Antes de falarmos de futuro, poderia apontar quais foram os principais resultados conquistados pela ABDAN nos últimos anos?
A ABDAN não tem discutido apenas o tema da geração de energia, mas também debate medicina nuclear, irradiação e outros segmentos da tecnologia nuclear, um processo de ampliação do escopo de atuação que foi de suma importância. Os números mostram o resultado. Em 2017, a ABDAN tinha nove associados. Hoje, crescemos para 28 associados e continuamos trabalhando para que esse número continue subindo.
Além disso, otimizamos e digitalizamos todos os nossos processos administrativos, o que trouxe agilidade e reduziu custos. Passamos a ter eventos de grande porte, desde os encontros presenciais até os encontros virtuais. Um exemplo é o Nuclear Trade & Technology Exchange (NT2E) do ano passado, que reuniu virtualmente mais de 2 mil pessoas e contou com 138 palestrantes de todo o mundo.
E de que forma aconteceu o processo de ampliar o reconhecimento da associação no contexto internacional?
Esse reconhecimento internacional é, sem dúvida, outro resultado muito importante. A ABDAN participa da LAS/ANS (Seção Latino-Americana da Sociedade Nuclear Americana). A associação também estabeleceu convênios com a NEI (Instituto de Energia Nuclear) e com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Por sinal, esse foi o primeiro convênio que a AIEA fez com uma entidade congênere como a ABDAN. Normalmente, a agência só trabalhava com países. Outra parceira de longa data é World Nuclear Association (WNA).
Esse reconhecimento internacional veio em um momento importante. É bom lembrar que vimos na COP-26 uma tendência de maior uso da tecnologia nuclear para alcançar as metas de descarbonização do mundo. É uma agenda forte de construção. Precisamos navegar na esteira que está sendo construída mundialmente. A COP-26 sinalizou isso claramente. A China vai construir 150 usinas em 15 anos. O governo britânico conta com uma linha de construção em série de SMRs. A França anunciou 14 novos reatores. Os EUA contam com um programa de produção de hidrogênio a partir de pequenos reatores.
Agora sim, falando de futuro, poderia apontar algumas das novas prioridades de seu novo mandato?
Por isso, a ABDAN lançou um Fórum de SMRs [leia mais sobre neste link]. Esse fórum é uma prioridade. Adicionalmente, contratamos o GESEL da UFRJ para fazer alguns estudos sobre essa tecnologia. E em breve temos uma sequência de reuniões marcadas com parceiros para discutir isso. Estamos levando isso muito a sério, no sentido de demonstrar a importância dessa tecnologia para o Brasil.
A ABDAN pretende também continuar seu trabalho de incentivar o desenvolvimento da cadeia produtiva local?
Com toda a certeza. Temos que continuar incentivando os fornecedores locais e as micro e pequenas empresas. Não podemos nos esquecer que ajudamos a construir um Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 que aponta para até 10 GW de novas usinas. Temos também um Plano Decenal de Energia (PDE) 2031 que indica uma usina de 1 GW.Temos que fazer isso acontecer.
Nós conseguimos provar com a Arena Tecnológica, em parceria com o Sebrae, que é possível encontrar micro e pequenas empresas para prestarem serviços no setor nuclear. Há poucos dias, anunciamos os vencedores do desafio [leia mais sobre aqui] e nos próximos dias vamos revelar quais serão os próximos passos desses projetos.
E quais outros tópicos estarão na pauta da associação ao longo dos próximos anos?
Sem sombra de dúvida, vamos continuar trabalhando para reforçar a questão da medicina nuclear do Brasil. Ainda temos muitos brasileiros sem acesso ao tratamento e diagnóstico do câncer. Precisamos cuidar dos brasileiros e permitir o acesso a essa tecnologia. Isso é muito importante e esse acesso tem que ser amplo, geral e irrestrito.
Outra questão é a irradiação de alimentos. O Brasil desperdiça mais de 30% de tudo que é produzido. Se tivéssemos irradiando os alimentos, assim como é feito em vários países desenvolvidos, não estaríamos desperdiçando tantos alimentos, o que é um absurdo.
Importante mencionar ainda que o Brasil é a nona maior reserva de urânio e em breve poderá ser até a segunda. Com isso, é fundamental que o Brasil se posicione para exportar não apenas minério, mas o combustível com valor agregado. Temos que parar com essa história de apenas exportar commodities. Chegou a hora do Brasil exportar tecnologia também.