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Agência FAPESP

Notícias

Plantas herbáceas não graminoides são fundamentais para a preservação do Cerrado

por jornalismo-analytica 21 de janeiro de 2025
escrito por jornalismo-analytica

Quando se pensa em Cerrado, as imagens que vêm à mente são de savanas com árvores retorcidas de pequeno ou médio portes ou de campos abertos com gramíneas ondulantes e árvores solitárias. No entanto, um grupo de plantas menos conhecidas, as herbáceas não graminoides, desempenha papel fundamental na manutenção desse tipo de bioma e na vida de seus habitantes – animais e humanos.

Esse é o tema de um artigo publicado recentemente na Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics: “Past, Present, and Future of Forbs in Old-Growth Tropical and Subtropical Grasslands”.Conduzido por uma colaboração internacional de pesquisadores, o estudo de revisão investigou o papel ecológico dessas plantas em savanas e campos. E mostra que as herbáceas não graminoides são essenciais para a biodiversidade, o armazenamento de carbono, a regeneração pós-distúrbios e a provisão de serviços ecossistêmicos, como alimentos e remédios.

Conforme explica a pesquisadora Alessandra Fidelis, do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (IB-Unesp), uma das autoras do estudo, apoiada pela FAPESP, essas plantas são frequentemente esquecidas em estudos que priorizam gramíneas e árvores. “Muitas dessas plantas possuem estruturas subterrâneas especializadas, como rizomas e xilopódios, que as tornam incrivelmente resilientes a secas, herbivoria e incêndios frequentes, características marcantes de ambientes como o Cerrado”, diz.

O Cerrado, por exemplo, abriga espécies como as sempre-vivas, as orquídeas terrestres e o capim-dourado, algumas das quais florescem logo após o fogo, criando paisagens viçosas em períodos pós-queimadas. Essas plantas compõem até 70% do estrato herbáceo em algumas áreas, sendo fundamentais para a regeneração do ecossistema. Além disso, suas raízes e sistemas subterrâneos volumosos permitem que armazenem carbono de forma eficaz, um aspecto crítico no contexto da atual emergência climática.

“Estima-se que a biomassa subterrânea de herbáceas nãomgraminoides no Cerrado supere a biomassa acima do solo em até 1,5 vez. Essa capacidade de retenção de carbono é amplificada pela longevidade de suas estruturas, que podem durar muitos anos, conferindo estabilidade ao ecossistema”, informa Fidelis.

Além de sustentar a biodiversidade, essas herbáceas são fonte de alimento e medicina. Comunidades tradicionais utilizam suas raízes e folhas como parte da dieta ou em preparações medicinais. A mandioca, embora domesticada, é um exemplo de planta com raízes nutritivas que remonta a essa tradição. Outros exemplos incluem a macela, conhecida por suas propriedades anti-inflamatórias, e o capim-dourado, usado em artesanato sustentável.

A medicina tradicional reconhece ainda as propriedades do Eryngium pristis (língua-de-tucano), utilizado como diurético e no tratamento de úlceras da boca e da garganta; da Vernonia ferrugínea (assa-peixe), depurativa e diurética; da Anemopaegma arvense (catuaba), tonificante do sistema nervoso e estimulante sexual; da Camarea affinis (pé-de-perdiz), para inflamações uterinas e parto; da Gomphrena officinalis (paratudo), para febre, gripe e asma; e do Sisyrinchium vaginatum (capim-rei), para febre e resfriado. Entre as frutíferas, vale destacar a Annona warmingiana (araticum-rasteiro), a Pradosia brevipes (fruta-do-tatu), o Ananas ananassoides (ananás) e a Bromelia balansae (gravatá).

“Na África, análises de DNA em fezes de grandes herbívoros revelaram que eles consomem muitas dessas plantas, até mesmo para automedicação. Os estudos sugerem que animais como elefantes e antílopes ingerem essas espécies para aliviar doenças ou parasitas, comportamento também observado em primatas”, destaca Fidelis.

Como tudo no Cerrado, as herbáceas não graminoides enfrentam sérias ameaças, decorrentes do desmatamento, da conversão de terras para agricultura e da invasão por espécies exóticas. Atividades como a aração profunda podem destruir suas estruturas subterrâneas, inviabilizando a regeneração natural. “Essas plantas são muito resilientes ao fogo e à herbivoria, mas extremamente sensíveis a distúrbios que revolvam o solo”, afirma Fidelis.

Cabe lembrar que 46% da vegetação original do Cerrado já foi perdida para a agricultura, afetando profundamente a biodiversidade local. Além disso, práticas de manejo inadequadas, como queimadas descontroladas e a introdução de espécies invasoras, como gramíneas africanas, agravam fortemente o cenário.

Nesse contexto, práticas de manejo adaptativo, como queimas controladas, podem ajudar a preservar essas espécies. “No Cerrado, por exemplo, a aplicação de queimadas prescritas promove a floração rápida de espécies como algumas sempre-vivas e canelas-de-ema [Vellozia], favorecendo a regeneração do ecossistema”, pontua a pesquisadora.

O estudo também destaca a necessidade de integrar essas plantas em projetos de restauração. Atualmente, muitas iniciativas focam apenas em gramíneas e árvores, negligenciando as herbáceas não graminoides. “A restauração ativa, com plantio de espécies nativas, semeadura direta e translocação de solo rico em sementes e estruturas subterrâneas, pode ser uma estratégia eficaz, embora custosa. Por isso, evitar a conversão de áreas naturais ainda é a melhor forma de preservar esses ecossistemas”, pondera Fidelis.

Há ainda um elemento adicional, que vem ganhando atenção em projetos de paisagismo sustentável: a utilização dessas plantas no âmbito urbano. Espécies nativas, como as orquídeas terrestres, estão sendo incorporadas em áreas verdes, contribuindo para a manutenção de polinizadores e a promoção de uma estética mais condizente com o contexto natural.

