– Como foi o ano de 2021 para o senhor e o setor de óleo e gás do país?
Em um futuro próximo, a Petrobrás estará completamente ausente no Nordeste, Norte e SulOs desinvestimentos juntos com o PPI (preço de paridade de importação) tornam as refinarias brasileiras ociosas. Isso porque os preços de paridade de importação são mais caros que os preços internacionais, já que neste se adicionam os custos de cabotagem e internação, tornando igual o preço do petróleo brasileiro ao do Oriente Médio, da China, dos EUA, etc.
Poucos sabem que no Brasil há mais de 400 importadores de petróleo. Mas, segundo o governo, o aumento de preços é culpa exclusiva da Petrobrás, tornando a empresa em vilã exclusiva para a população, alimentando o ódio previamente e planejadamente criado contra a Petrobrás, que só beneficiou os brasileiros. Privatizar é a meta! No mundo real e brasileiro, sobrou para nós pagarmos energia e combustíveis caros, propagados para toda a economia sem que medidas mitigadoras, além das emergenciais, sejam minimamente compreendidas por nós, meros cidadãos.
Outro fato novo e positivo é o retorno aos investimentos no pós-sal, a exemplo dos existentes em Sergipe e na distante Suriname, este último em pleno desenvolvimento. No Brasil, os investimentos em Sergipe foram adiados pela nefasta política do MME e da Petrobrás adotada pelos últimos dirigentes, de viés absolutamente financista e especulativa, que priorizaram diminuir a alavancagem da dívida da Petrobrás, paga com a produção oriunda de investimentos feitos há muito, no passado, e sem quaisquer aportes governamentais. O anúncio do retorno a maiores investimentos em todas as bacias de pré e pós-sal, que se propaga com boas perspectivas desde a bacia de Santos, Campos e Espírito Santo, é mui promissor.
Enfim, o declínio nos investimentos para se diminuir a alavancagem e depois para pagar dividendos, mesmo sem lucro, é consonante com as práxis do mercado de capital especulativo, o dono de todas as petroleiras não estatais, que curiosamente deram lucros menores que as estatais russas e chinesas. É só olhar os números, mesmo excluindo os valores positivos e substantivos da Aramco. Também a Petrobrás quebrada e incompetente nunca usou um centavo do governo para reduzir a dívida. Basta olhar os números. Os desinvestimentos pouco contribuíram, em percentual, para a redução da dívida, numa lógica estranha de recuperação econômica sem aporte de capital, mas em perfeita sintonia com o discurso dos desinvestimentos e da privatização. É só enxergar quem está comprando as empresas. Enquanto isso, as encomendas dos equipamentos em empresas estrangeiras e a redução nos investimentos tornaram pior a situação econômica do Brasil, o que é angustiante e desempregador aqui no nosso país.
Assim enxerguei o 2021 e findo com uma frase sinótica: “O Brasil de hoje se comporta como herdeiro que esbanja a fortuna que o pai acumulou sem ele pregar um único prego para edificar o acúmulo. Pai rico, filho nobre e neto pobre, repetindo o ditado popular”. É só uma questão de ponto de vista respeitando os divergentes. Os fatos estão postos.
– O que sugere para o governo/Petrobrás melhorar a nossa economia e dar mais força aos setores de petróleo, gás, energia e logística?
Já passa da hora de reunirmos, governo e oposição para se construir um projeto de nação. Como a iniciativa privada investe para retorno, como é o seu princípio basilar, cabem aos governos fomentarem e investirem em políticas ordenadas de acordo com as necessidades do Brasil. Na área do MME, sugiro:
2- Idem para área de mineração focando nos estratégicos e principalmente os mais usados como geradores e armazenadores de energia e fertilizantes, que faltam num Brasil de forte agricultura e quase sem insumos próprios, apesar da abundância de alguns nos jazimentos energéticos e de volumes de rochas (rochagem) para recuperação dos solos seguindo as diretrizes da EMBRAPA;
3- Passo seguinte criar comitês estratégicos independentes da ideologia, para pensar onde alocar os recursos visando suprir as necessidades estratégicas atuais e futuras do Brasil, com base no conceito real da sustentabilidade, com o seu tripé formulador, que muitos parecem desconhecer. Mesmo que isso resulte em críticas ao governo, elas devem ser absorvidas com naturalidade dentro dos padrões democráticos e assim, certamente, construiremos um Brasil melhor. Estes devem ter eficácia e prazos determinados;
4- Acabar com práticas autocráticas perpetuadas por despreparados que ocuparam ou ocupam cargos públicos. O Estado laico deve prevalecer;
5- Tornar as metas e objetivos comuns e transparentes definindo claramente o papel de cada ministério, muitos dos quais obliterados pela política inconsequente tipo Posto Ipiranga (com o perdão da marca), pois o coletivo sempre constrói melhor que o individual. Lembrar que o sapiens, de menor massa encefálica predominou sobre os neandertais, mais egoístas;
6- Após priorização, fomentar e até subsidiar as atividades básicas.
Quais são as suas perspectivas e de seu setor para 2022?
Por enquanto, as perspectivas são baseadas em especulações e na economia já é certa que as projeções do PIB e inflação serão menores e maiores, respectivamente, o que não é um bom prenúncio com a nossa economia que parecia iniciar uma recuperação segura.
Não me arrisco a prever preço da commodity petróleo para não passar pelo mesmo vexame do erro que eu e muitos cometeram no ano passado recente. É melhor todos alimentarem as redes neurais corretamente e, assim, teoricamente obteremos uma previsão mais acurada, mesmos com as incertezas das inteligências naturais que controlam a geopolítica. Certamente, os fundos tipo Black Rocks, Advanced e similares, com gestão de ativos financeiros maiores que os PIBs da maioria dos países do mundo, terão melhor noção de tendência dos preços. Manda quem pode e obedece quem tem juízo.
Os outros setores acima comentados poderão repetir os padrões 2021 ou melhorarão. Assim seja.
Fonte: Petronotícias