O uso dos MRC (Materiais de Referência Certificados) na validação dos métodos analíticos.
Por Eduardo Pimenta de Almeida Melo
Em inglês, Certified Reference Materials (CRM) ou em português, Materiais de Referência Certificados (MRC), ou ainda, no jargão da área, simplesmente, Padrões, são materiais destinados à análise ou ensaio acompanhados por um certificado, com um ou mais valores de propriedade, certificados por um procedimento que estabelece sua rastreabilidade à obtenção exata da unidade na qual os valores da propriedade são expressos, com cada valor certificado acompanhado por uma incerteza para um nível de confiança estabelecido[i].
O MRC tem múltiplas utilidades dentro de um laboratório, sendo que dentre as várias possibilidades, as que mais se destacam são: a calibração e controle metrológico de equipamentos, a verificação da exatidão e da precisão de métodos analíticos, a validação de métodos e o treinamento de analistas.
Em se tratando especificamente da validação de métodos analíticos, o MRC tem destacada relevância por se tratar da ferramenta que garante a comparabilidade entre o método já normalizado e o método em validação. A garantia da comparabilidade é de suma importância porque é através dela que se atesta a confiabilidade das medições, elimina-se possíveis barreiras técnicas comerciais e por consequência, uma garantia de justas relações de troca, além de permitir substanciais incrementos em termos qualidade, inovação e competitividade.
No entanto, ao optar pelo uso de um Material de Referência Certificado para análises minerais, em especial análises químicas ou metalúrgicas, há de se observar algumas peculiaridades que são próprias deste tipo de material. A mais importante delas é que o dito material de referência deve ter características que vão além da “quantidade da substância presente” e deve considerar, de fato, a quantidade de uma espécie química (ou mineral) em uma determinada matriz.
Também há de se levar em conta que o material a ser utilizado como validador deve ser suficientemente homogêneo e estável em relação à suas propriedades específicas. E, ainda, ter sido preparado para se adequar a utilização pretendida em uma medição ou um exame de propriedades qualitativas. A garantia desta estabilidade deve se dar não somente no momento atual, mas também ao longo do tempo em que está disponível para uso. Recentemente, tem-se visto por parte dos produtores de material de referência a recertificação do mesmo, buscando, assim atestar esta estabilidade ao longo do tempo de vida daquele minério (padrão) específico.
Já a homogeneidade, que é um dos itens mais complexos de se garantir quando se fala de análises minerais, deve ser garantida tanto no quantitativo total do minério que se realizou a certificação quanto dentro do extrato no qual o laboratório se encontra em posse e efetivamente realiza a análise ou ensaio. A simples segregação de partículas minerais pode ser a responsável por inconsistências entre os resultados analisados do MRC. Com isto, os valores certificados podem condenar ou aprovar métodos analíticos, sem que se possa ter a clara percepção dos motivos que levaram a isto.
Dada a importância deste validador na rotina das análises minerais e as peculiaridades que cercam o mesmo, é de bom tom que se utilize materiais de referência de fornecedores de extrema confiança e respeitada competência. Conforme a ABNT NBR ISO/IEC 17025, para a garantia da rastreabilidade das medições, validação de métodos, incerteza de medição e controle de qualidade, os laboratórios devem usar materiais de referência certificados, provenientes de um fornecedor competente, de forma a dar uma caracterização confiável, física ou química, de um material.
Uma boa forma de se verificar esta competência é se certificar que o fornecedor dos MRC atende as diretrizes do ISO/REMCO que é o Comitê Internacional da ISO que estabelece as diretrizes relacionadas à materiais de referência. O INMETRO é o órgão brasileiro responsável por acreditar produtores de materiais certificados segundo o ISO/REMCO.
A diretrizes que normatizam esta certificação estão traduzidas para português na norma ABNT NBR ISO 17034:2017 – Requisitos gerais para a competência de produtores de material de referência. E elas são fundamentais para garantir que se tenha MRC de qualidade sendo adequadamente produzidos e certificados, afiançando que as conclusões de validação obtidas por meio dele são as mais competentes possíveis.
Enfim, apesar das fortes modificações que o mercado analítico vem sofrendo ao longo dos últimos anos, com novos equipamentos, automação, modificação de métodos, o “bom e velho” padrão continua sendo cada vez mais importante e imprescindível.
[i] INMETRO. http://www.inmetro.gov.br/metcientifica/mrc.asp
Eduardo Pimenta de Almeida Melo é Engenheiro Químico, Gerente de Laboratórios da CSN Mineração, MBA em Gestão Empresarial, Pós–Graduado em Gestão de Laboratórios e Especializado em Data Science. Coordenador da Comissão de Estudos para Amostragem e Preparação de Amostras em Minério de Ferro para a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
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