Finanças verdes: a caminhada dos empregos para atividades sustentáveis
Escrito por Bruna Cataldo e Carlos Ragazzo*
Em meio à conjuntura econômica global e ao crescimento de inovações em inteligência artificial, um questionamento já antigo ganhou força nos últimos tempos: qual será o futuro dos empregos? Essa é uma das prioridades da agenda de ESG (Environmental, Social and Governance) e o mercado de trabalho está cada vez mais preocupado em implementar essas boas práticas. Além de garantir um modelo de trabalho mais inclusivo e responsável, isso é essencial para o desenvolvimento sustentável do negócio e de uma economia mais equilibrada e ética.
Levando em consideração este cenário, é possível esperar que o futuro do mercado de trabalho esteja – ao menos em grande parte – nos empregos verdes, ocupações que estão relacionadas a setores econômicos que contribuem de forma positiva para a sustentabilidade ambiental. Esses empregos estão inseridos em atividades e indústrias que buscam reduzir impactos ambientais negativos, promover a conservação dos recursos naturais e impulsionar a transição para uma economia de baixo carbono e mais sustentável.
É o que mostra o relatório publicado recentemente pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Com mais de 12 milhões de postos globais até o fim de 2022, o setor de energias renováveis, particularmente, tem sido visto como uma aposta para a criação de posições formais de trabalho, tanto em áreas técnicas como corporativas.
Em meio ao avanço da agenda global de sustentabilidade, a perspectiva de crescimento do setor vem chamando a atenção. Considerando apenas o segmento de renováveis, a expectativa da OIT é de que até 2030 se crie mais de 38 milhões de postos de trabalho a nível global. Sendo assim, a perspectiva deste avanço é focar, não só nas matrizes energéticas, mas também na economia como um todo, para um modelo orientado para a sustentabilidade.
Nos Estados Unidos (EUA), por exemplo, os últimos cinco anos trouxeram um crescimento de 237% no número de vagas na área, de acordo com o relatório Global Green Skills Report 2022. Na Índia, as vagas cresceram 81% em janeiro de 2023 em relação ao mesmo mês de 2022. Já a China, a maior empregadora global da área de renováveis, atingiu 42% do total global. O Relatório divulgado pelo Liepin, site de busca de empregos, mostrou que o setor de neutralidade de carbono foi o que teve o maior aumento anual em novos empregos no primeiro trimestre de 2022, com crescimento de 400%.
Em outubro de 2022, representantes do grupo C40 – uma rede global que conta com mais de 100 prefeitos representando cidades que buscam liderar o combate à crise climática – se comprometeram a criar 50 milhões de empregos verdes na próxima década, em setores como construção, transporte, energia, saúde e cuidados. No Brasil, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador são membros do C40.
Atrás apenas da China, o Brasil já é um destaque no setor, sendo responsável por 10% do total de postos no setor de renováveis, resultado atribuído a sua matriz energética relativamente limpa. Além disso, o Rio de Janeiro se tornou a primeira cidade da América Latina a contar com a existência de um Climate Hub para desenvolvimento de pesquisas e capacitação na área ambiental em parceria com a Universidade de Columbia.
Outro case está na região Nordeste do Brasil, o Rio Grande do Norte é destaque no avanço da energia eólica desde 2021. O estado tem os primeiros dez complexos eólicos offshore (geração de eletricidade por meio do vento em alto-mar) à espera de licenciamento no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Estima-se que o estado deve ser um dos principais produtores do mundo, gerando muitas oportunidades de emprego verde.
No entanto, um mapeamento do BID feito com base em dados do LinkedIn mostra que, apesar de o Brasil ser o país da América Latina com a maior taxa de contratação de empregos verdes, o crescimento do setor ocorre em velocidade menor do que a do mercado de trabalho em geral. Assim, ainda há espaço para explorar o potencial de criação de empregos verdes no país, principalmente considerando a posição especial do Brasil em termos de biodiversidade, diversidade da matriz energética e outros fatores que nos colocam em vantagem em relação a outros países.
Considerando ainda o cenário do mercado de trabalho, com alta informalidade e projeções pouco otimistas para 2023, após os resultados da PNAD contínua de dezembro mostrarem uma perda de fôlego, aproveitar esse potencial pode ser uma saída e uma aposta para o país nos próximos anos, mesmo que os desafios de capacitação e investimento precisem ser superados ao longo do caminho.
*Carlos Ragazzo é professor da FGV Direito Rio e presidente do Conselho Consultivo do Instituto Propague e Bruna Cataldo é head de Conteúdo do Instituto Propague e doutoranda em economia na UFF