Revista Analytica
  • Artigo científico
  • Em foco
  • Eventos
  • Leia a Analytica
  • Notícias
  • Sobre
    • Assine a Revista Analytica
    • Expediente
    • Anuncie
    • Publique na Analytica
Revista Analytica
  • Artigo científico
  • Em foco
  • Eventos
  • Leia a Analytica
  • Notícias
  • Sobre
    • Assine a Revista Analytica
    • Expediente
    • Anuncie
    • Publique na Analytica
Revista Analytica
Revista Analytica
  • Artigo científico
  • Em foco
  • Eventos
  • Leia a Analytica
  • Notícias
  • Sobre
    • Assine a Revista Analytica
    • Expediente
    • Anuncie
    • Publique na Analytica
©2022 All Right Reserved. Designed and Developed by FCDesign
Tag:

Agência FAPESP

Notícias

Tratamento com fumaça pode favorecer a germinação de sementes do Cerrado

por jornalismo-analytica 30 de julho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

As plantas do Cerrado evoluíram, ao longo de milhares de anos, na presença de queimadas espontâneas. O efeito da fumaça na germinação de sementes de 44 espécies vegetais típicas desse bioma foi tema de pesquisa publicada por cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) no periódico Plant Ecology. Segundo os autores, os resultados poderão ser utilizados para otimizar a restauração de áreas degradadas.

O estudo foi conduzido pelo doutorando Gabriel Schmidt Teixeira Motta, sob a orientação da professora da Unesp Rosana Marta Kolb.

“Pesquisas anteriores investigaram a ação da fumaça sobre algumas poucas espécies, mas o levantamento feito neste estudo é o mais completo já realizado no Cerrado. O Gabriel avaliou o efeito da fumaça na germinação de 44 espécies do estrato herbáceo-arbustivo do bioma, envolvendo gramíneas, outras ervas [não gramíneas], subarbustos e arbustos”, diz Kolb.

A pesquisadora informa que a fumaça contém centenas de substâncias, que podem favorecer ou prejudicar a germinação de sementes, dependendo das espécies. As mais conhecidas delas são as carriquinas, reguladores da germinação e do crescimento encontrados na queima de material vegetal. As carriquinas interagem com os hormônios das plantas, promovendo a germinação de certas sementes e inibindo o desenvolvimento de outras.

“Como a pesquisa feita diretamente com fumaça gasosa envolve variáveis difíceis de replicar, optamos por utilizar ‘água de fumaça’ disponibilizada comercialmente. Ela produz um efeito equivalente ao da chuva depois da queimada. E sua ação pode ser facilmente reproduzida por outros pesquisadores”, explica Kolb. E conta que, em seu laboratório, foram empregadas duas concentrações de “água de fumaça”: 2,5% e 5,0%.

Aplicações práticas

O estudo em pauta enfocou o efeito individual das duas concentrações de água de fumaça na germinação das sementes das 44 espécies, sem se preocupar com a definição de estratégias de manejo. Mas as aplicações práticas são óbvias: sementes que respondem bem poderão ser semeadas em áreas que sofreram a ação do fogo ou ainda previamente tratadas com “água de fumaça”, na concentração adequada, antes da semeadura em campo, em áreas degradadas por pecuária e outros usos do solo. “Verificamos que, não apenas as plantas típicas de savanas, mas até mesmo algumas espécies de campos úmidos, que não evoluíram na presença de fogo intenso e frequente, responderam bem ao tratamento com fumaça”, destaca Kolb.

Das 44 espécies estudadas, 14 delas (32% do total) mostraram aumento na germinação em resposta à fumaça, com variações dependendo da concentração. Por outro lado, quatro espécies (9% do total) exibiram uma redução significativa na germinação, particularmente na concentração mais alta, de 5%. As gramíneas, em especial, germinaram mais rapidamente em resposta à fumaça, com destaque para Ctenium polystachyum e Saccharum villosum, que apresentaram redução substancial no tempo médio de germinação após tratamento com “água de fumaça”.

“Os resultados indicam que a fumaça pode atuar como um estímulo importante para a germinação em algumas espécies do Cerrado, oferecendo uma vantagem competitiva no ambiente pós-fogo. A pesquisa sugere que as respostas à fumaça são altamente específicas para cada espécie e variam de acordo com a forma de crescimento e o tipo de comunidade vegetal”, resume Kolb.

Além de Motta e Kolb, Natashi Pilon e Alessandra Fidelis participaram do estudo. A pesquisa recebeu apoio da FAPESP por meio do projeto “Atributos adaptativos ao fogo de sementes de espécies do Cerrado”, coordenado por Fidelis, e da bolsa de pós-doutorado concedida a Pilon.

O artigo Smoke Effects on the Germination of Cerrado Species pode ser acessado em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11258-024-01427-4.

Matéria – José Tadeu Arantes | Agência FAPESP
Imagem – Vista do Cerrado após passagem do fogo (foto: Rosana Marta Kolb/Unesp)

30 de julho de 2024 0 comentários
0 FacebookTwitterPinterestEmail
Notícias

Coral invasor é resistente a compostos biocidas usados em tintas de navios e plataformas, revela estudo

por jornalismo-analytica 24 de julho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Fazer com que navios e plataformas de petróleo durem mais e, ao mesmo tempo, não poluam o meio ambiente é um grande desafio. Por isso, substâncias antimicrobianas têm sido misturadas às tintas aplicadas nesses locais que ficarão submersos para evitar a adesão de animais aquáticos, principalmente em áreas com alto tráfego de embarcações.

Em estudo divulgado na revista Toxics, pesquisadores observaram que indivíduos adultos da espécie Tubastraea coccinea, popularmente conhecida como coral-sol, são resistentes a nanocápsulas à base de DCOIT (4,5-Dicloro-2-octilisotiazol-3(2H)-ona), um dos biocidas anti-incrustantes mais utilizados no mundo depois que as tintas que tinham estanho e metais pesados na composição, como cobre e zinco, foram proibidas por causa da sua alta toxicidade para os animais marinhos.

Isso ajuda a explicar por que essa espécie, considerada invasora, se espalhou de forma tão consistente por cerca de 3,5 mil quilômetros do litoral brasileiro nos últimos anos, além do fato de não haver um predador natural por aqui.

A descoberta é importante porque ajuda a entender o comportamento do animal no oceano Atlântico, já que a espécie veio dos oceanos Pacífico e Índico. Além disso, outros estudos feitos sobre essas substâncias anti-incrustantes geralmente envolvem organismos de águas temperadas ou frias, não havendo dados disponíveis sobre espécies de corais.

