Produtores de cana chegam a prejuízos de R$ 1 bilhão e questionam faturamento das usinas
Para que a cana-de-açúcar se transforme em açúcar ou etanol, há sempre um produtor e uma usina por trás. No entanto, a realidade entre os custos de produção para ambos está desleal, segundo a Organização das Associações de Produtores de Cana-de-Açúcar do Brasil (ORPLANA). De acordo com a entidade, os produtores chegam a prejuízos de mais de R$ 1 bilhão considerando a colheita de 2023 e os custos de produção agora para próxima colheita.
A entidade alega que as unidades sucroenergéticas possuem uma receita média em torno de R$ 390 por tonelada moída, e um EBITDA — o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização — próximo a R$ 190 por tonelada de moagem efetiva, representando ganhos financeiros às usinas. Na outra ponta, os produtores têm prejuízo de R$ 17,03 por tonelada.
“O modelo de pagamento aos produtores está defasado há cerca de 10 anos e não houve atualização do estatuto em 2023, como era esperado. Então, é um preço e formato que precisa ser revisto, principalmente para observar as divergências dos custos de produção de produtores e da indústria”, afirma José Guilherme Nogueira, CEO da Organização.
Desde a desregulamentação do setor, em 1998, as normas e regras dos preços para quem planta e industrializa são pautadas pelo Conselho dos Produtores de Cana, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana), composto pela Orplana e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).
Custos desiguais
Índice de fermentação, perdas industriais, bagaço excedente, entre outros fatores, não têm sido revistos na hora de considerar custos e preço pago, explica José Guilherme Nogueira. Em relação à safra 2023/2024, ele diz que os modelos de comercialização não estão remunerando corretamente, pois nenhum deles está cobrindo as despesas de quem produz.
Além da desigualdade no custo de produção, o CEO da entidade afirma que o estatuto do Consecana está desatualizado em relação ao momento do setor sucroenergético. Por exemplo, segundo ele, as usinas têm recebido 100% dos Créditos de Descarbonização (CBIOs) e repassado somente 50% aos produtores.
Do lado das usinas
Na perspectiva da Unica, “os números apresentados pela ORPLANA não representam a realidade do mercado de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo”. “A afirmação de que a maior parte dos produtores não recebe nenhum tipo de prêmio ou bonificação adicional ao valor de referência publicado pelo CONSECANA-SP”, diz em comunicado.
Em nota, a entidade representante das usinas diz ser favorável à revisão dos aspectos técnicos e econômicos, bem como sugeriu a contratação de empresa externa para elaborar um novo estudo que avalie a atual situação do mercado de cana-de-açúcar no estado de São Paulo.
Matéria – EXAME, por Mariana Grilli