A caminho da indústria 3.0
Muito se discutiu nesse 2019 sobre a quarta revolução industrial. Tanto se fala do tema que 4.0 virou sinônimo de algo moderno ou avançado. Diversos eventos procuraram debater o tema e os caminhos (e os descaminhos) para seguir mais rapidamente nessa direção. O assunto foi tratado de diversas maneiras no Metrologia2019, congresso organizado pela Sociedade Brasileira de Metrologia com o apoio do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro e o Instituto de Radioproteção e Dosimetria – IRD. “Metrologia para a indústria 4.0” foi o moto do evento, realizado em Florianópolis entre 24 a 27 de novembro de 2019.
O tema perpassou discussões desde cibersegurança e tratamento de dados em larga escala na Metrologia Legal, a evolução de tecnologias para medições em sistemas remotos ou em sistemas ciberfísicos. Buscou apresentar avanços nas áreas de saúde e química, com apresentações sobre terapias fotodinâmicas a crescimento artificial de tecidos e pesquisas na área de cosméticos, que ressaltaram a importância da metrologia para a evolução das pesquisas. Destacaram-se os avanços e a primordial importância da metrologia na indústria de defesa e na consolidação de órgãos devotados à metrologia nas forças armadas. A presidente do Inmetro Ângela Flores Furtado destacou o papel da instituição, tanto no suporte ao desenvolvimento da indústria de ponta como dos desenvolvimentos de aplicações de bigdata na Metrologia Legal.
Mas, apesar de todo esse esforço na busca de compreender os processos necessários para que o país assuma uma posição central na cena industrial, o sinal amarelo acendeu. Sondagem realizada pela FIESP junto a 417 empresas paulistas mostra um quadro preocupante. Apesar de na sondagem de 2019 perto de ¾ das companhias pesquisadas já ter ouvido falar de indústria 4.0, um aumento de 7% em relação a 2017, o investimento em tecnologias 4.0 é pífio, estagnado em 1,3%, e o número de empresas que se julgam muito preparadas para a indústria 4.0 caiu de 5% para 3%, de 2017 para 2019. Ou seja, 97 % das empresas não se julga preparada. Em 2015, a posição do Brasil no ranking de uso de robôs industriais para cada 10 mil trabalhadores mostrava uma realidade muito preocupante. Enquanto nos países industrializados esse número flutuava acima de 200, com a Coreia chegando a 531, no Brasil era de 11, conforme outro estudo da FIESP.
Um elemento chave para explicar esse retrocesso, além da crescente desindustrialização do Brasil, que chega ao nível mais baixo em 73 anos, é o desmonte da indústria de microeletrônica ocorrido no país, essencial à quarta revolução. Além da falta de recursos para investimento e de dúvidas sobre a relação custo-benefício, outro fator que chama a atenção para o atraso é, conforme declaram as empresas, a falta de capacitação dos funcionários. Ou seja, investir em educação é um dos principais desafios.
Conforme discutido exaustivamente no Metrologia2019, onde inclusive foram lançados dois novos livros voltados para a formação básica em disciplinas de tecnologia industrial básica, a formação de profissionais com competência em metrologia é base para o desenvolvimento necessário. Esse é papel que a Sociedade Brasileira de Metrologia tem assumido nesses últimos anos. A partir do fortalecimento da Escola Nacional de Tecnologia Industrial Básica – ENTIB, diversos cursos têm sido ofertados. Perto de 130 cursos foram realizados em 2019, um aumento de perto de 30% em relação a 2018. Passamos a ofertar, em parceria com a Universidade Católica de Petrópolis, um curso de Especialização em Metrologia.
Mas é importante ouvir a indústria e construir fóruns para que essa possa se posicionar melhor e ter mais contato com as políticas públicas e os casos de sucesso. Isso é fator de impulsionamento na implantação de novas ferramentas e construção de novos procedimentos. Para isso, a SBM marcou para os dias 02 e 03 de julho de 2020 o “MQ2I4.0 – Metrologia e Qualidade: apoio à inovação na Indústria 4.0” (https://www.mq2i.org.br/site/ ), que reunirá líderes empresarias e gestores públicos, buscando responder melhor aos desafios pontuados pela empresas. Mais uma vez, frente a todo esse cenário de dúvidas e incertezas, devemos trabalhar mais, fortalecer canais de articulação e cooperação para impulsionar o Brasil para o salto que lhe é exigido.
< Artigo disponível na íntegra na Revista Analytica Ed 104 >