Como o DCOIT é altamente tóxico, os pesquisadores têm testado várias formas de utilizá-lo. Materiais desenvolvidos com nanoengenharia estão ajudando a controlar a sua taxa de liberação e reduzir o risco aos organismos aquáticos. Entre os principais resultados, o estudo mostra que a versão revestida com prata (SiNC-DCOIT-Ag) pode ser promissora em relação às demais, que ainda estão em avaliação pelo grupo de pesquisa.

O trabalho é liderado pelo professor Denis Moledo de Souza Abessa, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Poluição e Ecotoxicologia Aquática (Nepea) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de São Vicente. Também envolve pesquisadores do Instituto Oceanográfico (IO) e do Centro de Biologia Marinha (CEBIMar) da Universidade de São Paulo (USP), além do professor Roberto Martins, da Universidade de Aveiro, em Portugal.

Os estudos do grupo receberam financiamento no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP. O trabalho teve ainda entre os autores Isabela Martins e Kátia Cristina Cruz Capel, bolsista de pós-doutorado.

Inovação

O grupo de pesquisa tem estudado como desenvolver tintas mais eficazes, tanto para águas tropicais quanto temperadas. A tecnologia está sendo desenvolvida em parceria com a empresa portuguesa Smallmatek, mas ainda não há previsão para que os produtos cheguem ao mercado.

“A ideia é criar uma tinta que já tenha o anti-incrustante e um anticorrosivo, para aliar a questão econômica à proteção do meio ambiente. A gente tem um ganho econômico, pois a tinta é mais eficiente, mas também um ganho ecológico, ao evitar a incrustação de espécies potencialmente invasoras e redução da liberação de contaminantes tóxicos na água do mar”, destaca Abessa.

“O nosso grupo de pesquisa continuará focado na avaliação da toxicidade, periculosidade e risco desses produtos no ambiente marinho, para ajudarmos a confirmar que se trata de compostos realmente seguros. O que temos demonstrado é que algumas dessas soluções podem e devem ser melhoradas”, acrescenta o professor Martins.

De acordo com o pesquisador português, o diferencial das novas tecnologias em relação às já disponíveis no mercado está na liberação controlada, trazida pelos nanomateriais. “Proporciona uma eficácia superior, mais duradoura e com menores impactos adversos, resultando em tintas mais eficientes e amigas do meio ambiente”, afirma.

Aqui no Brasil, o grupo da Unesp analisou exemplares de coral-sol coletados nos rochedos do arquipélago de Alcatrazes, em São Paulo. A invasão da espécie altera o ecossistema marinho e afeta atividades econômicas fundamentais, como a pesca e o turismo, além de impactar os modos de vida das populações tradicionais. Isso acontece porque, como é um bom competidor, o coral-sol acaba interferindo na ocorrência das outras espécies nativas, eliminando-as do ambiente marinho e, assim, ocupando os seus espaços nos recifes rochosos ou coralíneos.

Segundo Abessa, os testes mostram que o coral-sol adulto é bastante resistente às substâncias que utilizam o DCOIT, nas formas livre e nanoestruturadas, mas ainda não ficou claro se as larvas também são resistentes a esses produtos, por isso, são necessários novos testes. Os pesquisadores também esperam analisar o tempo de exposição ao material, para saber se em períodos maiores o resultado seria o mesmo.

“Nós entendemos que, se você pintar um navio com essa tinta contendo biocida, pode não mudar nada para o coral-sol. Ele vai incrustar lá, será transportado com o navio e colonizará outro lugar. O nosso objetivo era entender como essas substâncias à base de DCOIT agiriam nesse coral, porque elas são fortes e as mais usadas nas tintas, mas a gente viu que ele é tolerante. Até sofreu um pouco de impacto em algumas situações, mas não morreu. Então, ou a gente precisa de substâncias mais fortes ou de mais tempo de ação”, explica Isabela Martins, coautora do artigo.

Como o T. coccinea é uma espécie invasora e é retirado regularmente (de forma manual) pelas equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), acabou se tornando um organismo de teste alternativo para avaliar os riscos para as espécies nativas, uma vez que a maioria dos corais nativos do Brasil está ameaçada atualmente. Em um único mês (janeiro de 2024), as equipes do ICMBio em Alcatrazes retiraram cerca de 346 quilos, com o apoio de voluntários e atividades de fiscalização com o suporte de um representante da Polícia Federal.

Além disso, esse também é um grande problema para a navegação. Apesar de um processo natural, a bioincrustação coloca em risco a segurança das embarcações, aumentando o peso, causando sobrecarga, entupindo sistemas de resfriamento e reduzindo a propulsão da hélice, por exemplo. A estimativa é que cerca de US$ 450 milhões sejam gastos todos os anos com prevenção de bioincrustação.

“Esse tipo de coral é considerado muito invasivo, ele coloniza muito rapidamente os paredões rochosos desse local onde coletamos as amostras, o arquipélago de Alcatrazes. E, como já se acreditava, vimos na pesquisa que é muito resistente aos poluentes. Agora, nessa próxima etapa, a nossa ideia é, em vez de testar só as substâncias com DCOIT nos corais, testar também as tintas. Vamos colocar placas pintadas no mar com os animais e ver o que acontece”, adianta Abessa.

Principais descobertas sobre o coral-sol

Depois de serem recolhidos no mar, os fragmentos de colônias do coral-sol foram aclimatados no laboratório e expostos por 96 horas a diferentes concentrações de substâncias à base de DCOIT, submersos em frascos com temperatura constante de 23°C, iluminação e aeração controladas.

Segundo Abessa, coordenador da pesquisa, um dos principais achados até aqui foi observar a transferência da toxicidade do DCOIT na cadeia alimentar dos animais. Durante a pesquisa, foi possível observar que, após o contato com a tinta, as substâncias se acumulam, se depuram e, em 24 horas, são eliminadas do organismo dos animais. Isso poderia indicar outros impactos, por exemplo, ligados à alimentação de comunidades próximas a esses locais contaminados, onde se aglomeram navios e plataformas, mas seriam necessários outros estudos para compreender melhor esse reflexo da poluição.

“Uma das coisas que percebemos observando o comportamento dessa substância em outros animais é que o DCOIT depura mais quando está encapsulado, quando é um nanomaterial”, avalia o cientista.

Além do coral-sol, os pesquisadores também estão testando esse composto em vários outros animais, como mexilhões, bolachas-do-mar, fungos, bactérias e microalgas. “O que nós estamos propondo é pegar esse composto, esse biocida, e colocá-lo numa nanocápsula. Desse modo, ele fica retido e aprisionado, o que reduz sua liberação na água e, consequentemente, a contaminação do ambiente”, destaca o professor da Unesp.

“Nós encontramos muitos estudos sobre as águas temperadas, mas aqui, na região do hemisfério Sul, em águas tropicais, ainda são necessários avanços e queremos participar desse debate”, diz Abessa.

