Fungicida à base de óleos essenciais combate pragas da cultura de soja
Pesquisadores da Linax, empresa com sede em Votuporanga, no interior de São Paulo, desenvolveram um fungicida à base de óleos essenciais, com baixo impacto ambiental e alto potencial econômico, contra pragas que acometem as culturas de soja no Brasil.
A solução, desenvolvida por meio de um projeto apoiado pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, consiste em uma mistura de óleos extraídos de diferentes plantas. A solução é encapsulada por polímeros naturais, que liberam a substância de forma lenta e prolongada, ampliando seu período de ação na lavoura e diminuindo o risco dessas pragas desenvolverem algum tipo de resistência ao produto.
Protótipos da tecnologia foram testados contra o fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem asiática, uma das doenças mais severas que incidem na cultura da soja no país. O patógeno ataca as folhas da planta, afetando sua capacidade de realizar fotossíntese e de formar grãos saudáveis. Se não controlada adequadamente, chega a inviabilizar até 90% da plantação, gerando prejuízos que podem alcançar os bilhões de reais.
A solução desenvolvida pela Linax apresentou efeito equivalente ao dos fungicidas mais usados no combate dessa praga no Brasil. “A aplicação conjunta de metade da dose da nossa solução mais metade da dose dos fungicidas convencionais apresentou eficácia superior à dos convencionais aplicados de modo isolado”, conta o engenheiro agrônomo Nilson Borlina Maia, sócio-proprietário da Linax. “Isso significa que seria possível diminuir o uso dos fungicidas convencionais, que são nocivos à saúde humana, animal e ao meio ambiente, adicionando a eles uma dose da nossa solução à base de óleos essenciais”, avalia.
A tecnologia resulta de uma parceria entre a Linax e o Grupo Santa Clara, empresa de insumos agrícolas com sede em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. O grupo recentemente anunciou a incorporação da firma de Votuporanga à Santa Clara Agrociência, sua spin-off com foco em biodefensivos.
O fungicida da Linax deve ser lançado ainda este ano. Segundo Maia, a empresa pretende usar a estratégia contra fungos que causam doenças em outras culturas.
Eles também trabalham em soluções ambientalmente sustentáveis para ampliar a eficácia de defensivos biológicos. “Estamos desenvolvendo um projeto com a Unesp [Universidade Estadual Paulista] para encapsular fungos e bactérias usados no controle de pragas e doenças que afetam as lavouras, de modo a protegê-los dos raios ultravioleta e aumentar sua viabilidade e eficácia”, afirma o engenheiro agrônomo.
Histórico de inovações
A Linax tem um amplo histórico de inovações baseadas em óleos essenciais e polímeros naturais, muitas delas desenvolvidas com apoio do PIPE e do Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), promovido pela FAPESP em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
A própria empresa nasceu de um projeto apoiado pelo PIPE-FAPESP, iniciado em 2004 e voltado à extração de óleo de linalol de folhas de manjericão (Ocimum basilicum).
Essa substância é amplamente utilizada pela indústria perfumista, sendo o principal ingrediente do perfume francês Chanel nº 5. Por muito tempo foi extraída da madeira do pau-rosa (Aniba rosaeodora), árvore nativa da Amazônia, o que quase levou a espécie à extinção.
Estima-se que cerca de 2 milhões de árvores tenham sido derrubadas para extração do óleo de linalol até 2002, de modo que sua área de ocorrência atualmente se restringe a alguns poucos municípios do Estado do Amazonas, como Parintins, Maués, Presidente Figueiredo e Novo Aripuanã.
A pesquisa que deu início ao projeto e à empresa teve início anos antes, em 1998, quando o pesquisador iniciou um estudo comparativo com 18 plantas que contêm linalol, entre elas coentro, louro, canela e laranja, além do manjericão. “O objetivo era encontrar uma alternativa à extração do óleo de pau-rosa”, diz Maia.
O louro foi logo descartado. “Apesar de apresentar alto índice desse óleo essencial, a árvore demora muito tempo para ficar adulta, o que inviabiliza seu cultivo para extração comercial”, explica Maia. “Por sua vez, o coentro e a canela não apresentaram linalol, enquanto a laranja possuía baixo índice da substância”, compara.
Apesar de não ter conseguido encontrar uma planta que tivesse um óleo tão rico em linalol como a madeira do pau-rosa, que chega a 90%, Maia conseguiu no manjericão um óleo natural, economicamente viável, capaz de substituir o linalol natural em muitas formulações de cosméticos, perfumes e outros produtos de higiene e beleza.
O projeto, que à época contou com a colaboração e o apoio do Instituto Agronômico (IAC), viabilizou a produção de mudas em larga escala, para que em pouco tempo fosse possível instalar lavouras comercialmente viáveis para produzir manjericão.
Para facilitar o trabalho de extração de óleo essencial em laboratório, Maia desenvolveu um minidestilador feito de aço inoxidável, que não libera resíduos tóxicos que possam comprometer a qualidade do produto. “Nos aparelhos convencionais, feitos de vidro e de difícil manuseio, o trabalho de carregar e descarregar o material vegetal leva em média uma hora”, explica. “Com o minidestilador que criamos, a mesma tarefa demora cerca de um minuto e a destilação é controlada por um sistema elétrico automatizado”, compara.
A novidade, apresentada no 3º Simpósio Brasileiro de Óleos Essenciais, realizado em Campinas em novembro de 2005, abriu novas frentes de negócio para a empresa. “Passamos a fabricar e a comercializar destiladores de óleos essenciais para laboratórios científicos, empresas de perfumaria e produtores rurais de pequeno, médio e grande porte. Desde então, já vendemos mais de 200 desses equipamentos”, afirma.
Em 2020, a Linax conseguiu obter recursos da FAPESP e da Finep, por meio do Programa PIPE-PAPPE Subvenção, para desenvolver um sistema de controle automatizado de seus destiladores baseado em softwares de inteligência artificial. “O sistema é capaz de controlar e monitorar todo o processo de destilação de óleos, aumentando sua eficiência”, diz.
A empresa hoje domina todas as etapas da tecnologia de produção de linalol, auxiliando seus clientes na produção de mudas com variedades adequadas, no cultivo e na colheita da planta e na destilação para obtenção de um óleo com até 95% de pureza, viabilizando a produção econômica, social e ambientalmente sustentável.
“A Linax também ajuda seus clientes a dominar a produção de outros óleos essenciais, os quais podem ser usados no desenvolvimento de novos produtos que ainda não existam no mercado”, sublinha Maia.
A estratégia, segundo o engenheiro agrônomo, oferece possibilidades concretas de ganho à agricultura familiar da região de Votuporanga, ajudando a consolidar um novo segmento no agronegócio: a exploração de óleos essenciais.
Matéria – Rodrigo de Oliveira Andrade | Agência FAPESP
Imagem – Protótipos da tecnologia foram testados contra o fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem asiática (foto: Linax/divulgação)