Embora ainda pouco estudadas, as herbáceas não gramínoides representam uma peça-chave nos mosaicos de savanas tropicais. Elas não apenas sustentam comunidades biológicas complexas, mas também oferecem serviços essenciais à humanidade. “Esperamos que este estudo chame atenção para a importância desse grupo e incentive novas pesquisas. A integração entre conhecimento científico e saberes tradicionais é fundamental para garantir a conservação dessas plantas e dos ecossistemas que elas sustentam”, conclui Fidelis.

O estudo Past, Present, and Future of Forbs in Old-Growth Tropical and Subtropical Grasslands pode ser acessado em https://www.annualreviews.org/content/journals/10.1146/annurev-ecolsys-102722-022331.

Matéria – José Tadeu Arantes | Agência FAPESP
Imagem – As raízes e sistemas subterrâneos volumosos das plantas permitem que armazenem carbono de forma eficaz (foto: Camarea ericoides / Alessandra Fidelis)

 

21 de janeiro de 2025 0 comentários
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Notícias

Biofilme comestível à base de extrato da casca de romã aumenta vida útil de morangos

por jornalismo-analytica 16 de janeiro de 2025
escrito por jornalismo-analytica

Um biofilme comestível, obtido a partir de resíduos da agricultura e da indústria pesqueira e desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP), permite aumentar a vida útil do morango (Fragaria x ananassa Duch).

Em testes em laboratório, os pesquisadores constataram que, ao longo de 12 dias de armazenamento sob refrigeração, os frutos revestidos com a película apresentaram 11% menos redução de peso e demoraram entre 6 e 8 dias para começar a ser contaminados por fungos em comparação a quatro dias das frutas não recobertas com o material.

Os resultados do trabalho, realizado com apoio da FAPESP e em colaboração com pesquisadores da Embrapa Instrumentação e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), foram descritos em artigo publicado na revista Food Chemistry.

“Por meio da aplicação do revestimento foi possível dobrar a vida útil de morangos mantidos sob refrigeração e retardar a desidratação dos frutos, conservando, ao mesmo tempo, o sabor, a textura e os compostos voláteis, que conferem o aroma característico da fruta”, disse à Agência FAPESP Mirella Romanelli Vicente Bertolo, pós-doutoranda na Embrapa Instrumentação e primeira autora do estudo.

O trabalho foi iniciado durante o doutorado de Bertolo no IQSC-USP, sob orientação do professor Stanislau Bogusz Junior.

Durante a pesquisa, eles conseguiram desenvolver uma técnica que permite, por meio do uso de solventes eutéticos naturais profundos (NADES, na sigla em inglês), extrair da casca de romã (Punica granatum L.) 84,2% mais antioxidantes – substâncias que possuem propriedades conservantes.

“Mais de 40% da romã, dependendo da variedade, é composta por casca, que é desperdiçada. Nossa ideia foi aproveitar esse resíduo para obter extratos ricos em compostos fenólicos, com atividades antioxidante e antimicrobiana”, diz Bogusz.

Com o sucesso do desenvolvimento do método de extração, os pesquisadores decidiram testar a hipótese de incorporar os antioxidantes da romã a revestimentos à base de gelatina e quitosana – um polímero (polissacarídeo natural) encontrado nos esqueletos de crustáceos, como o camarão –, para desenvolver uma película protetora para frutas.

“Optamos por utilizar a quitosana extraída de gládios [conchas internas] de lula por meio de um processo de desacetilação da quitina encontrada nesse molusco porque ela não apresenta o problema de alergenicidade como a da obtida de camarão. E combinamos esse material com outro polímero, no caso, a gelatina, com o intuito de melhorar suas propriedades mecânicas”, explica Bogusz.

Fruta altamente perecível

O morango foi escolhido como sistema modelo para testar a eficácia do biofilme porque é um dos itens com maiores índices de perda nos mercados brasileiros, devido à sua perecibilidade e curta vida útil, de cerca de menos de sete dias sob refrigeração.

“O morango é um fruto que tem atividade respiratória muito alta e pH [acidez] muito baixo. Por isso, é muito suscetível ao ataque de microrganismos. Além disso, é muito úmido e os frutos são pequenos. Com base nisso, levantamos a hipótese de que se o material que desenvolvemos funcionasse seria eficiente em qualquer outro fruto”, diz Bogusz.

Para testar essa hipótese, os pesquisadores revestiram morangos com o filme comestível por meio de imersão e avaliaram os efeitos do material no perfil físico-químico, microbiológico, volátil e nas características sensoriais dos frutos ao longo de 12 dias de armazenamento refrigerado.

Os resultados indicaram que o material forma uma película na superfície do fruto que funciona como uma barreira à passagem de microrganismos, à perda de umidade e à troca de gases, modificando a respiração do morango. Dessa forma, o revestimento retarda o metabolismo do fruto durante o período pós-colheita e, consequentemente, aumenta sua vida útil, preservando a cor, firmeza e os compostos bioativos da fruta.

“Constatamos que a película permitiu manter a textura, retardar a contaminação por microrganismos e reduzir a perda de massa dos frutos, que é observada quando o morango murcha. Isso acontece muito comumente em frutos não revestidos porque eles perdem água facilmente e desidratam”, afirma Bertolo.

De acordo com a pesquisadora, o filme também permitiu reduzir a gravidade de lesões por fungos e melhorar o perfil de voláteis dos frutos. “O material possibilitou preservar 40% a mais desses compostos que são responsáveis pelo aroma da fruta”, diz Bertolo.

O biofilme também não interferiu nas características sensoriais da fruta, como o sabor, conforme constatado por meio de testes de análise sensorial feitos com alunos do curso de graduação em química do IQSC-USP.

“Os resultados dos testes mostraram que eles não identificaram diferenças no gosto, aroma e características visuais do morango revestido com o material em comparação com morangos sem a película” afirma Bertolo.

Os pesquisadores entraram com o pedido de depósito de patente da formulação, após o que pretendem licenciar a tecnologia para empresas interessadas.

As análises econômicas indicaram que o revestimento poderá ter um custo estimado em, aproximadamente, R$ 0,15 por fruta.

“Esse é um custo que os consumidores podem estar dispostos a pagar por uma fruta com maior vida útil e com aproveitamento maior”, estima Bertolo.

