças.

O artigo Unraveling genetic sensitivity of beef cattle to environmental variation under tropical conditions, de Carvalheiro, Roy Costilla, Haroldo H. R. Neves, Lucia G. Albuquerque, Stephen Moore e Ben J. Hayes, pode ser lido em: gsejournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12711-019-0470-x.

Material obtido de Agencia Fapesp.

5 de setembro de 2019 0 comentários
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Notícias

Controle natural de pragas do café foi monitorado por 4 anos em experimento em mudanças climáticas

por jornalismo-analytica 4 de setembro de 2019
escrito por jornalismo-analytica

O controle natural de bicho-mineiro, moscas-das-frutas e ácaros em cafeeiros sob aumento da concentração de CO2 em experimento FACE  (Free Air CO2 Enrichment), foram apresentados em 26 de junho, por Jeanne Scardini Marinho Prado, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP).

Experimentos desse tipo permitem estudar no em campo o efeito do aumento de gás carbônico na atmosfera sobre o desenvolvimento de plantas, o que abre uma gama de possibilidades para prospecção, avaliação e proposição de medidas de mitigação e adaptação.

De acordo com a pesquisadora, foram monitoradas as incidências naturais das pragas e a ação de potenciais inimigos naturais, explica a pesquisadora. “Observou-se nesse monitoramento a grande importância do controle natural de sobre algumas das importantes pragas do café. Não houve, entretanto, em nenhuma dessas avaliações, interferência do aumento de CO2 sobre a preferência das pragas avaliadas à infestação das plantas e nem dos inimigos naturais às pragas, nas duas cultivares de café”.,

Ainda conforme Jeanne, a ação dos inimigos naturais do bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) foi quantificada de 2012 a 2015, por meio de três formas: recuperação de parasitoides emergidos de minas foliares, análise de minas predadas e captura de himenópteros por armadilhas do tipo Moericke.

Como resultado, foram capturados e classificados 82 parasitoides de bicho-mineiro de folhas da cultivar Obatã (de sete espécies diferentes) e 120 indivíduos de folhas da cultivar Catuaí (de 10 espécies diferentes). Foi observada também uma alta porcentagem de minas predadas em ambos os tratamentos e nas duas cultivares.

“Por meio das armadilhas do tipo Moericke foram capturados e classificados insetos de 28 diferentes famílias, algumas delas de grande importância para o controle de pragas”, explica Jeanne.

“Além disso, foram coletadas e classificadas moscas-das-frutas emergidas dos frutos do café, com altas infestações em ambos os tratamentos, das duas cultivares, sendo Ceratitis capitata a espécie mais abundante. Os parasitoides emergidos dos frutos foram também quantificados e classificados em três anos de avaliação, sendo quase a totalidade de Utetes anastrephae”.

Os ácaros foram coletados 2012 a 2016, sendo classificados em 34 espécies presentes na cultivar Catuaí e 30 na Obatã. Dessas espécies, cerca de 33% eram de ácaros fitófagos e 32% de ácaros predadores. O aumento de CO2 atmosférico, entretanto, não afetou o controle biológico natural de ácaros e nem a diversidade desses em plantas de café.

Os dados apresentaram uma grande diversidade de inimigos naturais e espécies fitófagas de insetos e ácaros nas plantas de café, resultando em uma caracterização da fauna observada, que não sofreu com o aumento do CO2 atmosférico imposto no experimento FACE.

Material obtido de EMBRAPA.

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Manejo adequado na entressafra mantém fornecimento de açaí o ano todo

por jornalismo-analytica 2 de setembro de 2019
escrito por jornalismo-analytica

Com irrigação e adubação adequadas é possível reduzir em praticamente 100% a sazonalidade do açaí, fruto cuja safra vai de agosto a dezembro. Ao estabelecer um manejo adequado, pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental (PA) conseguiram manter a produção no período de entressafra nos açaizeiros de terra firme no estado do Pará.

“Nos plantios irrigados e adubados de acordo com as recomendações técnicas, a produção anual está distribuída quse igualmente na safra e entressafra, de 46% a 48% em cada”, explica o agrônomo João Tomé de Farias Neto, pesquisador da Embrapa. O cientista frisa que esse resultado é uma mudança drástica comparado à produção dos açaizais nativos de várzea, distribuída entre a safra, responsável por praticamente 90% da produção anual, e a entressafra (de janeiro a julho) que concentra, no máximo, 10% do volume produzido.

