Microbiologia: Pseudomonas | Analytica 94
Por Claudio Kiyoshi Hirai*
As espécies do gênero Pseudomonas são bacilos gram-negativos não fermentadores, aeróbios, móveis e geralmente encontram-se aos pares. Vivem em ambientes variados, principalmente no solo, matéria orgânica em decomposição, vegetação e água, sendo também encontrada no ambiente hospitalar, distribuída em muitos reservatórios (alimentos, banheiros, pias, equipamentos de terapia, soluções desinfetantes, água destilada com micronutrientes, etc.) e têm necessidades nutricionais mínimas para sobrevivência, utilizando matéria orgânica como fonte de carbono e nitrogênio e carboidratos para seu metabolismo respiratório, sendo o oxigênio o aceptor terminal de elétrons.
Dificilmente o estado de portador da bactéria é estabelecido como microbiota normal no ser humano, com raras exceções. Pacientes imunocomprometidos por doenças de base ou por procedimentos cirúrgicos são mais suscetíveis a estes microrganismos
As Pseudomonas possuem citocromo oxidase, o que a diferencia das Enterobactérias (pelo teste da oxidase). A aparência em alguns casos, de cepas mucoides devem-se a presença de cápsula polissacarídica. Outras cepas produzem pigmento difusíveis (ex. piocianina [azul], piorrubina [vermelho-marrom] e fluoresceína [amarelo]).
Essas bactérias são responsáveis por um importante problema de saúde pública, pela sua morbidade, frequência, mortalidade e custo de tratamento. São reconhecidas pela alta resistência a todas as classes de antibióticos e a capacidade de desenvolver novos mecanismos de defesa, principalmente por mutação.
Devido a estes fatores, possui alta resistência a terapias antibióticas. É considerado patógeno oportunista, haja vista que em condições normais, nosso organismo consegue combatê-lo.
O gênero Pseudomonas é composto por 10 espécies, sendo a Pseudomonas aeruginosa de maior importância clínica, por apresentarem vários fatores estruturais e toxinas que estimulam o potencial de virulência do microrganismo. O período de incubação de Pseudomonas aeruginosa é apenas 1-3 dias.
A piocianina é um pigmento azul que catalisa a produção de radicais tóxicos de oxigênio (ex.: peróxido de hidrogênio) causando dano tissular, além de aumentar a liberação de IL-8, aumentando a resposta inflamatória pela atração de neutrófilos.
Resistência bacteriana é muito importante nessa espécie de Pseudomonas, já que pode sofrer mutações durante ao tratamento, desenvolvendo cepas mais resistentes ao antibiótico. A mutação das porinas é o mecanismo mais importante, impedindo assim a entrada de antibióticos para dentro da célula, evitando o efeito do fármaco.
No Brasil, a P. aeruginosa é uma das principais causas de infecção hospitalar, principalmente em pacientes imunocomprometidos.
Considerando as poucas exigências nutricionais das Pseudomonas, estas crescem facilmente em meios de cultura simples, como ágar sangue e MacConkey. Precisam de incubação em aerobiose (exceto quando há nitrato disponível), apresentando crescimento na superfície da placa, onde há maior concentração de O2.
Para identificação, observa-se crescimento rápido, colônias planas com borda em difusão, β-hemólise, pigmentação esverdeada devido a produção de pigmentos piocianina (azul) e fluoresceina (amarelo), odor doce (semelhante a uva). Existem muitos testes fisiológicos que podem ser necessários para identificação de outras pseudomonas.
Eliminação das pseudomonas do ambiente é quase impossível, devido a sua presença em todos os lugares. Prevenção de contaminação de materiais estéreis e cuidados com a contaminação cruzada (entre pacientes e equipe de profissionais de saúde) podem ser práticas efetivas para o controle da infecção, além de evitar o uso inapropriado e descontrolado de antibióticos para impedir que se desenvolvam mais cepas resistentes de pseudomonas e evitar a supressão da microbiota normal.
Burkholderia
Este gênero de bacilos gram negativos não fermentadores são aeróbios estritos. São resistentes a polimixina, porém sensíveis a tetraciclinas, cloranfenicol, amoxicilina e cefalosporinas. As duas espécies mais frequentes como patógenos em humanos são:
B. pseudomallei B. cepacea
Estas podem causar infecções oportunistas no trato respiratório, infecção no trato urinário (com uso de cateteres) e sepse (coagulação intravascular disseminada).
As espécies B. Mallei e B. gladioli raramente são associadas a doenças do ser humano.
Assim como as Pseudomonas, a B. cepacea (que é um complexo de 9 espécies) tem facilidade de multiplicação em superfícies úmidas, podendo estar associadas a infecções nasocromiais, dentre outras, principalmente quando o indivíduo se apresentar imunocomprometido. Apresenta lisina descarboxilase positivo, motilidade e oxidase pouco positiva. O teste de oxidação/fermentação de glicose e redução de nitratos são positivos.
B. pseudomallei é um saprófito encontrado no solo, água e plantas. Provoca infecção oportunista chamada de milioidose, que pode ocorrer em pessoas previamente sadias de forma aguda e supurativa ou como uma infecção crônica pulmonar.
Stenotrophomonas maltophilia
Esta bactéria é responsável pelas infecções em pacientes debilitados e com mecanismos de defesa comprometidos. É um bacilo gram negativo aeróbio estrito, sendo a única espécie do gênero. Possui pigmentos amarelo pálido ou esverdeado lavanda. Patógeno importante na infecção hospitalar, causador de várias doenças como pneumonia, bacteremia, endocardite, colangite, ITU, meningite, infecções de feridas (principalmente em pacientes com câncer). Pode ser isolado em sangue, lesões pele e secreções de vias aéreas.
Podem ser distinguidas de pseudomonas pelos testes de Lisina descarboxilase e DNase positivas e oxidase negativa. Reação de oxidação de glicose fraca, e maltose e lactose fortemente positivas.
Moraxella catarrhalis
São diplococos Gram negativos aeróbios estritos, oxidase positivos, que fazem parte da microbiota normal do trato respiratório superior. São em oito espécies, possuem meio de cultura específicos, colônias rosas opacas e imóveis não saprofíticos. Podem causar bacteremia, conjuntivite, meningite e endocardite, sendo causa comum de bonquite e broncopneumonia.
Acinetobacter baumannii
Cocobacilo gram-negativo (geralmente em forma diplocóica) aeróbio estrito. Estão presentes na água, solo úmido, microbiota normal humana (pele – raro em gram-negativos -, conjuntiva, nariz, faringe) e também no ambiente hospitalar. São microrganismos oportunistas que podem ser causadores de infecções no trato respiratório, urinário e feridas, além de causarem também a sepse.
A. Baumannii é resistente a penicilina, ampicilina, cefalotina, cloranfenicol e minoglicosideos. Mostra-se sensível a quinolonas, amoxilina e a sulfametoxonazol-trimetoprima. Pode ser cultivado em ágar MacConkey. Caracteriza-se como sacarolítica por apresentar-se negativamente para as reações de oxidade, motilidade, indol, lisina descarboxilase, esculina, urease e redução de nitrato.
*Claudio Kiyoshi Hirai é farmacêutico bioquímico, diretor científico da BCQ consultoria e qualidade, membro da American Society of Microbiology e membro do CTT de microbiologia da Farmacopeia Brasileira.
Telefone: 11 5539 6719
E-mail: técnica@bcq.com.br