O artigo Improvement of the physical-chemical microbiological, volatiles and sensory quality of strawberries covered with chitosan/gelatin/pomegranate peel extract-based coatings pode ser lido em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0308814625000056.

Matéria – Elton Alisson | Agência FAPESP
Imagem – Processo de recobrimento do morango pelo biofilme (foto: Mirella Romanelli Vicente Bertolo )

16 de janeiro de 2025 0 comentários
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Notícias

Método usa drone e câmera de baixo custo para selecionar plantas tolerantes à seca

por jornalismo-analytica 14 de janeiro de 2025
escrito por jornalismo-analytica

Um método que usa softwares livres e um drone com uma câmera de baixo custo permitiu selecionar plantas de milho tolerantes à seca. A ferramenta contribui para a seleção de plantas que suportem melhor o estresse hídrico, um dos impactos das mudanças climáticas na agricultura.

Os resultados dos experimentos foram publicados em um artigo na Plant Phenome Journal.

Os autores são vinculados ao Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído com apoio da FAPESP e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Os experimentos com plantas geneticamente modificadas têm um alto custo. O método nos permitiu avaliar a tolerância das plantas à seca em uma área relativamente pequena, além de usar softwares gratuitos e uma câmera RGB, mais simples, que levantou parâmetros do experimento de forma mais eficaz do que a câmera multiespectral, mais cara”, conta Helcio Duarte Pereira, pesquisador no GCCRC com bolsa da FAPESP e primeiro autor do estudo.

O método permitiu uma coleta de dados otimizada, mais rápida e mais barata. Os métodos convencionais exigem medições manuais, por vezes com equipamentos caros e processos lentos. Além disso, com eles algumas características só podem ser mensuradas no final do ciclo de vida da planta. Com o drone, em poucas horas se faz o trabalho que levaria dias, o que permite ainda avaliar as plantas em diferentes estágios de crescimento.

A abordagem também possibilita acompanhar o desenvolvimento das plantas ao longo de todo o ciclo de crescimento. “A análise contínua, em diferentes fases do ciclo de vida da planta, foi essencial para entender como elas respondem ao estresse hídrico, além de permitir prever como elas se comportariam em outra áreas”, explica Juliana Yassitepe, pesquisadora do GCCRC e da Embrapa Agricultura Digital, que coordenou o estudo.

Parâmetros de estresse hídrico

Durante a estação seca de 2023, entre abril e setembro, os pesquisadores realizaram uma série de voos em uma área experimental em Campinas. No local, haviam sido plantadas 21 variedades de milho, três convencionais e 18 modificadas geneticamente para superexpressar genes potencialmente ligados à resistência ao estresse hídrico.

No experimento, a única diferença de tratamento entre as plantas foi que metade recebeu irrigação durante todo o ciclo de vida, enquanto a outra foi submetida à seca.

Cada voo durava 10 minutos e capturava 290 imagens. Os pesquisadores selecionaram 13 voos feitos com a câmera multiespectral, que captura espectros não visíveis, como infravermelho, e 18 com a câmera RGB, significativamente mais barata e que captura três cores, ou bandas: vermelho, verde e azul.

As imagens foram analisadas em softwares livres e permitiram fazer o cruzamento das bandas obtidas nas imagens. Para determinar o que as diferenças de cor nas imagens indicavam, os pesquisadores realizaram uma série de medições convencionais das plantas em solo. A partir daí, puderam definir os parâmetros de estresse hídrico e calibrar os modelos de predição.

Os resultados apresentados a partir das imagens da câmera mais barata se mostraram confiáveis e mais precisos, o que torna a tecnologia acessível para programas de melhoramento genético em larga escala.

Além de reduzir os custos operacionais, o método permite a realização de estudos em áreas menores, o que é especialmente útil em projetos com recursos limitados. “Nem sempre dispomos de sementes em quantidade suficiente para plantar em áreas muito grandes, o que é um gargalo nesse tipo de pesquisa”, diz Yassitepe.

Os pesquisadores lembram ainda que os voos mais baixos do drone permitem obter imagens em alta resolução, o que se justifica em áreas experimentais menores, contribuindo para obter dados mais precisos.

Por fim, embora não seja o objetivo principal do grupo, o avanço abre caminho para que outros grupos de pesquisa ou startups criem aplicações voltadas diretamente para os produtores ou empresas de melhoramento genético.

“Existem aplicações no mercado que permitem avaliar, por exemplo, a clorofila na planta e, com isso, definir os níveis de nitrogênio. Assim é possível ajustar a adubação de acordo com a necessidade”, afirma Pereira.

Para Yassitepe, os índices avaliados no estudo podem servir de base para o desenvolvimento de aplicações que façam as medições de forma automatizada também para o estresse hídrico em diferentes culturas agrícolas ou florestais.

O artigo Temporal field phenomics of transgenic maize events subjected to drought stress: Cross-validation scenarios and machine learning models pode ser lido em: https://acsess.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ppj2.70015.

Matéria – André Julião | Agência FAPESP
Imagem – Pesquisadora realiza voo de drone sobre plantação experimental de milho em Campinas (SP): tecnologia pode facilitar seleção de variedades tolerantes à seca (foto: Paula Drummond de Castro/GCCRC)

 

14 de janeiro de 2025 0 comentários
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Ações sustentáveis imediatas podem gerar US$ 10 trilhões em negócios, aponta relatório do IPBES

por jornalismo-analytica 27 de dezembro de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Além de resguardar a vida na Terra para as próximas gerações, conter a crescente perda de biodiversidade e dos serviços prestados por ela pode ser lucrativo. É o que apontam os mais recentes sumários para tomadores de decisão da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês).

Os dois documentos foram lançados nesta semana (17 e 18/12) após a realização da 11ª Plenária do IPBES, em Windhoek, na Namíbia.

Os relatórios apontam para a geração de 295 milhões de empregos e oportunidades de mais de US$ 10 trilhões em negócios até 2030 em atividades sustentáveis ou centradas na natureza. Os prejuízos causados pela falta de ação seriam superiores ao dobro desse valor.

