Garantir resultados confiáveis sempre foi o objetivo central de qualquer laboratório ou setor de controle de qualidade. No entanto, em um cenário onde métodos analíticos se tornaram mais rápidos, sensíveis e automatizados, surgiu um desafio que se tornou central: não basta medir. É preciso demonstrar, com clareza e rastreabilidade, como o resultado foi obtido.
Esse princípio define a integridade de dados analíticos, um tema que hoje é determinante para auditorias, certificações e decisões técnicas em todos os segmentos da cadeia produtiva e laboratorial.
A integridade de dados está diretamente ligada à capacidade do laboratório de garantir que as informações geradas sejam completas, consistentes, verdadeiras, rastreáveis e protegidas contra alterações indevidas. Em outras palavras:
Por que esse tema ganhou tanta força?
Nos últimos anos, diversos setores como farmacêutico, cosmético, alimentos, veterinário, laboratórios clínicos e ambientais, passaram a lidar com cadeias produtivas mais complexas, sistemas informatizados, maior automação analítica e pressão regulatória crescente por transparência.
Agências como ANVISA, MAPA, FDA, EMA e organismos acreditadores (como os ligados à ISO 17025) passaram a questionar com mais profundidade como os resultados são registrados, armazenados, auditados e interpretados.
Não é mais suficiente apresentar o laudo: é necessário demonstrar o caminho analítico que levou até ele.
Onde surgem as falhas mais comuns?
Apesar de parecer um conceito abstrato, a perda de integridade ocorre justamente nas atividades mais rotineiras, por exemplo:
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Registros manuais feitos “depois” do ensaio
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Cópias paralelas de dados fora do sistema oficial
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Curvas de calibração refeitas sem justificativa
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Planilhas internas sem trilha de auditoria
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Dados ajustados para “melhorar a conformidade”
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Falta de controle de acesso a instrumentos e softwares
Em auditorias reais, não é o erro que preocupa, é a ausência de evidência clara e rastreável sobre o que ocorreu.
Instrumentação moderna ajuda, mas não resolve sozinha
A automação, ao longo do tempo, trouxe avanços importantes: sistemas cromatográficos registram sinais diretamente, espectrômetros armazenam arquivos brutos, softwares geram trilhas de auditoria e LIMS integra resultados em tempo real.
Entretanto, a ferramenta só garante integridade quando existe cultura de qualidade.
Sem treinamento, disciplina operacional e revisão crítica, até o melhor sistema pode gerar dados inconsistentes.
Reprodutibilidade e robustez como indicadores de maturidade
A integridade de dados é percebida quando:
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Resultados se mantêm consistentes ao longo do tempo
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O laboratório consegue explicar a origem e o contexto de cada número
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A interpretação é feita com base em critérios técnicos claros
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As conclusões são sustentadas por evidências rastreáveis
Isso representa uma mudança de paradigma: controle de qualidade deixa de ser documentação e passa a ser tomada de decisão baseada em evidências.
O fator decisivo: cultura organizacional
Integridade de dados não se impõe por procedimento.
Ela nasce quando:
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o analista sente responsabilidade sobre o resultado;
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a liderança prioriza a verdade técnica, não apenas o cumprimento de prazos;
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erros podem ser reportados sem medo;
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decisões são sustentadas por dados, e não por opiniões.
Quando a cultura favorece transparência, rastreabilidade e aprendizado, o dado se torna confiável e a organização, mais robusta.
Conclusão
A integridade de dados analíticos é hoje o novo indicador de maturidade técnica de um laboratório ou sistema de controle de qualidade. Ela demonstra domínio científico, qualidade técnica, responsabilidade profissional e respeito ao impacto social dos resultados.