Quatro em cada cinco executivos consideram a geração de retornos aceitáveis a principal barreira para reduzir emissões, aponta Bain
O terceiro relatório anual de Energia e Recursos Naturais Globais da Bain mostra que, apesar do otimismo de executivos de energia e recursos naturais em relação a seus objetivos de longo prazo em direção ao zero líquido, é esperada uma desaceleração na taxa de descarbonização no curto prazo, principalmente em razão da turbulência nos mercados de energia no ano passado. Os especialistas acreditam que a escassez de gás natural fornecido pela Rússia será compensada por uma maior queima de carvão e muitos esperam uma mudança de foco para lidar com a escassez e a acessibilidade nos próximos anos.
A consultoria estratégica entrevistou mais de 600 executivos globais de energia e recursos naturais para avaliar suas opiniões e iniciativas para promover a transição energética, como suas empresas estão lidando com essas mudanças e quais barreiras eles veem à frente.
Otimismo em relação ao próprio progresso
Apesar de acreditarem que esta é uma desaceleração temporária, os executivos estão relativamente otimistas sobre sua própria capacidade em atingir metas de net-zero. A maioria considera que suas empresas têm um desempenho superior ao do resto do mundo na redução de emissões. Pelo segundo ano consecutivo, os participantes da pesquisa, em média, julgam que o mundo pode alcançar emissões líquidas de carbono zero até 2057.
Em geral, eles creem que as reduções de emissões vão seguir no ritmo atual até 2030 e, a partir daí, ganharão velocidade até chegar a 2057. Para isso, muita coisa teria de mudar depois de 2030, incluindo um aumento nos investimentos em energia limpa do atual US$ 1 trilhão para US$ 4 trilhões até 2030, segundo a Agência Internacional de Energia.
No Brasil, mais de 50% dos entrevistados acreditam que estão com desempenho melhor que o restante do mundo. Contudo, por aqui, o otimismo é maior: os executivos têm esperanças de que o mundo pode atingir o net-zero mais cedo, até 2050. “A avaliação da Bain é de que o otimismo no Brasil seja maior porque as alternativas de energia limpa são mais tangíveis para nós do que em outras economias. A rota talvez seja mais suave pois o Brasil tem baixa dependência de termoelétricas, por exemplo”, afirma Daniela Carbinato, sócia da Bain & Company.
Investir em novos negócios em crescimento
Em 2023, as empresas têm a intenção de implementar cerca de um quarto de seu capital para novos negócios em crescimento – grande parte com foco em tecnologias de baixo carbono. Os entrevistados afirmam não estarem preocupados em buscar capital para esses negócios de baixo carbono e menos de 20% expressam preocupações significativas sobre acesso ao capital. Entre os respondentes brasileiros, porém, 24% consideram esse quesito mais relevante do que a média mundial, mas ainda atrás do retorno sobre investimento, ponto de apreensão para a maior parte dos entrevistados no país, mencionado por 64% dos executivos.
Quatro em cada cinco entrevistados consideram que a principal barreira à descarbonização é a capacidade de gerar retornos aceitáveis em projetos. Suas inquietações são baseadas na relutância dos clientes em pagar valores mais altos, o que pode dificultar a expansão de negócios de baixo carbono. Para resolver essa questão, essas empresas precisam contar com políticas públicas e apoio regulatório.
“O retorno dos investimentos sempre foi um tópico importante na discussão de transição energética, principalmente porque a indústria de energia é altamente intensiva em capital empregado (capex) e parte dos projetos de transição energética envolve investimentos volumosos (como tecnologia de captura de carbono, por exemplo). Os projetos do setor se pagam ao longo de 20 e 30 anos depois de feito o investimento, ou seja, se baseiam em uma visão de longo prazo”, explica a sócia da Bain.
Resiliência diante das mudanças climáticas
Um outro ponto de preocupação é a questão da resiliência. O levantamento da Bain revela executivos confiantes ou muito confiantes sobre a resiliência de suas empresas aos efeitos físicos das mudanças climáticas – embora ainda não se saiba se essa confiança é justificada. Ao observar os setores de energia e recursos naturais, a Bain entende que os riscos aos ativos físicos podem ser maiores do que muitas empresas antecipam, e essas ameaças não foram totalmente consideradas no planejamento e na aplicação de capital.
Os executivos estão mais apreensivos com outros aspectos da resiliência: menos de um em cada cinco está muito confiante em relação aos gargalos da cadeia de suprimentos, que provavelmente serão ainda mais intensos à medida que negócios com novas demandas de suprimentos comecem a crescer – como diferentes matérias-primas para reciclagem ou biocombustíveis.
No Brasil, além da inquietação sobre as políticas governamentais, cerca de 30% dos executivos de Óleo e Gás apontam restrições da cadeia de suprimentos como barreira, enquanto na América do Norte apenas 3% mencionam esse ponto. O país também apresenta percepções diferentes na área de Energia, onde a preocupação com tecnologia e velocidade de licenciamento é baixa, três vezes menor que média global nos dois casos, mas menção à falta de suporte governamental é mais alta, mencionada por 3 em cada 4 executivos.
Outro desafio que se destaca é a capacidade das organizações em desenvolver e encontrar talentos para atuar em negócios de baixo carbono. Cerca de 60% dos executivos esperam que as tecnologias digitais e de inteligência artificial mudem significativamente seus negócios até 2030, mas não conseguem os profissionais certos para ajudá-los a gerenciar a mudança. Além disso, cerca de uma em cada três empresas relatam dificuldade em encontrar os engenheiros de que precisam e uma em cada quatro apresenta problemas para contratar trabalhadores da linha de frente.
Os executivos brasileiros também identificam a escassez de talentos como uma barreira relevante e têm ainda mais dificuldade em atrair e reter experts em engenharia e digital. Além disso, 70% deles preveem um grande impacto do digital e da inteligência artificial até 2030. Contudo, ao contrário da tendência mundial, os brasileiros experimentam um cenário mais favorável em relação aos trabalhadores da linha de frente, bem como uma relativa escassez para talentos de assuntos regulatórios e jurídicos.
Embora os executivos de energia e recursos naturais vejam desafios reais na regulamentação, políticas públicas, falta de talentos e escalada de novos negócios, eles continuam comprometidos em ampliar de forma contínua o investimento de capital, desempenhando sua parte no caminho tortuoso do mundo em busca do net-zero até o final da década de 2050.
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