O artigo Adults of Sun Coral Tubastraea coccinea (Lesson 1829) Are Resistant to New Antifouling Biocides pode ser lido em: www.mdpi.com/2305-6304/12/1/44.

Matéria – Cristiane Paião | Agência FAPESP
Imagem – À esquerda, coral-sol íntegro; à direita, coral sol com danos causados por nanocápsulas à base de DCOIT revestidas com prata (fotos: Isabela Martins)

24 de julho de 2024 0 comentários
0 FacebookTwitterPinterestEmail
Notícias

Análise realizada em farinha e arroz aponta altas taxas de toxinas fúngicas prejudiciais à saúde

por jornalismo-analytica 22 de julho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Ao analisar amostras de farinha e de arroz armazenadas em residências de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) constataram a presença de altas quantidades de toxinas fúngicas (micotoxinas). Os resultados do estudo, que contou com apoio da FAPESP, foram divulgados no periódico Food Research International.

Como destacam os autores, a exposição a micotoxinas pela alimentação pode desencadear uma série de problemas de saúde, especialmente no caso de crianças e adolescentes. Os dados reforçam, portanto, a importância de armazenar alimentos como grãos e farinhas em locais secos e protegidos de insetos para evitar o risco de contaminação.

“Todos os microrganismos, incluindo os fungos, necessitam do chamado ‘binômio temperatura e tempo’ para se desenvolver em um substrato. Portanto, quanto mais tempo um alimento contendo fungos toxigênicos ficar armazenado em condições inadequadas, por exemplo, exposto ao ambiente, desprotegido, em local quente e úmido, maior a probabilidade de haver altas concentrações de micotoxinas”, afirma Carlos Augusto Fernandes de Oliveira, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA-USP), no campus de Pirassununga, e coordenador do estudo.

Segundo o pesquisador, existem mais de 400 toxinas que os fungos produzem para se defender ou interagir com outros organismos. “Seis dessas substâncias, as quais chamamos de meninas superpoderosas, requerem mais atenção por serem carcinogênicas, imunossupressoras ou por atuarem como disruptores endócrinos [causarem alteração no equilíbrio hormonal do organismo]. É algo que demanda muita atenção pelos seus efeitos prejudiciais à saúde”, destaca.

Em todas as amostras analisadas foram encontradas as seis toxinas de preocupação: aflatoxinas (AFs), fumonisinas (FBs), zearalenona (ZEN), toxina T-2, desoxinivalenol (DON) e ocratoxina A (OTA). No caso das micotoxinas FBs, ZEN e DON as taxas estavam acima do limite de tolerância estabelecido pelos órgãos de saúde. Este estudo foi o primeiro no Brasil a usar biomarcadores para caracterizar o risco associado às micotoxinas na dieta de crianças e adolescentes.

Oliveira explica que a aflatoxina B1, descoberta na década de 1960, é o mais potente carcinógeno natural conhecido. A substância lesa o DNA dos animais, provocando mutações genéticas que podem levar ao desenvolvimento de carcinoma hepático. Há ainda outros efeitos, como imunossupressão, problemas reprodutivos e teratogênese (quando gestantes ou pessoas em amamentação transferem as toxinas para o embrião, feto ou criança, causando problemas de saúde).

“Não existe nenhuma substância conhecida pelo homem na natureza que tenha o poder cancerígeno dessa micotoxina, só raras exceções criadas em laboratório, como, por exemplo, dioxinas”, conta o pesquisador.

Já a desoxinivalenol, encontrada em altas taxas nas amostras analisadas, embora não seja carcinogênica, pode reduzir a imunidade de pessoas contaminadas. “Ela também tem efeito no sistema gastrointestinal. Nos animais, por exemplo, ela provoca tanta irritação que eles regurgitam. Por isso, ela é vulgarmente chamada de vomitoxina”, diz.

A fumonisina B1 é considerada um possível carcinógeno humano, podendo causar câncer esofágico e outros problemas hepatotóxicos, assim como a ocratoxina A, outro potencial carcinógeno. Já a zearalenona, encontrada em taxas elevadas nas amostras de alimento analisadas, possui uma estrutura idêntica à do hormônio feminino estrógeno, podendo produzir problemas relacionados ao excesso de estrógeno no organismo (hiperestrogenismo).

“São, portanto, toxinas com repercussões pesadas. Diferentemente do chumbo ou de outros contaminantes químicos, como o bisfenol [encontrado em alguns materiais plásticos], essas micotoxinas não são cumulativas. No entanto, elas têm efeito progressivo. Isso quer dizer, por exemplo, que, com a exposição a moléculas de B1, em algum momento não será mais possível reparar o DNA que foi lesado pela micotoxina. É a partir daí que pode surgir o câncer. Por isso, a nossa preocupação com crianças e adolescentes, que tendem a ser mais sensíveis a toxinas em geral”, afirma.

As análises foram realizadas por cromatografia líquida de ultraeficiência acoplada à espectrometria de massa em tandem (UPLC-MS/MS, método que permite discriminar diferentes substâncias em uma mistura com base no peso molecular). As 230 amostras de alimentos analisadas estavam disponíveis para consumo nos domicílios de 67 crianças, incluindo 21 pré-escolares (3 a 6 anos), 15 escolares (7 a 10 anos) e 31 adolescentes (11 a 17 anos).

O grupo está realizando uma segunda etapa do trabalho para identificar mais a fundo o grau de contaminação. Amostras de urina das crianças e adolescentes foram coletadas e os pesquisadores estão em fase de análise do resultado do material.

“A partir da análise de biomarcadores encontrados na urina é possível avaliar a exposição a micotoxinas, uma vez que a excreção de biomarcadores se correlaciona bem com a ingestão de algumas micotoxinas. Com isso poderemos antever potenciais efeitos da contaminação”, adianta Oliveira à Agência FAPESP.

O artigo Exposure assessment of children to dietary mycotoxins: A pilot study conducted in Ribeirão Preto, São Paulo, Brazil pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0963996924001571.

Matéria – Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP

22 de julho de 2024 0 comentários
0 FacebookTwitterPinterestEmail
Notícias

Levedura geneticamente modificada permite converter agave em etanol

por jornalismo-analytica 18 de julho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram uma cepa geneticamente modificada da levedura Saccharomyces cerevisiae capaz de digerir o principal carboidrato presente no agave – um tipo de suculenta muito comum no México e no Nordeste brasileiro.

Com essa inovação, a planta ganha potencial para se tornar uma das mais importantes matérias-primas para a produção de etanol em ambientes semiáridos, biocombustível de papel fundamental no contexto das mudanças climáticas. O pedido de patente já foi depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) sob o número BR 10 2024 009105 1.