Nas áreas estudadas na região nordeste paraense, a irrigação diária por microaspersão deve ser concentrada em quatro meses no ano durante o período de estiagem, agosto a novembro ou setembro a dezembro, a depender da ocorrência de fenômenos climáticos. Para essa região, a pesquisa indica pelo menos 40 litros de água por touceira por dia no primeiro ano. A recomendação no segundo ano, são 60 litros diários de água por touceira. E a partir do terceiro ano, quando a palmeira começa a florescer e produzir frutos, é necessário aumentar substancialmente a oferta de água, para 120 litros por touceira a cada dia.

Produção variável na entressafra

Mas a pesquisa ainda enfrenta desafios, segundo revela o pesquisador Farias Neto. Um deles é a instabilidade de produção na entressafra. “Quando falamos em produção na entressafra não significa dizer que ela se dá ao longo dos seis meses de maneira linear. Em março e abril, por exemplo, há uma queda significativa na produção, chegando a praticamente zero”, relata.

As causas dessa instabilidade, de acordo com o especialista, ainda são desconhecidas. “Não sabemos ainda se é problema fisiológico, se é polinização, umidade relativa do ar. A pesquisa tem que avançar nesse sentido, estudar a fisiologia da planta.” Contudo, ele afirma que o primeiro passo já foi cumprido: plantar açaí em terra firme com irrigação e produzir na entressafra.

 

Produção saltou de cinco para 180 toneladas

De acordo com as estatísticas da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará (Sedap), o estado produz aproximadamente 1,2 milhão de toneladas do fruto anualmente, e tem uma área de produção de cerca de 219 mil hectares, entre açaí manejado de várzea e plantado em terra firme. Apesar de não haver ainda uma estatística segura em relação à quantidade de hectares de açaí de terra firme plantados atualmente no Pará e no Brasil, alguns produtores já concentram suas atividades nas regiões nordeste do estado, principalmente no município de Tomé-Açu; além do oeste do Pará, nos municípios de Óbidos e Alenquer; e plantios nos estados da Bahia e do Maranhão. “Alagoas e Goiás já demonstram interessem em plantar acaí”, revela.

É o caso do agricultor Shigueru Hiramizo, no município de Tomé-Açu, a 250 quilômetros de Belém. Ele tem 60 hectares de açaí de terra firme com irrigação em franca produção, com uma média de 12 a 14 toneladas por hectare ao ano.

Mas nem sempre foi assim. Ele planta açaí desde 1996 e no meio do caminho já teve muitas perdas. Nos primeiros anos do plantio, Hiramizo obtinha no máximo cinco toneladas ao ano em 30 hectares no período da entressafra. “Isso é praticamente zero”, conta o produtor. Com o início da irrigação por microaspersão, o salto de produção de um ano para outro foi radical: de cinco passou para 100 toneladas. E continuou crescendo, atingindo 180 toneladas no terceiro ano. “Sem irrigação é impossível produzir”, afirma.

 

Relação custo-benefício atraente

O custo de implantação de um hectare de açaí irrigado gira em torno de R$ 8 mil a R$ 10 mil. “Ainda é alto, mas o salto de produção é impressionante”, diz o o pesquisador Farias Neto. Ao definir os parâmetros de irrigação e adubação, a pesquisa mostra com exatidão a relação entre custo e benefício da atividade.

Em área de várzea, a produtividade média de açaí está em torno de quatro toneladas por hectare ao ano, com o manejo de mínimo impacto desenvolvido pela Embrapa. E em área de terra firme com adubação e irrigação, o produtor consegue alcançar 13 toneladas de frutos por hectare distribuídas ao longo do ano.

O pesquisador da Embrapa Alfredo Homma vem orientando estudos para estimar o custo operacional de produção de açaí irrigado de terra firme. O trabalho foi desenvolvido no município de Igarapé-Açu, nordeste paraense, e mostrou que o valor para a produção de uma lata do produto, cerca de 14 quilos do fruto in natura, gira entre R$ 10,00 e R$13,00, sem considerar o custo da extração efetuada pelo comprador. A análise leva em conta a produção em uma área de 30 hectares. Considerando que atualmente o custo da lata no período da entressafra chega a R$ 80,00, o ganho para o produtor é de mais de 400%, sem considerar os custos da implantação do projeto.

Entressafra é gargalo da cadeia produtiva

O açaí é um produto genuinamente paraense. Segundo dados de 2017 do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE), o Pará é o maior produtor de açaí do Brasil, respondendo por 98,3% da produção nacional. Em 2017, segundo a Sedap, foram comercializadas 137 mil toneladas de polpa, mixes e açaí liofilizado, proporcionando um acréscimo de 14,6% no volume em relação ao ano anterior.

