Como o setor de petróleo enfrentou os desafios de 2020, com a pandemia apanhando a economia brasileira em pleno voo de subida?
A pandemia chegou de vez deprimindo o mercado consumidor de energia e, consequentemente, a sua produção, repercutindo acentuadamente no mercado petrolífero. O petróleo Brent despencou de US$ 63 em janeiro para US$ 21 entre março e abril, estabilizando em US$ 48 como preço médio, em dezembro. Tal queda de preços de 29% no ano não chegou as às bombas. A gasolina e o diesel mantiveram os preços por conta de variação cambial positiva do dólar em 24% ao ano, em 12 meses, variação ainda maior, se desconsiderarmos os meses de outubro, novembro e dezembro.
A economia brasileira, muito prejudicada, foi salva, em parte, pelo auxílio emergencial total de 3.900 reais pago ou a ser pago a 13,6 milhões de brasileiros. Isso atenuou substantivamente a queda do PIB para algo previsto como 4,81%, ou uma retração para R$ 6,95 trilhões (US$ 1,29 trilhões), ante aos R$ 7,3 trilhões (US$ 1,82 trilhões) de 2019, com redução em dólar mais acentuada, por conta da desvalorização do real em 24% (R$ 4,02 janeiro e agora, dezembro, R$5,26/US$). Isso, também, pouco se comenta, apesar das perdas sofridas pelas classes média e pobre, sempre as grandes prejudicadas, via inflação. Já os ganhos foram superlativos para os portadores de dólar e euro, com ganhos e receitas exportadoras acumulados em moedas fortes.
Para as empresas, fora as agrícolas mega produtoras, e algumas outras poucas, o ano foi muito difícil, melhorando um pouco no final. Os empregos em todas as áreas minguaram e poucos conseguiram ter um faturamento decente. Os grandes agricultores que receberam em dólar mantiveram a moeda fora do Brasil e os investidores externos, grandes especuladores, principalmente no mercado bursátil, retiraram a maior parte do dinheiro do Brasil retornando com ele apenas em outubro-novembro, com saídas de US$ 432 bilhões e entradas US$380 (Banco Central-BC), principalmente quando as ações atingiram preços muito baixos, com a classe média investidora pagando o pato, pois teve que se refugiar na bolsa, com mais riscos, para proteger o seu patrimônio, já que os ganhos em renda fixa, CDI, CDB, poupança e os atrelados à Selic, todos, ficaram artificialmente muito baixos, menores que 2% ao ano, sobrando de elevado apenas o IGP-M de 23,14% anualizado em dezembro, e com o IPCA em alta de 4,31%, revelando claramente uma tendência inflacionária negada pelo BC.
A economia global retraída, e problemas ambientais, deprimiu a produção mundial de alimentos, fazendo o Brasil incrementar as suas exportações agrícolas, tornando escassos os produtos no Brasil, por falta de legislação e de ação governamental para preservar a economia interna. Isso elevou o custo de vida a níveis astronômicos, sempre penalizando os menos favorecidos, claro.
Assim, algumas empresas e consultorias lutaram para sobreviver e muitas sucumbiram ou estão pré-falimentares, por absoluta falta de serviços.
Quais são as perspectivas do senhor e de sua empresa para 2021?
Com a produção do petróleo latente, retida pela pandemia, os preços do petróleo tendem a ficar estáveis, na casa dos US$ 53 por barril, se a pandemia não recrudescer fortemente, como parece ocorrer em todo mundo. Isso confirmado a oferta de petróleo será maior, deprimindo os preços. A salvação será a vacinação intensa no curto prazo, no início de 2021. Aí o cenário muda positivamente, mas não haverá incrementos substantivos na produção e no consumo de petróleo reprimido. Quem tem produção latente, e outras poucas fontes de receitas, aumentará a oferta, e outros fatores geopolíticos contribuirão enormemente para manter os preços baixos, como os elevados estoques já muito acumulados e fatores subjetivos, como o desejo expresso do presidente eleito dos EUA, senhor Joe Biden, de substituir com celeridade o uso dos combustíveis fósseis, ainda responsáveis, hoje, por 70% do consumo mundial, por energias ditas limpas, verdes.
A geração de energia limpa esbarrará com determinados problemas. Alguns projetos poderão se tornar absolutamente inviáveis face ao preço baixo do petróleo e do real conhecimento de quão “verdes” são realmente tais energias, que exigirão incrementos substantivos na mineração poluidora de cobre, alumínio, cobalto, lítio e carbonatos entre outros, usados para armazenar energia elétrica, nas baterias dos automóveis, para consumo industrial e até residencial, nas linhas de transmissão, na construção e instalação de torres eólicas, postos de distribuição, e etc. Segundo a Wood Mackenzie as produções de cobre e alumínio têm que ser aumentados em cerca de 40%; as de níquel em 60%, e tem que se produzir 5 vezes mais cobalto, e 10 vezes mais lítio, para que haja um substantivo incremento e armazenamento de tais energias, com investimentos estimados da ordem de US$ 1 trilhão. E muitos desses minerais de ocorrência mais escassa terão ainda que ser encontrados. Assim, no curto prazo os preços de petróleo poderão ter uma maior flutuação positiva.
Igualmente, como o carvão, o uso do petróleo será submetido a desafios de se tornar menos poluente, e grandes melhorias nos perfis de refino e produtos. Essas serão as grandes preocupações das empresas focadas exclusivamente em refinar petróleo.
As produções das áreas emersas e de offshore raso, produtos de desinvestimentos, ou em processos, feitos pela Petrobrás, são uma grande incógnita em função dos preços baixos do petróleo. Alguns dos ativos foram adquiridos por preços muito elevados e terão pouca ou nenhuma lucratividade no curto, médio, e longo prazo, com os preços do petróleo deprimidos, e dos investimentos necessários para incrementos na produção. Outros ativos adquiridos e divulgados com estardalhaço, vendidos por outras empresas, não são tão bons e alguns têm volumetrias superestimadas, não representando o paraíso cantado em verso e prosa por algumas mídias, ditas especializadas.
As consequências da vacinação precoce, em termos de prognósticos, ainda é para mim uma grande incerteza, face às dificuldades de implementação. Caso isso ocorra com celeridade os cenários de produção, consumo e preços mudam completamente.
Se o senhor fosse consultado, quais as recomendações e sugestões que faria para o governo neste novo ano que está prestes a iniciar?
Nossos alinhamentos comerciais têm que se dar em benefício da nossa população, e não em nome de preferências ideológicas de quem quer que seja, como é a tendência atual. Por exemplo, assistimos em dezembro o prenuncio do grande acordo comercial asiático, juntando os povos chinês, japonês, australiano, coreano, vietnamita, tailandês etc., e quiçá indiano. Se dependesse de ideologias, e da história, jamais essas nações se juntariam. Mas, no mundo atual absolutamente pragmático, a costura política é feita juntando os desiguais, sem possibilidades para dissensos pouco oportunos. A tecnologia 5G é um bom exemplo disso. Os europeus estão dando um show de diplomacia no assunto sem claramente definir que lado fica, ou de quem adotará tal banda tecnológica. A questão ambiental continuará o nosso calcanhar de Aquiles se não mudarmos a política atual.
Países e governantes não devem ter preferências de quaisquer cores. Devem pensar na população. Essa é a minha sugestão e constatação que na minha área de atuação, em 2021, sobrarão pouquíssimas oportunidades, face as concentrações de negócios e ativos nas mãos de poucos (relativamente). Assim, 2021 será o momento de se reinventar ainda mais, se os prognósticos acima se concretizarem, ou não.
Com informações de Petronotícias