O agave é conhecido por ser a planta a partir da qual a bebida alcoólica destilada tequila é produzida e, mais recentemente, vem ganhando fama como opção saudável de adoçante. No Brasil, sua produção se destina apenas à produção de fibra de sisal e grande parte de sua biomassa é descartada.

Segundo os pesquisadores, essa biomassa ainda não é utilizada para produção de etanol biocombustível principalmente pela necessidade de maior eficiência na conversão dos açúcares da planta – seu principal açúcar é um polímero de frutose chamado inulina, cuja digestão requer uma enzima que não está naturalmente presente na Saccharomyces cerevisiae, a levedura utilizada pela indústria para produzir etanol.

Para a fermentação da tequila, por exemplo, é necessário realizar inicialmente um processo de hidrólise, que quebra esse carboidrato em açúcares menores – esses, sim, digeríveis pela levedura. A alternativa é trabalhar com outros fungos naturais, que consumam naturalmente a inulina – mas ainda não foram encontradas opções com a eficiência exigida em processos industriais.

Para viabilizar o agave como matéria-prima para o etanol, pesquisadores do Laboratório de Genômica e Bioenergia do Instituto de Biologia (LGE-IB) da Unicamp lançaram mão de estratégias de engenharia genética e criaram uma nova cepa de S. cerevisiae.

“Há um fungo patógeno do agave que se alimenta dele por meio de uma enzima específica”, explica Ana Clara Penteado David, pesquisadora do LGE e autora do projeto de mestrado que deu origem à levedura geneticamente modificada. “O que fizemos foi adicionar essa enzima à S. cerevisiae, o que, de acordo com testes de laboratório, deu a ela a capacidade de transformar o açúcar do agave em etanol.”

“Com isso, o agave ganha potencial para aumentar o uso do etanol em automóveis normais, abastecer veículos híbridos com baterias movidas a esse combustível e também compor os sustainable aviation fuels, que são os combustíveis sustentáveis dedicados à aviação, com etanol como matéria-prima principal”, afirma Fellipe da Silveira Bezerra de Mello, pesquisador e professor do LGE-IB-Unicamp e um dos orientadores do trabalho. “Isso também graças à vantajosa posição de liderança mundial do Brasil no setor, com história e tradição.”

Além da aplicação na indústria de biocombustível, a ideia dos pesquisadores é que a patente possa ser útil também no setor alimentício, que utiliza inulina na produção de frutose e xaropes.

Programa Brave

O desenvolvimento da nova cepa de S. cerevisiae é parte do programa Brazilian Agave Development (Brave) ou, em português, Desenvolvimento do Agave Brasileiro, uma parceria que envolve, além da Unicamp, a multinacional petrolífera Shell e instituições de ensino e pesquisa como Senai Cimatec, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp). De acordo com Gonçalo Pereira, professor do IB-Unicamp e orientador do trabalho, o Brave tem como objetivo transformar o agave na “cana-de-açúcar do sertão” em termos de produtividade.

“O mundo conta com mais áreas de semiárido do que de floresta, mas, curiosamente, nunca realmente desenvolvemos tecnologias específicas para esse tipo de vegetação”, diz Pereira. “Agora queremos reverter esse quadro e viabilizar o sertão brasileiro, que tem 105 milhões de hectares [de um total de 850 milhões de hectares do país], para a produção do agave. Com 10 milhões de hectares já conseguimos produzir mais do que o dobro do etanol produzido atualmente.”

“É importante lembrar que a planta se adapta perfeitamente a esse ambiente, especialmente graças a estruturas chamadas estômatos, que permitem que, para a fotossíntese, ela capture o gás carbônico no período da noite, mais fresco, e o converta em um ácido; já durante o dia, essas estruturas se mantêm fechadas para não perder água”, explica Pereira.

Embora o primeiro passo fundamental nesse sentido tenha sido dado, ainda há obstáculos a serem superados, como eliminar substâncias tóxicas para a levedura do caldo do agave.

Matéria – Julia Moióli | Agência FAPESP
Imagem – O agave é um tipo de suculenta muito comum no México e no Nordeste brasileiro (foto: Marc Ryckaert/Wikimedia Commons)

18 de julho de 2024 0 comentários
0 FacebookTwitterPinterestEmail
Notícias

Saneamento precário facilita a dispersão de plástico e microplástico na Amazônia

por jornalismo-analytica 16 de julho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Os plásticos e microplásticos já estão presentes em diversos ambientes e espécies na Amazônia, como em peixes e plantas aquáticas, e têm sido até mesmo usados por uma ave da floresta para construir seu ninho. Um dos principais fatores que têm contribuído para o bioma estar se tornando um potencial hotspot desses contaminantes é a falta de condições adequadas de saneamento básico em grande parte das cidades da região.

A avaliação foi feita por pesquisadores participantes de uma mesa-redonda sobre plásticos e microplásticos em águas brasileiras realizada na segunda-feira (08/07), durante a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento vai até sábado (13/07) no campus Guamá da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.

“A falta de condições adequadas de saneamento encontradas na maior parte da Amazônia representa uma importante fonte de entrada de plásticos e microplásticos nos rios do bioma, que compõem o maior sistema fluvial do mundo”, disse José Eduardo Martinelli Filho, professor da UFPA.

De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, 70% das cidades da Amazônia brasileira não possuem tratamento de água, por exemplo.

A fim de avaliar a variação das condições de saneamento básico em 313 municípios amazônicos, os pesquisadores da UFPA criaram um índice com base em dados sobre o percentual de áreas urbanas cobertas por coleta pública de esgoto, sistemas de drenagem de águas pluviais e de disposição de resíduos sólidos, obtidos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

Os resultados das análises indicaram que, dos 313 municípios avaliados, apenas 2,6% apresentam condições adequadas de saneamento básico. Por outro lado, 35% foram classificados como em condições baixas e 15% como precários.

Os sistemas de disposição de resíduos sólidos foram o serviço urbano classificado como o mais satisfatório, com disponibilidade média de 76% nas cidades avaliadas. Já a coleta de águas residuais e o sistema de drenagem de águas fluviais foram classificados como ruins na maioria das cidades amazônicas.

“É difícil encontrar situações de saneamento adequado na Amazônia. Altamira [no Pará], por exemplo, tem só uma estação de tratamento de água, que não está recebendo todo o esgoto produzido pela cidade”, ponderou Martinelli.

Outro exemplo de falta de condições adequadas de saneamento na Amazônia é o da região metropolitana de Manaus, no Amazonas, cuja população é composta por mais de 2 milhões de habitantes. No total, 32% das residências utilizam esgoto sanitário público, exemplificou o pesquisador.

“Geralmente, a principal fonte de microplásticos em ambientes aquáticos brasileiros são as cidades. E, no caso da Amazônia, a população nas cidades aumentou 11 vezes em um século. Há cem anos existiam 1,5 milhão de habitantes na Amazônia e agora há 16 milhões de pessoas morando na região”, comparou.

