A logística reversa na indústria farmacêutica
A logística reversa é mais uma das provas de que o desenvolvimento econômico anda ao lado da preservação ambiental. Adotando práticas sustentáveis, as empresas podem gerar lucro e respeitar a comunidade em que se inserem ao gerar emprego e renda.
Porém, mesmo que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) já tenha sido instituída há 10 anos pela lei 12.305/10, junto do Decreto n. 7404/2010, muitas empresas ainda têm dúvidas sobre qual é o melhor caminho para implementar o gerenciamento de resíduos sólidos.
Desde 2011, diversos setores da cadeia têm discutido e se articulado para alcançar um acordo setorial voltado à implantação da logística reversa para os resíduos de medicamentos, bem como medidas para redução e/ou não geração deles.
O que é logística reversa?
Ela envolve as atividades que viabilizam o retorno dos resíduos após as vendas e o consumo, de forma que sejam reincorporados ao ciclo de negócios das empresas, assegurando uma recuperação sustentável. Em geral, os programas de logística reversa se organizam nas seguintes etapas:
- O consumidor devolve o produto ou embalagem a quem o comercializa ou distribui;
- O produto é devolvido ao fabricante ou importador;
- Por fim, o produto é encaminhado para o descarte correto para reinserção no ciclo produtivo.
No Brasil, o tema passou a ser mais tratado dentro da indústria após a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) pela lei 12.305/10, que definiu diretrizes e princípios para gestão e gerenciamento de resíduos sólidos. A lei estabelece que, para alguns setores, a implementação da logística reversa é obrigatória. São os casos de importadores, comerciantes, distribuidores e fabricantes de:
- Agrotóxicos (o que inclui resíduos e embalagens);
- Lâmpadas;
- Pilhas e baterias;
- Produtos eletrônicos e componentes;
- Óleos lubrificantes e embalagens.
Embora a indústria farmacêutica não esteja nesse grupo, ela está no centro dos debates sobre a importância da destinação correta de resíduos. Há alguns anos, um estudo da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial publicado num portal acadêmico levantou que, entre 2014 e 2018, as cidades brasileiras gerariam até 5,8 mil toneladas de resíduos farmacêuticos.
O problema tende a representar riscos maiores, dado que a taxa de consumo de medicamentos aumentou. Nesse mesmo período, os resíduos descartados de maneira irregular no meio ambiente cresceriam 649 toneladas nos municípios com mais de 100 mil habitantes.
Quais são os benefícios da logística reversa para seus negócios?
Embora as empresas precisem agir de maneira sustentável e coerente com seus valores na Era da Informação e da Transparência, a adoção de práticas como a logística reversa traz uma série de reais benefícios para os negócios.
Consolida a imagem da empresa
Os consumidores dão preferência a organizações que se preocupam com o meio ambiente. Uma pesquisa da Union + Webster citada em um portal especializado apontou que 87% da população brasileira prefere adquirir produtos e serviços de empresas sustentáveis e 70% dos entrevistados afirmaram que não se importariam em pagar um pouco mais pelos produtos e serviços dessas empresas.
Mesmo que essa não seja exatamente a realidade da indústria farmacêutica, já que os consumidores têm menos opções, é desejável que os empreendimentos criem uma imagem positiva, atraindo a atenção de parceiros, investidores e pesquisadores.
Melhora o processo produtivo
O uso da logística reversa no processo produtivo possibilita economia com insumos e otimiza a aplicação dos recursos, já que a gestão dos resíduos é uma responsabilidade da indústria (iniciativa privada), dos governos e dos cidadãos. Quanto menor o desperdício, menores os gastos com a destinação dos resíduos.
Permite explorar novas ações de marketing
Se sua marca comunica as práticas sustentáveis que adota de maneira coerente, divulgando qual é o destino de seus resíduos, ela estreita o diálogo com os clientes, parceiros e fornecedores, reforçando o posicionamento.
Para que as ações de marketing não se tornem uma ineficaz ação de greenwashing (quando as empresas se beneficiam de uma imagem sustentável sem terem de fato essa postura em suas práticas cotidianas), seu negócio pode informar os consumidores sobre as práticas que adota ao promover ações de conscientização e gerar uma publicidade positiva.
Gera produtos mais limpos
As empresas que impulsionam suas atividades com a logística reversa adotam tecnologias mais limpas, um benefício altamente desejável para a indústria farmacêutica. Com isso, elas simplificam a reutilização e criam embalagens que podem ser recicladas ou corretamente destinadas com maior facilidade.
Como adotar a logística reversa na indústria farmacêutica?
A disseminação de boas práticas para o descarte correto dos medicamentos é essencial para a implementação de programas de logística reversa na indústria farmacêutica. Medicamentos e embalagens precisam ser igualmente considerados.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina uma série de diretrizes para o descarte correto das embalagens desses medicamentos, as quais podem ser divididas em:
- Embalagens primárias: a maior parte delas têm contato direto com o produto e, portanto, são contaminadas. Exemplos: blisters e frascos de vidro;
- Embalagens secundárias: protegem a embalagem primária. Exemplo: cartuchos;
- Embalagens terciárias: protegem as embalagens primárias e secundárias. Exemplo: caixas de papelão.
O manual da Anvisa para o gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) estabelece que os medicamentos enquadrados no Grupo B dos RSS, ou seja, aqueles que apresentam risco à saúde ou ao meio ambiente, devem ser incinerados, bem como as embalagens primárias que tiverem contato direto com os medicamentos perigosos.
O problema da incineração é que muitas embalagens de medicamentos são feitas em plásticos como PVC e PVDC, que liberam substâncias tóxicas ao serem recicladas. Por isso, especialistas debatem o uso desses materiais na embalagem dos medicamentos.
Para o descarte de embalagens não contaminadas, como é o caso de alguns blisters, é preciso que ela conte com o apoio de empresas especializadas, que separam o alumínio e o plástico. Considerando essas questões, sua marca pode implementar postos de coleta para que consumidores, farmácias e hospitais descartem corretamente os medicamentos. Informe que:
- Apenas as embalagens secundárias que não tiveram contato com o medicamente podem ser recicladas;
- Potes de vidro, de plástico, blisters, bisnagas de gel e creme devem ser descartados separadamente para a incineração;
- Comprimidos devem ser destinados a postos de coleta específicos para que sejam posteriormente incinerados;
- Blisters usados em pilhas, embalagens de alimentos ou brinquedos podem ser destinados a depósitos de lixos recicláveis.
A logística reversa traz benefícios para a indústria e para a rede de consumidores e parceiros que a sustentam. Embora a responsabilidade seja compartilhada entre o varejo, a indústria, os governos e a sociedade, as empresas que se comprometem com um programa de gerenciamento de resíduos sustentável se beneficiam de práticas inovadoras e de uma imagem positiva.
Com informações de Blog Talk Science.