Os documentos apontam ainda para a necessidade de uma reconexão das pessoas com a natureza, de forma a fazer com que os 75% da população mundial que vivem em cidades mudem hábitos para conter a destruição da biodiversidade no planeta e suas consequências, como a perda de polinização, chuva, alimento e outros serviços prestados pela natureza.

Os sumários são resultado de dois diagnósticos construídos a partir da primeira avaliação global do estado da natureza, publicado pelo IPBES em 2019 (leia mais em: agencia.fapesp.br/30430).

Na ocasião, o documento apontava que a única forma de atingir objetivos de desenvolvimento sustentável seria por meio de mudanças transformadoras, tema de um dos relatórios divulgados agora, Assessment Report of the Underlying Causes of Biodiversity Loss and the Determinants of Transformative Change and Options for Achieving the 2050 Vision for Biodiversity.

“Uma mensagem importante é o custo da inatividade. Se continuarmos a fazer o de sempre, isso terá um custo alto nos próximos anos. Muito maior do que as oportunidades que existem, como a restauração ecológica, que gera uma grande quantidade de empregos e traz de volta uma série de serviços ecossistêmicos”, aponta Carlos Joly, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), membro da coordenação da Iniciativa Amazônia+10 e coordenador da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES).

Joly foi um dos revisores do capítulo 5 do diagnóstico que deu base para o sumário divulgado agora sobre mudanças transformadoras. Os diagnósticos são divulgados posteriormente aos sumários e não dependem de aprovação do plenário.

Mudanças transformadoras

O documento sobre mudanças transformadoras aponta seis conjuntos de intervenções que podem ser realizadas de forma complementar para que as transformações ocorram. São mudanças sistêmicas, estruturais, envolvem o empoderamento de grupos historicamente marginalizados, a cocriação entre ciência e outros sistemas de conhecimento tradicionais, o uso de avanços em ciência e tecnologia e a transformação interna das pessoas.

“Essa última é a mais difícil de acontecer, mas também a que pode trazer mais resultados de médio e longo prazo. É uma mudança de valores, de como as pessoas se relacionam com o ambiente em que vivem e seus padrões de consumo”, opina Cristiana Seixas, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam-Unicamp), membro da coordenação do Programa FAPESP para o Atlântico Sul e Antártica (PROASA https://fapesp.br/proasa) e autora de um dos capítulos do diagnóstico.

Biodiversidade, água, alimento e saúde

O outro sumário para tomadores de decisão lançado pelo IPBES foi o Assessment Report on the Interlinkages Among Biodiversity, Water, Food and Health, ou relatório Nexo. O documento leva em conta a ligação que a biodiversidade tem com a disponibilidade de água e alimento, além da saúde das pessoas.

“A base da discussão aqui é a humanidade como parte da natureza. A biodiversidade e os serviços ecossistêmicos compõem a vida da sociedade e essa visão integrada é uma das belezas do IPBES”, diz Jean Ometto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

Ometto é um dos autores do capítulo sobre governança do relatório Nexo. O documento destaca, entre outros temas, que abordagens de governança integrada podem ajudar a responder a desafios comuns relacionando biodiversidade, água, alimento, saúde e mudanças climáticas.

As abordagens devem focar em políticas públicas, instituições e ações que promovam integração, inclusão, equidade e responsabilidade. No entanto, as ações existentes, que normalmente têm como ponto de partida perspectivas setoriais, acabam resultando em uma governança desalinhada, redundante e inconsistente, falhando em causar mudanças positivas.

“A adaptação para as mudanças climáticas numa cidade, por exemplo, não pode ser setorial. Existem diferentes instâncias, territórios, camadas sociais que estão sendo e serão afetados pelas enchentes ou pela falta de chuvas, por exemplo. Por sua vez, estes afetam aspectos como saúde, acesso ao alimento, transporte. É preciso interligar as ações para que as soluções tenham um espectro mais amplo e duradouro, tirando o melhor proveito de cada uma delas”, observa o pesquisador.

Para Joly, o ponto principal dos dois relatórios, que resultam de uma demanda dos 188 países signatários da Convenção sobre a Diversidade Biológica, é a mudança de modelo econômico, atualmente baseado na exploração predatória de recursos naturais. As mudanças propostas não apenas trazem a perspectiva da recuperação de serviços ecossistêmicos, como também oportunidades para um desenvolvimento econômico mais justo para todos.

Matéria – André Julião | Agência FAPESP
Imagem – Ligação entre biodiversidade, água, alimento e saúde foi o tema de um dos relatórios lançados nesta semana por painel de especialistas (foto: Jonathan Filskov Photography)

 

27 de dezembro de 2024 0 comentários
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Experimento obtém filmes de multicamadas por eletrodeposição

por jornalismo-analytica 20 de dezembro de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Uma pesquisa do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) descreveu a obtenção de filmes de multicamadas que poderão eventualmente ser aplicados como fotoeletrocatalisadores para obtenção de hidrogênio a um custo baixo. Esse gás é uma opção futura como combustível limpo para veículos e geradores.

O CDMF é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Os filmes multicamadas são compostos de incontáveis produtos plásticos utilizados nos mais diferentes segmentos. Eles são comumente utilizados em embalagens de produtos alimentícios em função de propriedades importantes como resistência mecânica, barreira ao oxigênio, brilho e transparência, aliadas à facilidade de processamento e um custo compatível.

Os pesquisadores do CDMF utilizaram nanoestruturas de cobre como óxido cúprico do tipo p (p-CuO) combinadas com óxido cuproso do tipo n (n-Cu2O) e monossulfeto de cobre (CuS) como fotocátodos para a reação de separação da água em oxigênio e hidrogênio.

A fabricação envolveu a deposição de cobre em substratos por eletrodeposição, seguida de anodização para gerar nanoagulhas de hidróxido de cobre (II), que foram transformadas em nanofios de óxido de cobre (I) por meio da técnica de recozimento. Depois, partículas de Cu2O e CuS foram depositadas por eletrodeposição, técnica que consiste na imersão do material para ser revestido em uma solução eletrolítica com ânions, e pelo método de adsorção de camada iônica e reação sucessiva.