Atualmente a Amazônia também possui metrópoles com mais de 1 milhão de habitantes, como Belém e Manaus, além de cidades de médio porte, com 150 mil a 999 mil habitantes, como Altamira, Castanhal, Marabá, Parauapebas, Santarém, Porto Velho, Macapá, Boa Vista e Rio Branco.

“São crescimentos populacionais recentes na história da Amazônia”, avaliou Martinelli.

Substrato para ninhos

De acordo com Martinelli, estima-se que sejam lançadas por ano 182 mil toneladas de plástico na Amazônia brasileira, o que a torna a segunda bacia hidrográfica mais poluída do mundo.

Além do plástico descartado pelas cidades da região, o bioma amazônico também recebe o resíduo gerado por países com rios a montante, como a Colômbia e o Peru. Dessa forma, o resíduo tem sido encontrado em todos os lugares no bioma e atingido diversas espécies, sublinhou o pesquisador.

“Costumamos ver muitos trabalhos científicos que mostram espécies de peixes ingerindo microplásticos. Mas em qualquer lugar da biota onde for procurado plástico, em diferentes escalas de tamanho, é possível encontrar esses poluentes”, avaliou.

Estudo publicado recentemente por pesquisadores do grupo identificou a retenção de plásticos por macrófitas aquáticas no rio Amazonas. “Os bancos de macrófitas retêm plásticos de diferentes dimensões, do macro, passando pelo meso e chegando aos microplásticos”, afirmou Martinelli.

Outro trabalho feito por uma estudante de mestrado do grupo, em vias de publicação, mostrou que o japu (Psarocolius decumanus) – uma espécie de ave que habita boa parte das matas da América do Sul – tem incorporado detritos plásticos para a construção de seus ninhos.

Os pesquisadores encontraram principalmente fibras emaranhadas e cordas em 66,67% dos ninhos do pássaro.

“O plástico usado por essa espécie de ave para construir seus ninhos é proveniente de material de descarte da pesca”, explicou Martinelli.

Falta de estudos

Os pesquisadores enfatizaram que, apesar do aumento exponencial das pesquisas sobre microplásticos em todo o mundo, sobretudo nos últimos dez anos, ainda há poucos estudos com foco no bioma amazônico.

A pesquisa limitada, as restrições metodológicas, as falhas e a falta de padronização, combinadas com as dimensões continentais da Amazônia, dificultam a coleta do conhecimento fundamental necessário para avaliar com segurança os impactos e implementar medidas de mitigação eficazes.

Também há a necessidade urgente de expandir os dados científicos disponíveis para a região, melhorando a infraestrutura de investigação local e formando pesquisadores, além de realizar estudos de acompanhamento de longo prazo, apontaram os pesquisadores.

“Os estudos sobre plástico ou microplástico vão trazer, na verdade, subestimativas, porque a escala do problema é tão grande que a gente sempre esbarra em um inimigo fatal quando estamos fazendo nossos projetos, que é a questão do tempo. A gente nunca consegue fazer estudos de longo prazo”, disse Monica Ferreira da Costa, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Também não há um consenso sobre o que são os microplásticos, apontou Décio Luis Semensatto Junior, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A definição genérica comumente aceita é a de que os microplásticos são partículas plásticas com tamanho entre 1 e 5 micrômetros – ou 1 milésimo de milímetro.

“Há artigos científicos que falam sobre microplástico que nem sempre seguem a mesma definição. Também é difícil identificar qual o artigo publicado no Brasil que reportou a maior quantidade de microplásticos porque os trabalhos não são, em sua maioria, comparáveis entre si”, avaliou.

O rio dos Bugres, no estuário de Santos, no litoral paulista, pode ser a região onde foi constatado o maior nível de poluição por microplásticos no mundo, afirmou Niklaus Ursus Wetter, pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).

“Encontramos 100 mil microplásticos por quilo de peso seco de sedimento extraído daquele rio, localizado no meio de São Vicente, e que tem uma velocidade de água muito baixa. Ele fica estagnado e, dessa forma, o plástico pode sedimentar”, afirmou.

Mais informações sobre a 76ª Reunião Anual da SBPC estão disponíveis em: https://ra.sbpcnet.org.br/76RA/.

Matéria – Elton Alisson, de Belém | Agência FAPESP
Imagem – As plantas aquáticas da Amazônia estão entre os organismos afetados pela poluição plástica (foto: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)

16 de julho de 2024 0 comentários
0 FacebookTwitterPinterestEmail
Notícias

Novo método aprimora a produção de pontos quânticos luminescentes com tamanho controlado

por jornalismo-analytica 21 de junho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

A luminescência é um fenômeno observado em materiais que absorvem luz em uma determinada faixa de frequência e, posteriormente, a reemitem em frequências diferentes. Por meio da absorção, os elétrons no estado eletrônico fundamental do material são excitados a um estado de mais alta energia. Após um tempo, característico de cada estado excitado, decaem a estados de mais baixa energia, inclusive o estado fundamental, emitindo luz. Esse fenômeno possibilita uma gama de aplicações tecnológicas, mediante dispositivos emissores de alta eficiência e reprodutibilidade, que podem ser facilmente miniaturizados.

Entre os materiais que exibem a mais alta eficiência de luminescência, destacam-se os pontos quânticos (Quantum Dots, QDs), atualmente utilizados em telas luminescentes de alta resolução, LEDs, painéis solares e sensores de vários tipos, inclusive para exames médicos de grande precisão. A funcionalização da superfície dos QDs com diferentes tipos de moléculas permite a interação com estruturas celulares ou outras moléculas de interesse, viabilizando a investigação de processos biológicos em nível molecular.

Os pontos quânticos são nanopartículas semicondutoras cujas características emissivas estão diretamente ligadas ao tamanho dos pontos, devido ao fenômeno de confinamento quântico. Por essa razão, o monitoramento e o controle do crescimento cristalino, durante a síntese dos QDs em solução, oferecem a oportunidade de planejamento inteligente da luminescência desejada. Em trabalho publicado no periódico Scientific Reports, pesquisadores do grupo da professora Andrea de Camargo, no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), e colaboradores da Kiel University, na Alemanha, apresentaram uma nova abordagem para o monitoramento da formação de QDs.

“Utilizamos o telureto de cádmio [CdTe] como sistema-modelo e controlamos, por meio de análise de luminescência in situ, o processo de crescimento das nanopartículas em solução aquosa aquecida”, conta Pedro Felipe Garcia Martins da Costa, doutorando no IFSC-USP e primeiro autor do artigo.

