Gostaria de começar esta entrevista pedindo que o senhor faça um balanço, avaliando a evolução da fonte solar no Brasil nos últimos anos.
Alguns marcos fizeram total diferença para a geração distribuída. Um deles foi a resolução 482/2012 da Aneel, que começou a incentivar a instalação de sistemas de geração distribuída para micro e mini geração. A geração distribuída hoje totaliza 12 GW. Outro ponto importante foi o marco legal da geração distribuída, estabelecido a partir da lei 14.300/2022.
Já a geração centralizada soma 5 GW atualmente. Isso começou com a realização dos primeiros leilões, ainda em 2013. O primeiro deles aconteceu em Pernambuco, focado na contratação de usinas solares daquele estado. Em decorrência desse primeiro leilão, que foi um sucesso, houve em 2014 o primeiro leilão de energia de reserva, que contratou energia solar. E daí em diante, a fonte continuou participando de praticamente todos os leilões.
Falando de futuro, quais são as políticas públicas necessárias, ao seu ver, para estimular ainda mais o crescimento da fonte no país?
Em relação à cadeia produtiva, seria muito importante termos uma política industrial, cujo objetivo seja construir uma indústria no Brasil que esteja inserida na cadeia global. Essa política industrial não seria para criar uma reserva de mercado, mas sim para desenvolver uma indústria competitiva que consiga, possivelmente a partir de incentivos iniciais de curto prazo, estabelecer a inserção do Brasil na cadeia global.
Além disso, de forma mais específica, achamos que é importante a inserção do armazenamento de energia nos leilões. Sobre a geração distribuída, algo muito importante é a regulamentação e a implementação da lei 14.300/2022. Ainda existem pontos que precisam ser regulamentados nessa lei, com destaque para a valoração dos atributos da geração solar distribuída. Por fim, sobre a geração centralizada, é muito importante destacar aqui o PL 414/2021, dada a importância de avançar com essa discussão e dar um sinal claro em relação à autoprodução de energia.
A Absolar tem alguma estimativa de qual seria a participação potencial da fonte na matriz elétrica brasileira?
Olhando para o curto prazo, considerando a boa vontade política e, obviamente, o reconhecimento de todos os atributos positivos da solar, a expectativa é que a fonte atinja os 5 milhões de tetos na geração distribuída em 2026. Isso equivale a 25 GW, o que representaria um aumento de mais de 100% em comparação com os 12 GW que temos no país hoje. Na geração centralizada, a previsão é de alcançar o patamar de 19 GW de potência total instalada, partindo dos 5 GW atuais.
Ao seu ver, quais são as medidas fundamentais para o Brasil desenvolver a sua cadeia produtiva do setor solar e reduzir a dependência de importações?
O Brasil é rico em recursos naturais e minerais que são tão importantes nessa cadeia. Hoje, a energia solar acaba sendo uma vertente de diversificação geopolítica, especialmente os painéis solares. Os Estados Unidos, por exemplo, têm grandes barreiras para a importação de painéis solares e inversores da China. Então, é dentro desse contexto que o Brasil pode inserir-se nessa cadeia, se conseguir navegar essa onda. Para isso, é preciso ter um norte, uma visão de longo prazo, uma política de Estado e os incentivos corretos para que essa política possa ser implementada.
Por fim, poderia detalhar as próximas ações e propostas da Absolar no sentido de desenvolver o mercado solar brasileiro?
E, do ponto de vista da geração centralizada, a Absolar vai trabalhar para a efetiva participação da fonte solar nos leilões. Desde 2019, dos cinco leilões onde a energia solar participou, a fonte foi a mais competitiva em quatro deles. A Absolar vai continuar com essa discussão relevante em prol da sociedade, para que a energia solar esteja em todos os leilões do ambiente de contratação regulada.
Fonte: Petronotícias