Mesmo com tecnologia para o plantio de açaí em terra firme, quase 90% do açaí produzido no estado vem do extrativismo das áreas de várzea. E a sazonalidade tem forte efeito sobre o mercado local, que fica com 60% da produção total do estado. “O ribeirinho que extrai o açaí fica praticamente sem renda na entressafra. Além disso, essa escassez afeta também a segurança alimentar, já que o fruto é a base da alimentação da população das regiões ribeirinhas”, conta Farias Neto.

Outro dado ressaltado pelo agrônomo da Embrapa é que 50% dos processadores artesanais na cidade de Belém fecham suas portas em virtude da escassez e do preço do açaí no mercado no período da entressafra.

O empresário Nazareno Alves trabalha com o processamento de açaí, em Belém, há 14 anos. Atualmente possui uma cadeia de restaurantes onde comercializa o produto e planta açaí irrigado em terra firme no município de Igarapé-Açu, no nordeste do Pará.

Mesmo com a profissionalização do seu negócio, a entressafra ainda impacta negativamente na qualidade do produto que comercializa. “Para manter a oferta do açaí batido no restaurante, eu compro o fruto de áreas mais distantes que ainda produzem um pouco nesse período. Como ele tem que ser transportado já gelado, a qualidade é muito inferior. Além disso, tem o custo do atravessador que faz esse transporte”, relata o empresário.

Nazareno começou a plantar açaí em 2015 e logo no início teve prejuízo. “Plantei 50 hectares de uma só vez, e eu só não contava com o El Niño. Todas as plantas morreram. Foi um baita prejuízo”, relembra o empresário. Ele afirma ainda que há muitas lacunas de informação para a produção de açaí irrigado de terra firme. “Não é como a soja, o milho, o café, que já temos informação consolidada há muitos anos. Plantar açaí é uma nova agricultura”, reconhece.

Ele diz ainda que o único meio para resolver essa questão é o plantio de açaí em terra firme com irrigação. “A pesquisa agropecuária é fundamental nesse processo. É ela que nos fornece as informações mais seguras. Eu só plantei açaí pelo conhecimento que eu tive da Embrapa”, destaca o empresário.

Diante desse cenário, Nazareno Alves e outros produtores criaram, em junho deste ano, a Associação de Plantadores de Açaí Irrigado de Terra Firme do Brasil. É a primeira associação desse segmento e tem como objetivo trabalhar de forma cooperada para suprir a demanda de açaí na entressafra no Pará, que tem entre os maiores produtores o município de Igarapé-Miri, com cerca de 305,6 mil toneladas produzidas ao ano, respondendo por 28% de toda a produção do Brasil, seguido por Cametá, Abaetetuba, Bujaru e Portel.

“Nosso objetivo é organizar o setor produtivo e buscar parcerias que nos ajudem a fortalecer a cadeia produtiva do açaí irrigado em terra firme. Somos mais de 30 produtores e estamos empenhados, investindo, nos legalizando, pesquisando as melhores técnicas. Queremos abastecer os consumidores paraenses, o mercado externo no período da safra, mas principalmente da entressafra, quando falta o açaí”, projeta o empresário.

Uma cultivar de açaí “paidégua”

Desde 2003, o pesquisador João Tomé de Farias Neto trabalha com o melhoramento genético da cultura do açaí para a produção na entressafra e este ano vai lançar a cultivar (variedade cultivada) de açaizeiro de terra firme BRS Paidégua. O novo material tem alta produtividade o ano todo, frutos menores de acordo com a necessidade do mercado e maior rendimento de polpa.

Para lançar a nova cultivar de açaí de terra firme, o pesquisador mapeou no estado do Pará os municípios que apresentavam boa produtividade de açaí principalmente no primeiro semestre, quando é a entressafra. Desse mapeamento, a pesquisa coletou plantas nos municípios de Afuá, Chaves e Anajás.

As matrizes foram cultivadas no campo experimental da Embrapa em Tomé-Açu, no nordeste paraense, onde a pesquisa avaliou o comportamento delas em terra firme e a quantidade de água necessária ao longo das safras. A partir da seleção das 45 melhores plantas, foi desenvolvida a BRS Paidégua. “É uma cultivar para terra firme que produz na entressafra, com todas as orientações de manejo e irrigação”, conta João Tomé Neto.

Material obtido de Embrapa.

