Curso Técnico em Segurança Cibernética: Formando Mão-de-Obra para a Indústria 4.0 no Brasil
Por Ewerton Longoni Madruga
Os processos industriais passam por uma transformação importante. Estes processos estão gradualmente baseando-se em recursos digitais e virtuais para produção. O surgimento do que se convencionou chamar Indústria 4.0 [CNI 2017] vem transformando a produção industrial com novos processos, produtos e modelos de negócios impensáveis há alguns poucos anos. Esse fenômeno, assim batizado em referência à 4ª Revolução Industrial, promete tornar os modelos convencionais de produção gradualmente ineficientes.
A Indústria 4.0 tem como uma das principais características a incorporação da digitalização à atividade industrial, integrando componentes físicos e virtuais no que tem sido chamado de sistemas ciberfísicos: inteligência artificial, computação em nuvem, big data, internet das coisas, etc.
Dispositivos localizados em diferentes unidades produtivas, inclusive de empresas diferentes, podem trocar informações instantaneamente sobre compras e estoques. Isso proporciona uma otimização logística por meio do estabelecimento da integração entre fornecedores, empresas e clientes, ou seja, possibilita uma maior Integração Horizontal da produção.
Assim, em um contexto onde a verticalização da produção dá lugar à maior interação entre unidades produtivas quem pertençam a instituições distintas é imperativo nos darmos conta dos novos obstáculos. O fornecedor de uma empresa hoje pode, por exemplo, tornar-se um concorrente no futuro próximo após coleta silenciosa de inteligência. Ademais, a necessidade de conectividade com pares distintos localizados em locais geograficamente e administrativamente distintos abre a possibilidade de ataques aos sistemas de produção.
Sistemas ciberfísicos precisam de proteção. Desta maneira, não é surpresa que segurança cibernética seja uma disciplina que surge trazendo à tona a preocupação com várias áreas da informática atual: engenharia de software, sistemas operacionais, redes de computadores, banco de dados, etc.
Enquanto segurança cibernética é um curso multidisciplinar que envolve aspectos de direito, fatores humanos, ética e gestão de risco, é na sua base fundamentalmente um curso de computação. A preocupação com formação de mão de obra qualificada nesta área é tamanha que duas das mais prestigiosas associações mundiais de profissionais da engenharia e computação propõem um currículo de formação de profissionais [ACM/IEEE 2017]. Este currículo, além da base de informática, precisa ter a ênfase em ensinar a ética e a conduta profissional, fatores preponderantes para colocação no mercado de trabalho.
Dentro do Inmetro, a Diretoria de Metrologia Científica (Dimci) e a Diretoria de Metrologia Legal (Dimel) estão envolvidas em programas de homologação de sistemas cibernéticos em diversas áreas. Estes sistemas nas suas versões mais atuais são essencialmente dispositivos embarcados baseados em redes de sensores, que, portanto, utilizam software para comunicação de informação legalmente relevantes, como por exemplo medidores de energia elétrica.
Sistemas embarcados deste tipo necessitam utilizar criptografia para a manutenção da integridade da informação trocada entre pares da rede, uso de autenticação para identificação de pares e garantia de confidencialidade. Assim, existe há alguns anos uma demanda interna para profissionais que dão apoio ao processo de homologação de sistemas embarcados. Entretanto, é claro que um profissional que recebe capacitação na área de segurança da informação em sistemas cibernéticos adquire habilidades que atendem demandas de outros setores da economia fortemente tecnológica.
Embora muito seja debatido a respeito do momento em que o assunto de segurança cibernética deva ser incluído em cursos de graduação, é nosso ponto de vista que o assunto seja ensinado já no ensino médio. A área de segurança da informação pressupõe um modo de pensar fortemente baseado em elaboração de estratégias de ataque e defesa. Além de ter um conhecimento teórico e prático no uso de componentes, o profissional bem-sucedido precisa antever os passos dos seus adversários. O trabalho deste profissional é uma constante partida de xadrez, com vários adversários em paralelo. Ensinar esta forma de pensar desde cedo é muito importante.
Para finalizar, é importante ressaltar o compromisso do Inmetro com a indústria brasileira. Há vários anos o Inmetro traz educação para profissionais de nível secundário com cursos técnicos de metrologia e qualidade industrial. Justamente neste momento de transformação gradual nos processos produtivos, é imperioso que o governo federal e suas várias autarquias dêem a sua contribuição também na elaboração de um currículo de formação de mão de obra qualificada com o que está por vir. É por esta razão que o Inmetro agora inicia uma nova fase, com seu curso técnico em Segurança Cibernética.
Referências:
- [ACM/IEEE 2017] Association for Computing Machinery(ACM), IEEE Computer Society. Curriculum Guidelines for Post-Secondary Degree Programs in Cybersecurity, 2017.
- [CNI 2017] Confederação Nacional da Indústria. Oportunidades para a indústria 4.0: Aspectos da demanda e oferta no Brasil / Confederação Nacional da Indústria. – Brasília, 2017.
Ewerton Longoni Madruga é Pesquisador do Instituto Nacional de Metrologia Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).