Empresa de inteligência artificial, Recursion planeja ser Amazon Prime da indústria farmacêutica

A desenvolvedora de medicamentos de IA Recursion Pharmaceuticals Inc. está considerando um modelo de assinatura, no estilo Amazon Prime, para vender seu portfólio de medicamentos. A empresa de biotecnologia sediada em Salt Lake City quer criar sistema em que um empregador dos EUA poderia pagar, por exemplo, US$ 45 por mês por funcionário para acessar qualquer medicamento que a Recursion desenvolve, independentemente do preço — desde que prescrito por médico. Se bem-sucedido, o movimento tem o potencial de revolucionar a forma como os remédios são vendidos.
“Vamos construir o Amazon Prime desta indústria”, disse o CEO, Chris Gibson, à Bloomberg, no escritório da empresa em King’s Cross, Londres. A Recursion, que tem um valor de mercado de US$ 3 bilhões, tem conversado sobre a proposta com alguns de seus maiores investidores por vários anos, disse ele.
Ela enfrenta grandes obstáculos, exigindo mudanças em todo o sistema de saúde dos EUA e eliminando muitos participantes envolvidos em decisões sobre preços de medicamentos, seguros e acesso a novos medicamentos. Sem medicamentos próximos ao mercado, a Recursion provavelmente também terá vários anos antes de poder implementar a ideia.
A empresa relatou um prejuízo no quarto trimestre, nesta sexta-feira (28), que foi maior do que o esperado, fazendo com que suas ações caíssem até 14% antes de reduzir a queda.
A Recursion tem forma de tentar coisas de forma diferente. Ela está usando inteligência artificial e automação para testar compostos, a fim de tentar acelerar o desenvolvimento e o teste de novos medicamentos para tratar condições como câncer e doenças raras.
Construindo um Portfólio
A proposta de Gibson veria os primeiros medicamentos da Recursion chegarem ao mercado da maneira tradicional, antes de iniciar o modelo de assinatura assim que tiver um portfólio de medicamentos. O preço mensal pode aumentar à medida que mais tratamentos forem adicionados.
Os defensores do preço de assinatura dizem que isso reduz a incerteza em torno da receita dos fabricantes de medicamentos e dos custos enfrentados pelos provedores de serviços de saúde. Economistas da saúde estão examinando a viabilidade e a necessidade de modelos de assinatura em uma escala maior, embora questões sobre se eles reduzem os gastos gerais tornem a aceitação generalizada longe de ser certa.
A Recursion não é a primeira empresa a propor uma revisão dos preços de medicamentos nos EUA. A EQRx planejou trazer medicamentos ao mercado que pudessem competir com os recém-lançados a um custo menor, por meio de um chamado clube de compradores globais de seguradoras e hospitais. A empresa de biotecnologia acabou falhando porque não conseguiu desenvolver seus próprios medicamentos ou licenciá-los da China.
Exemplos iniciais
Alguns modelos de assinatura existem. Nos EUA, algumas seguradoras começaram a vender planos em que as empresas pagam uma taxa mensal — geralmente menos de US$ 2 por mês por funcionário — para ter acesso a terapias genéticas, que são tratamentos únicos e multimilionários.
O Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra paga às empresas farmacêuticas um valor anual fixo pelos antibióticos, independentemente de quantos são prescritos. “A indústria precisa seguir nessa direção”, disse Gibson, que enfrentou questionamentos sobre suas metas ambiciosas de uso de IA para desenvolver medicamentos.
Ainda assim, a Recursion convenceu lentamente a indústria de que sua proposta em torno do desenvolvimento de medicamentos poderia funcionar, e a empresa tem parcerias com empresas farmacêuticas, incluindo Bayer AG e Sanofi. Gibson vê os modelos de assinatura, ou algo próximo a isso, como a próxima mudança de que a indústria precisa.
“Há algumas pessoas muito inteligentes que vão investir nessa direção, e faremos tudo o que pudermos para fazer parte disso”, disse ele.
Matéria – Por Ashleigh Furlong, Em Bloomberg
Imagem – Ideia da empresa é criar assinatura em que um empregador poderia pagar valor por mês por funcionário para acessar medicamento que produz Marcos Santos / USP Imagens