 

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Notícias

Melhora na Gestão de Resíduos Sólidos poderá beneficiar o Brasil

por jornalismo-analytica 2 de setembro de 2019
escrito por jornalismo-analytica

Minerais nobres, como o cobre, estão entre os materiais que podem ser retirados de eletrônicos descartados e reutilizados em novos celulares e computadores. Já o resíduo orgânico doméstico e o proveniente da agroindústria podem dar origem tanto a adubo natural como ao biogás e ao biometano e ser usados diretamente como combustível ou queimados para geração de energia elétrica.
Essa chamada economia circular, no entanto, depende de uma gestão adequada dos resíduos sólidos. Para isso, universidades, governos e empresas precisam trabalhar de forma integrada, criando tecnologias e políticas públicas adequadas.
A análise é de especialistas presentes no seminário “Ciência e a Gestão de Resíduos Sólidos”, ocorrido no dia 26 de agosto como parte do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação. Os eventos da série ocorrem uma vez ao mês na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e são resultado de uma parceria entre o Instituto do Legislativo Paulista (ILP) e a FAPESP.
Um dos campos mais promissores para a geração de energia a partir de resíduos é a agroindústria. Responsável por mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o setor também gera em grandes quantidades elementos que podem ser reaproveitados, como estrume de animais, bagaço, vinhaça e torta de filtro da cana-de-açúcar (subprodutos da indústria sucroalcooleira), entre outros.
“Só na produção de cana-de-açúcar, são gerados hoje 200 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano. Alguns têm uma destinação. O bagaço, por exemplo, nem pode ser considerado resíduo: é queimado para gerar energia elétrica para as próprias usinas, tornando-as autossuficientes”, disse Bruna de Souza Moraes, pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade Estadual de Campinas (Nipe-Unicamp).
A professora apresentou ainda outros exemplos no Brasil e no exterior de geração de energia a partir de resíduos da agroindústria, como o da cidade de Entre Rios do Oeste, no Paraná, que gera biometano com resíduos da criação de porcos. Depois dos dejetos serem colocados em um biodigestor, o gás gerado corre por uma rede de gasodutos e é queimado em uma minicentral termelétrica, movimentando um gerador e levando energia para a rede da cidade.
Quando se trata de eletroeletrônicos, o que hoje é um passivo ambiental também pode ser transformado em recursos. O lixo eletrônico tem grandes quantidades de metais que podem ser totalmente reutilizados, desde que sejam realizadas técnicas adequadas para a sua recuperação.
“Não é trivial fazer a reciclagem de eletroeletrônicos, que usam materiais cada vez mais raros na natureza. Então, o caminho natural é fazer essa recuperação”, disse Jorge Alberto Soares Tenório, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
O pesquisador lembrou que a produção de eletroeletrônicos consome hoje, por exemplo, 30% do cobre e mais de 80% do índio, metal usado em telas de smartphones, produzidos no mundo. As chamadas terras-raras, também usadas nesses equipamentos, existem hoje em apenas um país, a China.
“Se não recuperarmos esses minerais, eles vão se perder. A ideia, portanto, é realizar processos para criar uma economia circular para produzir esses bens que temos em mãos, como celulares, TVs e demais eletroeletrônicos”, disse Tenório, que em seu laboratório consegue recuperar atualmente até 10 diferentes materiais por meio de técnicas mecânicas, térmicas ou químicas.
Gestão
Um passo fundamental para que os resíduos possam ter uma destinação adequada foi a promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em 2010.
“Hoje, quem atua nessa área tem um norte, um direcionamento do que fazer inclusive em termos de pesquisa, tanto em nível de ciência quanto de tecnologia. Então, a Política Nacional de Resíduos Sólidos é um marco para quem estuda esse tema”, disse Valdir Schalch, professor da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP).
O pesquisador lembrou que 60% dos municípios brasileiros ainda têm lixões, nos quais os resíduos são despejados a céu aberto sem nenhum tratamento. O fim dos lixões era uma meta estabelecida para 2014, que acabou sendo estendida para 2021.
Na gestão dos resíduos sólidos, a parte mais onerosa para as prefeituras é a coleta, correspondente a 70% dos custos. Como estima-se que o Brasil gaste cerca de R$ 21 bilhões por ano com a gestão de resíduos, mais de R$ 14 bilhões iriam só para a coleta.
Com esse problema em vista, a RedeResíduo desenvolve, com auxílio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), um sistema inteligente que avisa, em um determinado perímetro, quais lixeiras estão cheias e quais estão vazias. Com esses dados, é possível traçar uma rota e evitar deslocamentos desnecessários, otimizando a coleta e gerando uma economia em torno de 30%.
“Estamos convivendo com algumas tendências mundiais de escassez de matéria-prima e recursos, ao mesmo tempo em que os custos de gestão ambiental são bem maiores. Se não inovarmos, vamos chegar ao mesmo lugar. E hoje esse local é o aterro sanitário, rios e mares poluídos cheios de plástico. O que vai fazer a diferença é tecnologia e inovação”, disse Francisco Luiz Biazini Filho, sócio da empresa. Material obtido de Agência Fapesp. 

 

2 de setembro de 2019 0 comentários
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