Do ponto de vista da Abrapch, qual é o papel das PCHs no cenário de escassez hídrica e crise energética?
Essa é a pior seca dos últimos 91 anos. Mas isso poderia ser evitado ou minimizado se o país, nos últimos 30 anos, tivesse continuado a construir reservatórios. Os reservatórios vão muito além da geração de energia elétrica. Eles são essenciais para a saúde, para a produção de alimentos, para a irrigação de lavouras e para o abastecimento de residências.
Na década de 90, começou no Brasil uma demonização irracional e burra dos reservatórios. É como se um lago fosse um desastre ambiental. Mas, na verdade, água é vida. Onde há água existe mais vida animal e mais vegetação. Basta conferir as imagens de satélites em torno dos reservatórios das hidrelétricas e nas margens dos rios. Você verá que é ali onde se concentra a vegetação mais exuberante.
O Brasil abandonou a construção de reservatórios na década de 1990. A demanda foi crescendo e o país chegou a esse ponto. Isso é uma crise plantada há 30 anos atrás. E não foi por falta de aviso. A conta chegou agora.
Ao seu ver, ao que se deve esse processo que o senhor chama de “demonização das hidrelétricas”?
O Brasil é como se fosse a “Arábia Saudita dos recursos hídricos”. Nós temos 12% da água do planeta. É um absurdo estarmos passando por uma crise hídrica pela terceira vez. Em 30 anos, o Brasil caiu nesse conto do vigário de que os reservatórios são ruins para o país. E o que aconteceu durante esse período? Nosso país, mesmo sendo a maior potência hídrica do mundo, passou a sofrer com a falta d’água.
Voltando a falar especificamente das PCHs, o que é preciso para que o Brasil destrave o potencial de 15 GW citados pelo senhor no início desta entrevista?
Não tem cabimento o Brasil continuar insistindo nesse erro que já dura 30 anos. Já passou da hora de o país resolver isso. É importante termos uma lei ambiental federal. E, claro, que seja uma lei razoável, justa e que exija que cada atividade humana compense seus danos ambientais de verdade.
O segundo ponto é que precisamos ter leilões que contratem um volume bom de PCHs, por um preço decente, que remunere o risco e o custo de capital do investidor. E, por fim, o último ponto é que nosso setor precisa ter financiamento adequado. Hoje, o BNDES oferece linhas mais baratas para uma série de outras fontes em comparação com as hidrelétricas. Isso precisa ser corrigido também. Se o Brasil conseguir resolver esses três pontos, conseguiremos viabilizar esses 15 mil MW.
Por ser um grande volume de geração, esses 15 GW certamente ajudariam na geração de empregos no país…
Tabela mostra a redução da participação das hidrelétricas na matriz brasileira. Ainda assim, a fonte respondeu por 73% da geração do Brasil até junho – CLIQUE PARA AMPLIAR
As PCHs e as CGHs representam geração de emprego na veia. Estamos falando de construção civil. Além disso, só usamos mão de obra local e não precisamos importar um parafuso que seja para construir esse tipo de usina. É tudo fabricado aqui. O Brasil tem uma cadeia produtiva forte e tecnologia 100% nacional. Aliás, o Brasil tem a melhor tecnologia do mundo em equipamentos hidrelétricos.
Imaginando que o Brasil decidisse hoje começar a construir essas usinas, quanto tempo demoraria para que esses empreendimentos começassem a gerar?
O prazo de construção de uma pequena hidrelétrica oscila entre um e dois anos. Podemos dizer que 80% das usinas de pequeno porte demandam um período de construção entre um ano e um ano e meio. A parcela restante desses empreendimentos leva cerca de dois anos. Ou seja, é mais rápido construir uma pequena hidrelétrica do que construir uma térmica e os gasodutos relacionados. Estamos falando de projetos que são mais rápidos, mais baratos e muito melhores do ponto de vista ambiental.
Olhando para o cenário internacional, o senhor pode apontar para países que estão tendo uma postura diferente do Brasil em relação às usinas hidrelétricas?
Vou citar outro país. A Noruega é o terceiro maior exportador de gás do mundo e o 12º exportador de petróleo no mundo. Ainda assim, uma fatia de 94% da energia daquele país é produzida através de hidrelétricas. Por lá, nunca houve problema de apagão ou instabilidade na geração, porque os noruegueses estão sempre construindo novas hidrelétricas com reservatórios bem dimensionados.
Quais serão as próximas ações da Abrapch no sentindo de levantar a bandeira em defesa das usinas hidrelétricas?
O Brasil precisa parar de ficar dando ouvidos às ONGs estrangeiras. Não podemos acreditar na tese de que ONGs internacionais estão aqui para fazer o bem. Não é verdade isso. Existem livros a respeito do tema. Essas ONGs e esses governos estão interessados em suas próprias geopolíticas.
Fonte: Petronotícias