Sem interferir na síntese dos QDs, a técnica permite monitorar em tempo real o que está acontecendo na solução, isto é, acompanhar o crescimento cristalino por meio da cor (frequência) de emissão detectada. “A síntese é realizada a partir de uma mistura de soluções precursoras de íons de cádmio (Cd2+) e telúrio (Te2-), na presença de um reagente para controle de tamanho. Com o aumento da temperatura, a reação química é iniciada, mediante a aproximação e agrupamento de íons de telureto e de cádmio. À medida que a reação prossegue, unidades adicionais de CdTe vão se agrupando esfericamente em um processo chamado de automontagem. Graças ao monitoramento rápido e preciso das frequências de emissão, pode-se estimar o tamanho das nanopartículas. QDs de telureto de cádmio com diâmetro em torno de 1 a 2 nanômetros (nm) emitem na região do azul e verde do espectro visível, enquanto QDs maiores, na faixa de 4 a 5 nm, emitem em frequências mais baixas, como amarelo e vermelho, respectivamente”, explica Leonnam Gotardo Merizio, pós-doutorando no IFSC-USP e coautor do artigo.

Costa ressalta a vantagem do novo método em relação à estratégia convencional de síntese. “Na técnica convencional, é preciso retirar pequenas alíquotas de amostra da solução, para medir o tamanho dos pontos quânticos. Na técnica in situ, as medidas são feitas enquanto o processo ocorre, sem a necessidade de interferir no meio reacional retirando amostras. Isso possibilita obter maior número de espectros por unidade de tempo, além de não alterar o volume reacional e evitar descartes desnecessários. Desse modo, a técnica permite controlar, de forma bem mais precisa, a cor de emissão dos QDs de interesse. O mesmo equipamento que entrega a luz de excitação, através de uma fibra óptica, no comprimento de onda apropriado, é também responsável pela coleta da luz emitida e determinação de sua frequência característica, no sistema de cores RGB [do inglês, red, green and blue]. Vale ressaltar que o controle do sistema RGB é relevante para a formação das imagens em diversos dispositivos luminescentes, como monitores e telas de celulares”, afirma.

O pesquisador acrescenta que os QDs assim sintetizados foram adicionalmente caracterizados por análises de difração de raios X, microscopia eletrônica de transmissão, espectroscopia de absorção UV-Vis e espectroscopia vibracional no infravermelho.

A existência dos pontos quânticos foi prevista teoricamente em 1937 pelo físico alemão, naturalizado britânico, Herbert Fröhlich (1905-1991). Na década de 1980, Alexey Ekimov (nascido em 1945), na antiga União Soviética, e Louis Brus (nascido em 1943), nos Estados Unidos, observaram o fenômeno de confinamento quântico em nanopartículas semicondutoras pela primeira vez. Na década de 1990, o francês de origem tunisiana Moungi Bawendi (nascido em 1961) também contribuiu com estudos de aperfeiçoamento da síntese das nanopartículas por diferentes técnicas. Em 2023, os três, Ekimov, Brus e Bawendi, foram premiados com o Nobel de Química por suas contribuições no desenvolvimento desse material.

“O efeito de confinamento quântico confere aos QDs a capacidade de confinar elétrons em três dimensões reduzidas, tornando os fenômenos quânticos mais evidentes e caracterizando-os como materiais intermediários entre átomos, moléculas e aglomerados cristalinos maiores”, comenta Costa.

“Embora existam muitas publicações relatando a síntese de QDs de CdTe, a maior contribuição do trabalho em pauta está no desenvolvimento e aplicação do sistema de medidas de luminescência in situ, extremamente versátil. Além de permitir a inferência dos tamanhos das nanopartículas cristalinas, como neste caso-modelo, a metodologia também possibilita caracterizar a formação de compostos intermediários em reações químicas, por associação in situ de outras técnicas que permitam análise química e/ou estrutural [FT-IR, Raman, DRX etc.]. De modo geral, essa aproximação possibilita avaliar a evolução de processos de síntese resultando na otimização do rendimento químico e economizando energia”, diz Camargo.

O estudo foi apoiado pela FAPESP por meio de quatro projetos (13/07793-6, 20/05627-5, 21/01170-3 e 22/07667-0).

O artigo Real‐time monitoring of CdTe quantum dots growth in aqueous solution pode ser acessado na íntegra em: www.nature.com/articles/s41598-024-57810-8.

Matéria – José Tadeu Arantes | Agência FAPESP
Imagem – Figura com QDs de CdTe de diferentes tamanhos, luminescendo pela excitação de um laser UV (imagem: Pedro Felipe Garcia Martins da Costa)

21 de junho de 2024 0 comentários
0 FacebookTwitterPinterestEmail
Notícias

Segurança alimentar e sustentabilidade na produção agrícola devem caminhar juntas, defendem cientistas

por jornalismo-analytica 11 de junho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

No alto, à esq., Buainain e Regina Camargo; abaixo, Parra e Pacheco (imagem: reprodução)

Em plena emergência climática, tem se buscado produzir alimentos com sustentabilidade enquanto existem no mundo 2,3 bilhões de pessoas em algum nível de insegurança alimentar, sendo que 735 milhões efetivamente passam fome.

Os dados foram apresentados por pesquisadores que participaram da mais recente edição do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, realizado de forma virtual no dia 03 de junho.

“Esse tem sido um tema recorrente de várias conferências internacionais. Faz parte hoje das negociações da Conferência do Clima da ONU [Organização das Nações Unidas] e foi incorporado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de diversas formas”, lembrou Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, na abertura do evento.

“Estamos falando tanto de segurança alimentar quanto de sustentabilidade em geral. O Brasil é um importante produtor agrícola em termos globais, contribui para a redução da fome. Mas as pressões são grandes, porque só será possível manter essa agricultura pujante com práticas bastante sustentáveis. Em paralelo, está na preocupação das Nações Unidas também a segurança alimentar. Garantir alimentos saudáveis e em quantidade necessária para enfrentar o problema da fome e das carências nas dietas de várias populações”, completou.

Antonio Marcio Buainain, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE-Unicamp), lembrou que, por décadas, a questão da fome e da segurança alimentar foi tratada como um problema de oferta de alimento.

O geógrafo brasileiro Josué de Castro, um dos fundadores da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), porém, já chamava a atenção em 1946, em sua obra Geografia da fome, para a convivência da fome com a abundância.

“Isso mostra como falta comunicação entre cientistas e formuladores de políticas. Não ouvimos Josué de Castro. O problema era mais do que oferta. Mais recentemente, a fome passou a ser tratada como problema de dimensão multifatorial. Evidentemente, a oferta de alimentos é um deles, mas também é o acesso, por exemplo. É preciso ter renda suficiente. Mas não é só renda, porque parte das pessoas no mundo passa por situações como guerras ou desastres, como o que estamos vendo no Rio Grande do Sul. Então o debate vai além”, disse Buainain.

