Desafios sanitários da micotoxina na produção animal
A qualidade sanitária das dietas é um ponto determinante e que vem sendo verificado com maior escala e frequência. Ter o controle das matérias primas que serão destinadas para a produção animal é determinante para o desenvolvimento zootécnico e sanitário da produção. Neste sentido, a atenção recai sobre a qualidade do processo, a parte nutricional dos fabricantes, aos cuidados no armazenamento e na produção. Dentre os diversos problemas que desqualificam as matérias primas fornecidas para animais de produção destacamos as micotoxinas.
Micotoxinas são compostos secundários, altamente tóxicos, produzidos por certos fungos ou leveduras, organismos aeróbios, que se desenvolvem em lugares que apresentam baixa disponibilidade de água, em condições de campo, durante o transporte ou durante o período de armazenamento dos alimentos, quando as condições são favoráveis para o seu crescimento.
Cereais colhidos com alto teor de umidade, por exemplo, podem apresentar alto risco de crescimento de fungos na armazenagem. Pelo lado geográfico, regiões em que a umidade é alta e as secagens no campo são precárias ou inexistentes os riscos de contaminação por fungos se tornam bastante significativos.
Há também problemas dentro das propriedades quando a compactação das silagens ou fenos são ruins e consequentemente, aliado à presença de oxigênio, o desenvolvimento destes microrganismos.
Na literatura são descritos mais de 400 tipos de micotoxinas. A maioria produzida por 3 cepas de fungos: Aspergillus spp, Fusarium spp e Penicillium spp, sendo que cada um pode produzir vários tipos de micotoxinas, sendo as mais comuns: Aflatoxinas, Ocratoxina, Zearalenona, Fumonisina e Deoxinevalenol.
As Aflatoxinas, produzidas pelo Aspergillus, encontradas em milho, amendoim, farelo de algodão e sorgo, podem causar danos no fígado, diminuir o desempenho reprodutivo, reduzir a produção de leite, saúde embrionária, defeitos de origem, tumores e diminuir as funções imunológicas, afeta todas as espécies, incluindo o homem, sendo que algumas aflatoxinas podem ser transferidas para o leite e, devido a sua natureza carcinogênica, trazer sérios problemas.
Já a Ocratoxina, produzida por Aspergillus e Penicillium, encontrada em milho, cereais e arroz, pode causar disfunções renais, é imunossupressora e carcinogênica, afeta principalmente aves e suínos. Importante ressaltar que segundo pesquisas, vacas leiteiras contaminadas por Ocratoxina, podem apresentar decréscimo no desempenho, redução na produção de leite, problemas nos rins e levar a óbito.
A Zearalenona, Fumonisina e Deoxinevalenol são produzidas pelo Fusarium sendo que a Zearalenona, com presença comum em milho, trigo, feno e gramíneas, principalmente em temperaturas amenas e de alta umidade, causa problemas no sistema reprodutivo, sendo os principais destaques a baixa fertilidade, retorno ao cio, útero danificado, retenção de placenta, vulva inchada, inflamação de glândulas mamárias e anestro. A Deoxinevalenol (DON), encontrada em cereais e milho, pode inibir a síntese protéica celular, causando baixo desempenho produtivo e pode aumentar a mastite. A Fumonisina pode estar presente em milho e outros grãos, numa época do ano de temperatura mais elevada e quando a atividade de água do alimento é elevada, afeta principalmente equinos, suínos e aves, causando danos ao sistema imunológico, lesões em fígado e rins, edemas pulmonares e pode levar o animal a óbito.
Recentemente pesquisas demonstraram que não só para monogástricos, mas também para ruminantes, as micotoxinas tem um efeito nocivo, impactam a saúde do rúmen, causando perdas produtivas ou mesmo o óbito dos animais. Os danos econômicos da atividade vão desde a perda de matérias primas, diminuição do desempenho do rebanho ou perda do animal, contaminação dos produtos gerados pela produção, contaminação ao homem, até a perda do mercado consumidor e mercado exportador, ou seja, atingem o setor como um todo.
Além da prevenção da contaminação e de crescimento fúngico, em práticas agrícolas e no armazenamento, a detoxicação dos compostos tóxicos produzidos pelos fungos nas matérias primas contaminadas pode ser de diversas formas, como por exemplo tratamento térmico, irradiação, ozonização, extração por solvente, inativação química, acidificação ou pelo uso de produtos naturais como extratos herbais. É importante destacar que o uso de adsorventes de micotoxinas seria quando não houvesse mais possibilidade de detoxificar, soluções utilizadas na dieta ou ração. Isso porque estas soluções aderem à micotoxina e impedem sua absorção no trato digestório, tornando-as inerte e não tóxicas para os animais. Há adsorventes inorgânicos e orgânicos, sendo os principais: silicatos, carvão ativado, produtos de clorofila e derivados de parede celular de levedura. Atualmente no mercado há inúmeras soluções à disposição, desde único componente até misturas, que variam suas inclusões e amplitude de ação. Ideal é que seja utilizado um adsorvente de amplo espectro, o qual irá ter efeito em diversas micotoxinas e eliminar os danos causados por elas.
Com informações de Portal DBO.
Autores:
*Jane Gonçalves é Zootecnista e Dra. em Nutrição Animal e gerente técnica da VLN Feed
** Ricardo Fasanaro é Consultor em aditivos nutricionais especializado na área de ruminantes