A fotocorrente nos filmes do tipo CuO/Cu2O/CuS foi alta e, associada à facilidade demonstrada para a produção desses materiais e ao baixo custo do processo, indica se tratar de um material promissor para uso nos processos de produção de hidrogênio com energia solar.

O estudo foi publicado no artigo “Enhanced photoelectrochemical water splitting using nanostructured films: p-CuO sensitized with polyhedral n-Cu2O particles and CuS as photocathode”, na revista científica Materials Advances.

*Com informações da Assessoria de Imprensa do CDMF.

Matéria – Agência FAPESP *
Imagem – Os pesquisadores utilizaram nanoestruturas de cobre como óxido cúprico do tipo p (p-CuO) combinadas com óxido cuproso do tipo n (n-Cu2O) e monossulfeto de cobre (CuS) como fotocátodos para a reação de separação da água em oxigênio e hidrogênio (imagem: CDMF)

20 de dezembro de 2024 0 comentários
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Centro de Ciência para o Desenvolvimento vai ajudar cidades a se adaptarem às mudanças climáticas

por jornalismo-analytica 19 de dezembro de 2024
escrito por jornalismo-analytica

A FAPESP e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) lançaram no dia 10 de dezembro o Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) Cidades Carbono Neutro. Alguns dos objetivos da iniciativa são auxiliar os municípios a mitigar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) e se adaptar às mudanças climáticas, aumentando a resiliência da infraestrutura urbana.

Com recursos da ordem de R$ 31 milhões durante um período inicial de cinco anos, o centro terá a participação de mais de cem pesquisadores e 36 instituições, entre universidades do país e do exterior, empresas, prefeituras, secretarias, órgãos do governo, entidades do terceiro setor e representantes da sociedade civil.

“Os Centros de Ciência para o Desenvolvimento, que começaram a ser criados nos últimos quatro anos pela FAPESP em parceria com universidades, instituições de pesquisas, secretarias de Estado e outros órgãos de governos, têm permitido canalizar um grande conjunto de competências que estavam difusas ou que não estavam focadas para a solução de problemas enfrentados pelo Estado de São Paulo”, disse Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, na cerimônia de lançamento do novo centro.

“Já foram aprovados 49 projetos e aplicados R$ 430 milhões nesse programa. Ao todo, a FAPESP aportou nos últimos três anos mais de R$ 1 bilhão em iniciativas como essa que procuram resolver problemas da sociedade”, afirmou o dirigente.

As pesquisas realizadas no âmbito do CCD Cidades Carbono Neutro serão voltadas a desenvolver e aplicar tecnologias inspiradas na natureza, como a bioengenharia, a fim de aumentar a resiliência urbana aos impactos das mudanças climáticas, como a formação de ilhas de calor, a escassez hídrica e tempestades intensas, e aumentar a captura de GEE, como o gás carbônico (CO2) e o metano.

Outras frentes de trabalho serão a utilização de gêmeos digitais (modelos virtuais de objetos físicos) e computação para monitorar e melhorar a eficiência de edificações e fomentar a transferência de conhecimento por meio da promoção de políticas públicas e da criação de redes de inovação e parcerias estratégicas.

“O Centro de Ciência para o Desenvolvimento Cidades Carbono Neutro nasce com a missão de trazer mais resistência e sustentabilidade urbana por meio do desenvolvimento e aplicação de tecnologias inovadoras. A ciência será uma aliada na criação de cidades mais resilientes e eficientes na captura de gases de efeito estufa”, disse Anderson Correia, presidente do IPT.

Os pesquisadores participantes da iniciativa terão como meta mapear a descarbonização do Estado de São Paulo nos principais setores e elaborar planos de ação específicos e buscar implementar provas de conceito e protótipos de uma plataforma para o monitoramento, descarbonização e aumento da eficiência dos serviços públicos.

“Queremos contribuir para a geração de políticas públicas e multiplicação do conhecimento. Dessa forma poderemos atender às necessidades atuais das cidades de promover bem-estar, solidez econômica e uma sociedade saudável em todos os sentidos, sem comprometer a vida das gerações futuras, equilibrando de modo harmônico os aspectos sociais, ambientais e econômicos”, sublinhou Liedi Bernucci, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) pesquisadora responsável pelo projeto.

Outras metas do centro serão desenvolver pilotos experimentais para validação de resultados, consolidar planos, estratégias e um portfólio de iniciativas focadas na descarbonização, no monitoramento e na melhoria da eficiência dos serviços urbanos nas cidades.

“As mudanças climáticas ficam muito palpáveis quando acontecem tragédias como as registradas recentemente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em São Sebastião, em São Paulo. Mas elas já fazem parte do nosso dia a dia e, por isso, é preciso encará-las e fazer o possível para reduzir os impactos”, disse Stephanie Costa, secretária executiva da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo e presidente do conselho de administração do IPT.

Entre as cidades paulistas que já aderiram ao centro estão Sorocaba, Santos e São José dos Campos.

Situada no Vale do Paraíba paulista, São José dos Campos tem 68% do território em área rural, ressaltou o prefeito da cidade, Anderson Farias. “Produzimos aviões e também queijos e temos muito o que fazer em relação a adaptação às mudanças climáticas. Tivemos sorte de ter a cidade escolhida para essa parceria com o novo centro, mas nosso desejo é que todas as outras cidades da região do Vale do Paraíba também possam participar para agirmos juntos”, ponderou.

O exemplo europeu

A conexão do governo, academia, mercado e sociedade civil em uma rede para enfrentar os desafios climáticos, como a estabelecida pelo novo centro, é vital para descarbonizar as cidades, avaliou Paulo Ferrão, professor do Instituto Superior Técnico de Lisboa e presidente do conselho da missão da União Europeia “Cidades com impacto neutro no clima e inteligentes”, na qual o novo centro se inspirou.

O continente europeu tem a meta de se tornar climaticamente neutro até 2050. Para atingir esse objetivo, lançou uma missão com o intuito de acelerar a transição nas cidades, uma vez que são responsáveis por mais de 70% das emissões globais de GEE.

Serão apoiadas cem cidades europeias e mais 12 fora da Europa, entre 377 candidatas. Das selecionadas, 52 já tiveram seus planos para se tornarem neutras em termos climáticos aprovados pela União Europeia.

