Importados representam 40% do volume de produtos químicos de uso industrial comercializados no Brasil
Material reproduzido de: ABIQUIM
Perda de competitividade da indústria nacional se intensifica entre abril e junho e importados registram maior patamar no consumo interno
Nos últimos 12 meses, encerrados em junho deste ano, a importação de produtos químicos de uso industrial representou 40% do mercado doméstico, segundo dados levantados pela Associação Brasileira da Indústria Química – Abiquim. O volume é um novo recorde negativo para o setor desde 1990, quando o levantamento foi iniciado.
A evolução dos importados nos últimos 30 anos mostra a perda de competitividade da indústria química nacional, com maior gravidade na última década: em 1990 os produtos importados representavam 7% do consumo aparente nacional (CAN), que mede a produção mais importação menos exportação; em 1995 os importados representavam 14%; em 2000 o índice era de 21%; em 2005 24%; em 2010 chegou a 29%; e desde 2013 quando o índice alcançou 34%, os importados passaram a representar mais de 30% do consumo interno.
A situação é agravada pelo declínio da demanda por produtos químicos de uso industrial no mercado nacional. Além do aumento do volume de produtos importados comercializados no Brasil, a demanda por produtos químicos de uso industrial, medida pelo consumo aparente nacional apresentou resultado negativo no 1º semestre de 2019, na comparação com igual período do ano anterior, registrando declínio de 5% e refletindo o desempenho ruim de diversas cadeias industriais atendidas pela química.
Segundo a diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira, tradicionalmente, o segundo trimestre do ano apresenta resultados melhores do que aqueles verificados nos primeiros três meses do ano, mas esse ano foi exceção. No primeiro semestre deste ano, o índice de produção caiu 1,52% em comparação com o mesmo período de 2018, registrando o pior resultado em 10 anos.
“Os custos médios de produção no mercado interno foram afetados pelo aumento nos preços de matérias-primas básicas do setor e que acompanharam o preço praticado no mercado externo, como o petróleo que subiu 13,9% e a nafta que teve uma elevação de 1,6% – nos seis primeiros meses do ano, agregado com a baixa ocupação das instalações, que impactou substancialmente os resultados dos índices de operação das plantas. Soma-se, ainda, o elevado custo da energia, bem como as deficiências logísticas e a alta carga tributária, que também impactaram a química. Dessa forma, a produção local vem perdendo espaço para o produto importado e gerando riqueza lá fora”, analisa Fátima.
Também como resultado do aumento da participação dos importados e do recuo da demanda, houve elevação da ociosidade no setor, com forte recuo do índice de utilização da capacidade instalada, considerado importante parâmetro de competitividade, que ficou em apenas 71% nos primeiros seis meses do ano, quatro pontos abaixo do patamar registrado em igual período do ano passado.
A diretora da Abiquim explica que o momento atual é delicado para o País, sobretudo para quem depende de óleo e de seus derivados. “Nos últimos anos, a importação do metanol e da uréia, por exemplo, vem crescendo de forma expressiva, tendo sido a fabricação local desses produtos foi afetada pela falta de competitividade da principal matéria-prima (gás natural) no mercado nacional. Nesse cenário, o Programa Novo Mercado de Gás pode aumentar a concorrência e permitir que o setor tenha acesso à matéria-prima e energia com preços mais competitivos em relação ao mercado internacional. Apesar de os resultados do setor estarem na contramão, as expectativas são muito favoráveis, especialmente para o médio prazo em diante”.