Regina Aparecida Leite de Camargo, professora da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV-Unesp), em Jaboticabal, explicou o conceito de sindemia global, que traz uma visão sistêmica sobre a alimentação e seus impactos na saúde e no meio ambiente, se apresentando na forma da desnutrição, da obesidade e das mudanças climáticas.

“É uma vergonha tanto nacional como mundial que ainda existam 735 milhões de pessoas no mundo passando fome e 2,3 bilhões em insegurança alimentar. Entre 2020 e 2022, 9,9% da população do Brasil estava em insegurança alimentar grave. A proporção é ainda maior da população com problemas de sobrepeso. Aumentou 360% entre 1990 e 2022. Outro aspecto são as mudanças climáticas, que têm afetado o mundo inteiro com eventos extremos”, afirmou.

Sustentabilidade

Enquanto a demanda pela produção agrícola e a população mundial continuam aumentando, está cada vez mais claro o papel da ação humana na mudança do clima. Por isso, soluções como o controle biológico de pragas tem crescido no mundo.

José Roberto Postali Parra, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), em Piracicaba, dirige o Centro de Excelência em Controle Biológico (SparcBio).

Um dos Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) da FAPESP, o SparcBio é uma parceria com a Koppert Biological Systems – empresa de soluções para a agricultura, presente no Brasil desde 2011.

“O Brasil é líder em agricultura tropical com tecnologia própria. Mas o controle biológico para regiões tropicais teve de ser desenvolvido. Na Europa, é feito em casas de vegetação. No Brasil, temos áreas abertas que impedem que se copie o modelo europeu. Tivemos de elaborar, nesses últimos 30 anos, modelos de controle biológico para regiões tropicais adaptados à nossa realidade”, explicou.

Segundo Parra, o controle biológico se profissionalizou nos últimos anos com pesquisa e desenvolvimento. Atualmente, existem 695 produtos biológicos registrados, 94 apenas em 2023. O número, porém, ainda é menor do que os químicos, com 3.700 produtos registrados, 361 no ano passado.

“Era muito comum o produtor não usar porque os antecessores usaram químicos. Foi preciso que houvesse uma mudança na cultura para que se adotasse [o controle biológico]. Hoje, a área tratada [com esse tipo de produto] tem 25 milhões de hectares, 159 biofábricas com receita anual de R$ 5 bilhões”, contou.

Com o crescimento do portfólio de bioinsumos, como são chamados, espera-se que no futuro essas tecnologias estejam também disponíveis a pequenos produtores. Atualmente, o controle biológico é restrito às grandes propriedades.

O evento teve ainda a presença de Natacha Jones, diretora-executiva do ILP, e do deputado estadual Itamar Borges, presidente da Comissão de Atividades Econômicas da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

O debate pode ser assistido na íntegra pelo endereço: https://youtu.be/37vBVr7DrlQ.

Matéria – André Julião | Agência FAPESP

11 de junho de 2024 0 comentários
0 FacebookTwitterPinterestEmail
Notícias

Processo otimiza extração de compostos bioativos de resíduos agrícolas para produtos cosméticos e alimentícios

por jornalismo-analytica 7 de junho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Processo inovador desenvolvido por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) utiliza mel de abelhas sem ferrão para extrair com mais eficiência das cascas das amêndoas de cacau teobromina e cafeína – dois compostos que podem ser aplicados em produtos alimentícios e cosméticos.

Essas cascas são particularmente ricas em teobromina e cafeína, no entanto, os métodos convencionais de extração frequentemente envolvem o uso de solventes que podem ser prejudiciais à saúde e ao ambiente, além de serem, geralmente, complexos e demorados.

A invenção foi liderada por Felipe Sanchez Bragagnolo, que tem como hobby a criação de abelhas sem ferrão (Melipona quadrifasciata ou mandaçaia), prática conhecida como meliponicultura. O trabalho, que faz parte do projeto de pós-doutorado de Bragagnolo, contou com a colaboração de Monique Martins Strieder e Leonardo Mendes de Souza Mesquita, com a supervisão de Maurício Ariel Rostagno. O grupo recebe apoio da FAPESP em suas pesquisas (projetos 19/13496-0 e 18/14582-5).

Abelha da espécie Melipona quadrifasciata, popularmente conhecida como mandaçaia (foto: Rich Hoyer)

“A inovação proposta oferece um método de extração assistida por ultrassom de alta intensidade e utiliza mel de mandaçaia como solvente natural. Essa abordagem não apenas elimina o uso de solventes orgânicos prejudiciais, mas também simplifica o processo de extração, reduzindo o tempo necessário e tornando-o mais sustentável”, explica Rostagno, agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e inventor de 17 patentes. Rostagno também é mestre em ciência de alimentos pela UFLA, mestre em vitivinicultura e doutor em química pela Universidade de Cádiz (Espanha).

Resíduos valiosos

Os resíduos agrícolas têm sido cada vez mais reconhecidos como fontes valiosas de compostos de interesse. A teobromina, estimulante do sistema nervoso central, é o principal composto presente no cacau, com ação semelhante (embora mais suave) à da cafeína.

“Tradicionalmente esses resíduos são descartados ou subutilizados. Ao extrair esses compostos não só reduzimos o volume de resíduos agrícolas, mas também promovemos a economia circular e mitigamos o impacto ambiental do desperdício”, diz Rostagno, que é professor associado na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA-Unicamp), no campus Limeira. Ele atua na área de tecnologia, composição e análise de alimentos, no Laboratório Multidisciplinar em Alimentos e Saúde (LabMAS).

Um dos princípios da chamada química verde é eliminar solventes tóxicos e contaminantes de processos e produtos. “Apesar de o uso de solventes como metanol, acetona e hexano ser permitido, ainda ficam resíduos no alimento que podem ser prejudiciais à saúde e devem ser evitados. Não só tendo em vista o consumidor, mas também o pessoal técnico responsável pelo processo de extração, sujeito à exposição por contato ou vapores”, explica Rostagno.

O mel de abelhas sem ferrão, além de ser um solvente natural, apresenta uma série de benefícios à saúde, como propriedades antibacterianas, antioxidantes e nutritivas. Assim, segundo o inventor, sua utilização como solvente não apenas torna o processo mais sustentável, mas também enriquece o produto final com um potencial único de utilização em uma variedade de produtos. “Pode ser incorporado em formulações cosméticas, aproveitando suas propriedades para promover a saúde da pele e do cabelo”, exemplifica o pesquisador. Também pode ser utilizado como ingrediente em produtos nutracêuticos, fornecendo um impulso natural de energia.

Ao utilizar a técnica de extração assistida por ultrassom em conjunto com o mel de abelhas sem ferrão, a eficiência do processo é amplificada, resultando em extrações mais rápidas e com maior rendimento de teobromina e cafeína. “Além disso, o extrato final não requer secagem, simplificando ainda mais o processo.”