“Constatamos que os municípios têm um alcance de ação de menos de 10% para atingir as metas. Já o limite de ação dos cidadãos, que decidem pela compra de automóveis, por exemplo, varia entre 30% e 50%, e o de outros setores da sociedade, como as empresas, varia entre 40% e 90%. Por isso planos como esse têm que envolver todos esses elos”, ponderou Ferrão.

A fim de assegurar que os benefícios proporcionados pelas cidades neutras em carbono sejam desfrutados pela população como um todo, é preciso que elas disponham de bons sistemas de governança, sublinhou Manuel Heitor, também professor do Instituto Superior Técnico de Lisboa e ministro da Ciência, Tecnologia e Educação Superior de Portugal no período de 2015 a 2022.

“As cidades neutras em carbono têm de ter sistemas adequados de governança para facilitar o desenvolvimento econômico e social da população como um todo”, afirmou.

Matéria – Elton Alisson | Agência FAPESP
Imagem – O Centro terá a participação de mais de 100 pesquisadores e 36 instituições, entre universidades do país e do exterior, empresas, prefeituras, secretarias, órgãos do governo, entidades do terceiro setor e representantes da sociedade civil (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

19 de dezembro de 2024 0 comentários
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Aplicativo pode ajudar deficientes auditivos a consumir música

por jornalismo-analytica 13 de dezembro de 2024
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Com o intuito de incluir as pessoas que possuem alguma deficiência auditiva no universo sonoro e musical, Rafael Zinni Lopes, doutorando pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP) e ex-bolsista da FAPESP, desenvolveu o Timbrasom, aplicativo que transforma os sons em vibrações rítmicas.

O Timbrasom é capaz de traduzir as ondas sonoras em vibrações por meio do smartphone, como se o celular dançasse na palma da mão do usuário. O aplicativo possui duas funções principais: a primeira é que consegue traduzir o som ambiente em vibrações. Já a segunda função permite a tradução do áudio de outros aplicativos do smartphone de forma simultânea, como YouTube e Netflix, por exemplo.

Atualmente, o aplicativo está disponível gratuitamente para qualquer celular Android e não requer processadores fortes. O aplicativo é um produto mínimo viável, o que significa que ele está em uma versão mais básica, mas já com as funções e recursos fundamentais. Segundo Lopes, o programa está sendo refinado aos poucos, mas a tecnologia já está pronta para ser usada para traduzir sons ambientes e sons de outros aplicativos por meio do smartphone.

Lopes explica que uma das inspirações para a criação do aplicativo foi quando ele estagiava no Laboratório Bioma da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, onde trabalhou com trote de cavalos, e ao ter que diferenciar esses trotes acabou aprendendo os parâmetros sonoros. Nesse estágio, o doutorando do ICMC desenvolveu atividades focadas em programação e para entender as características do som. Dessa maneira descobriu essa aptidão para a computação.

O criador do aplicativo conta que participou de um hackathon, uma maratona de programação em que desenvolvedores de software se reúnem por horas. O objetivo nesse caso foi trazer mais pessoas para o mundo da música, e assim surgiu a ideia de criar o Timbrasom. O aplicativo inclui deficientes auditivos nesse universo musical. Ele foi desenvolvido em conjunto com um dos participantes desse hackathon, Victor Dias de Oliveira, e demorou três anos para ser produzido.

O aplicativo consegue traduzir até as ondas sonoras mais agudas, segundo Lopes: “Eu participei de uma sinfônica, em Utah, nos Estados Unidos, e consegui, por meio do Timbrasom, traduzir o agudo do violino para os patronos surdos da Utah Symphony, mesmo sendo ondas muito agudas”. Além disso, as vibrações podem trazer uma experiência sensorial nova para pessoas que não tenham nenhum grau de surdez. O pesquisador diz que não é só ouvir, mas sentir a música e os sons na palma da mão, o que promove uma nova relação sensorial com o universo musical.

Inclusão e outros dispositivos

O Timbrasom pode apresentar uma nova forma de consumir sons, mas também gerar inclusão na produção de arte. Segundo Lopes, já existem projetos para auxiliar, principalmente as crianças com algum nível de surdez, a tocar instrumentos musicais. Um exemplo é ajudar uma criança a tocar bateria, com o aplicativo no bolso, traduzindo em tempo real o som da bateria.

A ferramenta pode promover também aulas de dança para deficientes auditivos, porque o ritmo musical é traduzido em ritmo vibracional, possibilitando uma nova expressão corporal para esse grupo.

Projetos de desenvolvimento de novos dispositivos que complementam a ferramenta estão em desenvolvimento. “Eu já conversei como uma empresa de automóveis para desenvolver comandos acessíveis para pessoas surdas nos carros, transformando o som em vibração, para a pessoa ter uma percepção melhor tanto do ambiente interno, dentro do carro, quanto do ambiente externo”, afirma o doutorando.

Outros dispositivos que poderiam melhorar a eficiência do Timbrasom são braceletes que seriam conectados via bluetooth. “Imagine um pai que é ouvinte e fala com um filho surdo, colocando o bracelete no filho é possível que o pai se comunique com ele de outro ambiente ou cômodo, transformando a voz dele em vibrações e, através das vibrações, o filho entende o comando de voz”, explica.

Outra ferramenta que pode complementar o aplicativo são óculos com legendas simultâneas, uma tecnologia que ainda não é presente no Brasil, conectando vibração, legendas e até mesmo Libras, trazendo uma experiência completa.

*Com informações da Assessoria de Comunicação do ICMC-USP.

Matéria – Agência FAPESP
Imagem – O aplicativo possui duas funções : a primeira consegue traduzir o som ambiente em vibrações e a segunda função permite a tradução do áudio de outros aplicativos do smartphone de forma simultânea, como YouTube e Netflix (imagem: Divulgação)

13 de dezembro de 2024 0 comentários
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Notícias

Bioplástico: falta de padronização e de regras claras dificulta consumo sustentável, diz estudo

por jornalismo-analytica 10 de dezembro de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Uma revisão da literatura sobre bioplásticos, aliada à análise das legislações europeia e brasileira, revela que a falta de padronização global tem dificultado a adoção de soluções sustentáveis e contribuído para o greenwashing – prática de marketing que promove enganosamente produtos como sendo ecológicos. Artigo publicado no periódico Sustainability argumenta que instituições intermediárias – como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), no Brasil, ou a International Organization for Standardization (ISO), no cenário internacional – deveriam desempenhar um papel central na normatização desse mercado.

