Quem controla o que comemos?
Por Grace Jenske*
O debate sobre o uso dos agrotóxicos, culturas agrícolas transgênicas, plantações orgânicas e a qualidade dos produtos alimentícios que consumimos aumentou exponencialmente nos últimos anos. Você sabe quem controla o que comemos? Como funciona este mercado que movimenta bilhões de dólares e impacta diretamente na vida e saúde da população? Existe um equilíbrio entre sustentabilidade e lucratividade?
Hoje, apenas quatro grandes conglomerados empresarias são responsáveis pela maior fatia do mercado de agrotóxicos e sementes. Segundo o Atlas do Agronegócio (2018), apenas três deles dominam mais de 60% do mercado de sementes comerciais e produtos químicos agrícolas. Na prática, sabe-se que quanto maior uma indústria, maior a influência que ela tem na criação de leis e políticas de um país. Ou seja: quem possui domínio sobre os agrotóxicos e patentes de culturas geneticamente modificadas, influência a agricultura e o mercado agrícola como um todo.
Um exemplo dessa influência é a aprovação por uma Comissão da Câmara de Deputados do Projeto de Lei 6.299/2002, conhecida como “PL do Veneno”, que propõe modificações no sistema de regulamentação do uso de agrotóxicos, seus componentes e afins no Brasil. A grande mudança da nova lei é a retirada de poderes de decisão de órgãos de saúde e meio ambiente no processo de registro dos defensivos agrícolas, reduzindo seu papel à simples homologação do uso desses produtos químicos. Sendo assim, se enfraquece significativamente os critérios para aprovação do uso de um novo agrotóxico.
Muitos defendem que as modificações na lei vão permitir que a agricultura brasileira se torne mais competitiva e que aumente a produtividade no campo, devido a modernização dos agrotóxicos utilizados. Porém, na prática, as novas tecnologias não são tão eficientes assim e acarretam em um grande impacto ao meio ambiente. O Atlas do Agronegócio (2018) aponta algumas consequências das novas tecnologias como a perda de fertilidade de solos, a redução de biodiversidade, as intoxicações em seres humanos, além da redução dos postos de trabalho no campo.
A palavra do momento neste assunto é equilíbrio. Precisamos entender nossa relação com o que estamos consumindo e os impactos que causam em nossa saúde e bem-estar. Precisamos monitorar a qualidade de águas, alimentos e solos. É necessário buscar gradualmente a redução do uso de agrotóxicos nas plantações e incentivar o desenvolvimento de alternativas sustentáveis para a agricultura e que sejam economicamente viáveis.
*Grace Jenske é Engenheira Química do Freitag Laboratórios