Há ainda um ganho de marketing, segundo o pesquisador, visto que, além da eficiência e da sustentabilidade na extração de compostos valiosos, há uma valorização da biodiversidade local, já que o mel da abelha mandaçaia é utilizado. “Isso contribui para a diferenciação e autenticidade dos produtos”, diz Rostagno.

O depósito da patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) foi realizado em março (nº BR 10 2004 005638 8).

Matéria – Ricardo Muniz | Agência FAPESP
Imagem – As cascas das amêndoas de cacau são ricas em teobromina e cafeína (foto: Wilfredor/Wikimedia Commons)

7 de junho de 2024 0 comentários
0 FacebookTwitterPinterestEmail
Notícias

Secretaria de Agricultura busca parceria com a FAPESP para alavancar o agro paulista

por jornalismo-analytica 6 de junho de 2024
escrito por jornalismo-analytica

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e a FAPESP deram início a uma parceria para apoiar o desenvolvimento de pesquisa e inovação com foco no agronegócio.

Reunião ocorreu em 3 de junho, na sede da FAPESP (foto: Agência FAPESP)

“O objetivo de unirmos a Secretaria de Agricultura, que está próxima do setor produtivo e conta com institutos de pesquisa renomados, com a FAPESP é garantir, com mais agilidade, soluções para as demandas do nosso setor”, disse ontem (03/06) o secretário Guilherme Piai durante reunião com o presidente da Fundação, Marco Antonio Zago, e outros membros da diretoria, além de representantes de instituições ligadas ao agronegócio.

No encontro, foi estabelecido um prazo de 30 dias para que a FAPESP e as áreas técnicas da secretaria, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), do Instituto Agronômico (IAC) e do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) – associação privada, representada na reunião pelo seu gerente-geral, Juliano Ayres – elaborem uma proposta para atuação em quatro áreas consideradas prioritárias: combate ao greening, doença que ataca as lavouras de cítricos; biocombustíveis; fertilizantes e bancos de germoplasma.

Zago lembrou que a FAPESP, historicamente, tem apoiado o desenvolvimento da agricultura paulista por meio de projetos, como o do sequenciamento do genoma da Xylella fastidiosa, nos anos 1990, e de programas, como o de Bioenergia (BIOEN), entre outros. “Esse é o setor de maior proximidade com a ciência e a pesquisa e essa parceria direcionará a pesquisa para novos desafios econômicos do Estado”, disse.

Ayres, da Fundecitrus, lembrou a contribuição do Projeto Genoma, inaugurado com o sequenciamento da X. fastidiosa, causadora de doença que, na época, dizimava a citricultura paulista, e que fez avançar a pesquisa nessa área. Com disso, ele disse, a citricultura paulista se recuperou e hoje registra aumento de 100% da produtividade. “Atualmente, a ameaça é o greening”, sublinhou. No Brasil, a incidência dessa doença cresceu 56% entre 2022 e 2023. Nos Estados Unidos, os esforços de controle já consumiram mais de US$ 2 bilhões.

Na área de bioenergia, o secretário enfatizou a importância do setor sucroenergético na transição do Estado em direção à descarbonização. “Dos 10 milhões de hectares de cana-de-açúcar cultivados no Brasil, 6 milhões estão em São Paulo. Temos 180 usinas registradas no Ministério da Agricultura, sendo quase 70 delas a 20 quilômetros de gasodutos já existentes. São Paulo tem o pré-sal caipira, uma preciosidade, na produção de energia renovável e biocombustível.”

A lista de desafios inclui a busca de soluções para fertilizantes, conforme apontou a diretora-geral do Instituto Biológico, Ana Eugênia de Carvalho Campos, e o apoio da Fundação ao gerenciamento e à preservação dos bancos de germoplasma da APTA. De acordo com o subsecretário de Agricultura, Orlando Melo de Castro, o trabalho em parceria com a FAPESP pode impulsionar a otimização dos bancos paulistas. “O apoio técnico e administrativo visa um incremento no aproveitamento desse material genético, otimizando a pesquisa e a inovação no Estado.”

Para o presidente da FAPESP, a parceria para o desenvolvimento de pesquisas nas quatro áreas prioritárias elencadas no encontro deve incluir uma contrapartida do setor privado. Nesse sentido, ele lembrou o exemplo do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell – e que já conta com novos parceiros, como TotalEnergies, Braskem, Toyota, entre outras, para a produção de hidrogênio a partir do etanol. “Hoje, os investimentos somam US$ 100 milhões: 10% da FAPESP e 90% das empresas.”

Participaram do encontro o coordenador da APTA, Carlos Nabil, o diretor substituto do IAC, Heitor Cantarella, e, pela FAPESP, Raul Machado Neto, assessor da Presidência, Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do CTA, Marcio de Castro Silva Filho, diretor científico, Douglas Zampieri, coordenador-geral de Tecnologias, Parceiros e Inovação.

Matéria – Agência FAPESP

 

6 de junho de 2024 0 comentários
0 FacebookTwitterPinterestEmail
Novos Posts
Posts Antigos

Leia a última edição

permution
Ohaus

Últimas notícias

  • Revista Analytica Ed. 138
  • Revista Analytica Ed. 125
  • Revista Analytica Ed. 124
  • Revista Analytica Ed. 123
  • Revista Analytica Ed. 122
  • Revista Analytica Ed. 121

Inscreva-se na Newsletter

Assine nossa newsletter para receber novas publicações, dicas e muito mais.

Ative o JavaScript no seu navegador para preencher este formulário.
Carregando
Revista Analytica

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.

Categorias em destaque

  • Notícias
  • Em foco
  • Eventos
  • Artigo científico
  • Informe de mercado

Redes Sociais

Facebook Twitter Instagram Linkedin
  • Politica de privacidade
    • LGPD
    • COOKIES
©2022 All Right Reserved. Designed and Developed by FCDesign
  • Artigo científico
  • Em foco
  • Eventos
  • Leia a Analytica
  • Notícias
  • Sobre
    • Assine a Revista Analytica
    • Expediente
    • Anuncie
    • Publique na Analytica
Revista Analytica
  • Artigo científico
  • Em foco
  • Eventos
  • Leia a Analytica
  • Notícias
  • Sobre
    • Assine a Revista Analytica
    • Expediente
    • Anuncie
    • Publique na Analytica
Revista Analytica
  • Artigo científico
  • Em foco
  • Eventos
  • Leia a Analytica
  • Notícias
  • Sobre
    • Assine a Revista Analytica
    • Expediente
    • Anuncie
    • Publique na Analytica
©2022 All Right Reserved. Designed and Developed by FCDesign