O trabalho, realizado por um grupo interdisciplinar composto por professores e pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), das áreas de engenharia de alimentos, engenharia química, economia e direito, membros da Rede All4Food, recebeu apoio da FAPESP por meio de dois projetos (21/11967-6 e 20/13307-0).

“Investigamos como as instituições intermediárias podem criar definições globais claras para os bioplásticos, protegendo os consumidores do greenwashing e contribuindo para a transição rumo a uma economia circular, na qual os resíduos sejam transformados em recursos. Nosso estudo destaca o papel dessas instituições em traduzir regras macroinstitucionais, estabelecendo normas técnicas e monitorando seu cumprimento”, diz Vivian Lara Silva, professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA-USP), no campus de Pirassununga, e primeira autora do artigo.

Segundo Maria Teresa Freire, também professora da FZEA-USP e coautora do artigo, existe hoje uma confusão conceitual entre termos como “bioplástico”, “bio-based” [baseado em biomassa, segundo a International Union of Pure and Applied Chemistry – Iupac], “biodegradável” e “compostável”. Um plástico pode ser de origem biológica ou de base biológica, mas não necessariamente biodegradável e/ou compostável. Como exemplos, ela cita materiais não biodegradáveis de origem biológica ou de base biológica que são quimicamente idênticos a produtos de origem fóssil, tais como o polietileno (PE), produzido a partir do etanol de cana-de-açúcar, e tereftalato de polietileno de base biológica (PET), produzido a partir de amido de milho.

“Ao associar o prefixo ‘bio’ a um material, o consumidor pode achar que está comprando algo que degrada rapidamente em condições naturais e que não causa impactos ao meio ambiente. Pode acreditar que o comportamento desse material é diferente daquele que ocorre nos lentos processos de degradação de materiais provenientes de derivados de petróleo, que levam décadas, e reconhecidamente geram microplásticos. Porém, um material obtido a partir de fonte renovável também pode necessitar de condições específicas para degradação”, afirma.

Um exemplo mencionado por ela é o ácido poliláctico (PLA), produzido a partir de amido de milho ou de cana-de-açúcar. Esse material é considerado biodegradável, por ser compostável segundo padrão ISO. Porém, não se degrada com sucesso no ambiente natural pela ação de microrganismos e à temperatura ambiente. Em condições industriais, degrada-se entre seis e nove semanas e, no oceano, pode levar um ano e meio. É usado principalmente na indústria de alimentos para produção de descartáveis, como copos, talheres, pratos, bandejas e recipientes para alimentos.

“Há materiais de origem biológica ou de fontes renováveis que necessitam de altas temperaturas para degradar ou necessitam de tratamentos específicos em composteiras ou digestores municipais, ou ainda em aterros sanitários específicos, sob condições definidas e testadas. Por outro lado, há também materiais provenientes de origem fóssil que são biodegradáveis a exemplo do poli(butileno adipato co-tereftalato) (PBAT). Diversos produtos baseados em PBAT encontram aplicação para sacolas, sacos de lixo, talheres e filme de cobertura, entre outras possibilidades”, informa Freire.

A pesquisadora acrescenta que é preciso considerar também que estudos científicos trazem à tona questionamentos sobre a produção de microplásticos nos processos de degradação de materiais biodegradáveis. E que se deve levar em conta ainda que, para além da formação de microplásticos, a decomposição na compostagem produz gás metano, contribuindo para o aquecimento global.

Na medida em que o conhecimento tecnológico avança, fica evidente a grande diversidade de produtos finais obtidos pela combinação de diferentes biopolímeros, que, associados a outros polímeros de base biológica ou não e a outras substâncias (aditivos), permitem uma gama variada de aplicações industriais. Nessa perspectiva, avançam igualmente os estudos científicos que buscam compreender e avaliar os mecanismos de degradação dessas composições, tendo em vista que diferentes combinações de materiais podem apresentar comportamentos distintos para a decomposição, seja em ambiente controlado ou natural.

“Ademais, é preciso conhecer os impactos ambientais provocados pelo conjunto de substâncias que correspondem aos resíduos formados no processo de degradação. Esses desafios são peças de um grande quebra-cabeça que ainda não formam uma imagem bem definida. As mesoinstituições podem dar uma importante contribuição para o encaixe dessas peças, constituindo a ponte entre as macro e as microinstituições envolvidas no universo dos bioplásticos”, comenta Silva.

Diante da abrangência e complexidade do tema, deve-se, além de compreender os reais impactos causados ao meio ambiente, buscar a unificação da linguagem e entendimento entre especialistas e pesquisadores – passos essenciais para ações mais concretas relacionadas à saúde do planeta, ao atendimento de exigências climáticas e à redução da extinção de espécies, problemas ambientais urgentes da atualidade. A falta de definições precisas e claras gera um entendimento equivocado e cria grandes dificuldades para quem está produzindo, comercializando e usando esses materiais. E a situação é agravada pela falta de harmonia regulatória, o que impede a adoção, em escala global, de soluções verdadeiramente sustentáveis.

“Um dos maiores problemas é que não há consenso sobre o que caracteriza um bioplástico. Na União Europeia, por exemplo, não existe uma definição oficial. E, sem essa definição, fica difícil para as empresas atuarem de maneira transparente”, informa Vitor de Batista, mestre pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP-USP) e coautor do artigo. Ele destaca que a ausência de normas claras não apenas gera confusão no mercado, mas também impede que inovações sustentáveis recebam o apoio regulatório necessário para prosperarem.

