Por que a ABPIP decidiu protocolar essa manifestação contrária à venda da Gaspetro?
A situação referente à venda da participação da Gaspetro causa estranheza. Se a própria Petrobrás não poderia ter uma condição que a Compass pretende ter, então não faz muito sentido o que está estabelecido nessa tentativa de venda. Essa é a visão da ABPIP, que é corroborada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e pelo Comitê de Monitoramento da Abertura do Mercado de Gás Natural (CMGN).
De que forma a operação pode ser prejudicial para as petroleiras independentes?
Para a associação, o efeito será prejudicial aos produtores independentes e seus investimentos para o ingresso no mercado de comercialização de gás. A ABPIP se preocupa com a possibilidade da conduta denominada como ‘self-dealing’, ou seja, o direcionamento da demanda das distribuidoras de gás para sua vertente de comercialização, fechando importante parcela desse mercado aos produtores.
Quais são os outros riscos inerentes?
Uma vez que venham surgir os fatos concretos que estamos demonstrando na manifestação ao CADE, será natural que os operadores independentes pensem duas vezes antes de aplicar novos recursos em blocos de exploração e produção. Assim, corremos o risco de revisitar aquele modelo onde o gás não era priorizado no portfólio dos operadores.
Quais são os principais pontos apresentados na manifestação?
A questão é que você não pode vender um ativo como a Gaspetro para qualquer grupo. A compradora precisa preencher alguns pré-requisitos. E um deles é não ser membro de outro elo da cadeia de óleo e gás. Então, nesse sentido, a nossa posição concreta é que essa venda não deve ser autorizada, porque fere os princípios da Lei do Gás e as diretrizes do Novo Mercado de Gás.
Nós temos visto algumas especulações na imprensa que, eventualmente, poderá haver um membro do CADE que vote a favor da venda, mas impondo medidas restritivas. Eu, sinceramente, não consigo enxergar quais medidas poderiam mitigar os riscos. Portanto, o que eu acho é que o país deveria fazer aquilo que está escrito na lei: a Petrobrás pode vender a Gaspetro para quem quiser, desde que o comprador atenda aos princípios legais.
Como o senhor mencionou, a ANP também se mostrou contrária à transação, inclusive sugerindo o reinício do processo de venda. A ABPIP compartilha dessa visão?
Quais são as expectativas da ABPIP em relação ao julgamento de hoje no CADE?
É importante que a sociedade brasileira esteja atenta ao julgamento de hoje no plenário do CADE. O conselho poderá adotar uma medida que nós julgamos adequada: a reabertura do processo de venda da empresa. No entanto, o CADE também pode permitir a venda e assumir as consequências de autorizar um descumprimento legal. Ou, eventualmente, o conselho pode trazer alguma solução que tente compatibilizar todas as preocupações relacionadas ao processo, algo que eu acho bem difícil. A partir da decisão que for tomada, existirão alguns desdobramentos. Imagino que esse processo será um pouco conturbado.
Eu acho que o ponto central desse debate é que é preciso ter coerência com o Novo Mercado de Gás, respeitar à lei e, principalmente, defender o consumidor final que arcará com as consequências se essa venda for adiante.
Fonte: Petronotícia