De acordo com os pesquisadores, cabe às instituições intermediárias a responsabilidade por estabelecer essas normas, com padrões e parâmetros nacional e internacionalmente acordados. “O papel dessas instituições é traduzir a legislação macroinstitucional em normas técnicas aplicáveis. E monitorar o seu cumprimento”, pontua Freire.

O artigo também sugere que soluções tecnológicas para o desenvolvimento de novos materiais precisam estar alinhadas com esforços de conscientização pública. “A educação ambiental é crucial nesse processo. É uma falácia acreditar que podemos ter um sistema alimentar completamente livre de plástico. Mas podemos e devemos reduzir o consumo excessivo de plásticos, muitos dos quais se popularizaram sem uma necessidade real”, sublinha Silva.

Para um efetivo processo de comunicação entre a ciência e a sociedade, é crucial a harmonização das definições para que se construa uma linguagem única e sem ambiguidades que possibilite ao mercado e aos educadores disseminar o conhecimento em uma só voz.

Parte do grupo de pesquisadores envolvido na revisão da literatura sobre bioplásticos está atualmente colaborando em outra frente de trabalho: Centro de Ciência para o Desenvolvimento de Soluções para os Resíduos Pós-Consumo: Embalagens e Produtos (CCD Circula). Apoiado pela FAPESP, o centro é liderado pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) https://ital.agricultura.sp.gov.br/ e está embasado no modelo de “tríplice hélice”, em que governo, institutos de pesquisa e universidades e empresas colaboram na busca de soluções socialmente relevantes.

O artigo Bioplastics and the Role of Institutions in the Design of Sustainable Post-Consumer Solutions pode ser acessado em: www.mdpi.com/2071-1050/16/12/5029.

Matéria – José Tadeu Arantes | Agência FAPESP
Imagem – Segundo os pesquisadores, existe uma confusão conceitual entre termos como “bioplástico”, “bio-based”, “biodegradável” e “compostável” (foto: Freepik*)

 

10 de dezembro de 2024 0 comentários
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Método permite monitorar a produção de hidrogênio em reatores

por jornalismo-analytica 28 de novembro de 2024
escrito por jornalismo-analytica

Pesquisadores do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON) e do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) desenvolveram um novo método para o monitoramento da produção de hidrogênio em eletrolisadores – reatores que produzem hidrogênio e oxigênio gasoso a partir de água líquida por meio da aplicação de uma corrente elétrica.

O hidrogênio é um gás de uso na indústria química e alimentícia, mas também existe a perspectiva de empregá-lo como combustível em veículos e geradores. Quando a energia utilizada em sua produção é exclusivamente renovável, solar ou eólica, por exemplo, é possível obter o chamado hidrogênio verde.

“Para que o eletrolisador produza hidrogênio puro, é preciso garantir que, após o processo de eletrólise da água, oxigênio e hidrogênio não se misturem novamente dentro do reator. Identificamos que é possível fazer esse controle tendo como base o monitoramento do escoamento do líquido que passa entre o hidrogênio e o oxigênio por meio de análise de imagem”, explica Rodrigo de Lima Amaral, pesquisador vinculado ao RCGI – um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), que conta com apoio de diversas empresas.

Com a nova abordagem, já com patente depositada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), é possível verificar a obtenção do hidrogênio puro a partir de técnicas mais econômicas, como o uso de reatores que fazem a eletrólise da água sem uma membrana de separação.

Vantagens econômicas

A eliminação de membranas ou diafragmas da arquitetura das células reduz os custos de fabricação e aumenta a sua durabilidade. A separação entre oxigênio e o hidrogênio gerado é feita principalmente pelo escoamento do líquido dentro do reator, que mantém as bolhas formadas durante a eletrólise da água presas na parede. Antes dessa nova forma de monitoração, existia nesses casos uma dificuldade para verificar o grau de pureza do hidrogênio produzido.

O método desenvolvido por cientistas do RCGI e do CCARBON – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) – permite extrair informações quantitativas dos componentes do escoamento multifásico dentro do reator por meio da análise de imagens do fluido.

“A dificuldade estava em ter de monitorar cada bolha individualmente nesse processo, sendo que elas tendem a se sobrepor na imagem. Por meio de uma técnica já conhecida e chamada de optical flow, foi possível analisar pixel a pixel as imagens do escoamento e, com isso, identificar em que regiões do reator não há cruzamento de bolha de hidrogênio e de oxigênio”, explica o pesquisador.

Compensando limitações

Amaral conta que, embora a optical flow seja uma técnica amplamente utilizada, nunca tinha sido alvo na produção de hidrogênio. “É usada para o monitoramento de qualquer movimentação que provoque o deslocamento do pixel na imagem, como identificar carros em rodovias ou rastrear pessoas em câmeras de segurança. No RCGI temos utilizado em pesquisas variadas, como rastrear o escoamento em tanques de petróleo, avaliar bombas cardíacas e analisar a formação de redemoinhos em Marte”, conta.

Mas, para o caso específico dos eletrolisadores, os pesquisadores precisaram corrigir as limitações da optical flow. “Associamos imagem e ruído em uma mesma análise. Percebemos que, ao aplicar a técnica nesse contexto, surgiram várias fontes ruidosas que poderiam sinalizar a formação de bolhas que na verdade não existem. Diante disso, desenvolvemos novos filtros para eliminar o ruído, tornando o monitoramento muito mais preciso e viável”, pontua.

Além de contribuir para o monitoramento da produção de hidrogênio puro em reatores sem membrana, o novo método possibilita a fabricação de reatores mais estáveis e baratos. “Trata-se de um projeto que viabilizará o desenvolvimento de novos reatores para a produção de hidrogênio. E que pode ser utilizado para o monitoramento e a análise de qualquer escoamento multifásico. Por exemplo, na indústria de bebidas, para analisar a qualidade e o borbulhamento de bebidas gaseificadas”, acrescenta Julio Meneghini, diretor científico do RCGI e professor da Poli-USP.

* Com informações do RCGI.

Matéria – Agência FAPESP*
Imagem – O hidrogênio é um gás de uso na indústria química e alimentícia, mas também existe a perspectiva de empregá-lo como combustível em veículos e geradores (imagem: Freepik)

28 de novembro de 2024 0 comentários
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