Inovação avalia conteúdo de água em pontos de acupuntura
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP criam metodologia para medir eficácia da acupuntura. Em artigo recém-publicado, o método que desenvolveram mostrou que a estimulação com as agulhas modifica a quantidade de água presente nos pontos de acupuntura.
Líder da equipe e criador da metodologia, o professor da FMRP João Eduardo de Araújo conta que, até o momento, a avaliação do tratamento é feita com base na percepção de melhora do paciente e métodos empíricos, já que “a avaliação instrumental por análise elétrica dos pontos apresenta muitas variáveis de difícil controle”. Situação que pode ser mudada com a utilização da tecnologia (instrumento portátil e não invasivo que mede água nos tecidos biológicos) que “permitiu identificar se as agulhas inseridas no paciente realmente ativaram os pontos de acupuntura”.
Pontos de acupuntura são locais específicos na pele, situados ao longo dos meridianos, que sob estimulação física podem produzir efeitos terapêuticos no corpo. Existem mais de 360 pontos de acupuntura distribuídos ao longo de 12 meridianos principais. Já meridianos são linhas verticais que percorrem o corpo e, de acordo com a medicina tradicional chinesa, funcionam como canais por onde a energia vital circula e conectam diferentes órgãos e sistemas.
Prática milenar da medicina tradicional chinesa, a acupuntura (introdução de agulhas em pontos específicos da pele) e seus potenciais benefícios terapêuticos têm sido estudados, e questionados, pelo mundo ocidental desde meados do século passado. Para detectar se uma agulha ativou o ponto de acupuntura, os profissionais e pesquisadores da área utilizam equipamentos que medem a impedância elétrica (capacidade de impedir a passagem de corrente elétrica) da pele. Mas, argumenta Araújo, esse tipo de avaliação apresenta diversos problemas metodológicos que agora poderão ser evitados com “uma medida mais precisa da ativação dos pontos de acupuntura”.
Além de testes comparativos com a técnica de impedância elétrica, “conduzimos uma série de experimentos com este equipamento para validar uma nova metodologia de detecção de efeitos biológicos nos pontos de acupuntura”, informa o professor, que acredita terem sido os critérios científicos utilizados os responsáveis pela valorização do estudo que ganhou destaque na capa e editorial da revista científica.
Ondas eletromagnéticas de alta frequência
113 voluntários saudáveis, homens e mulheres entre 18 e 38 anos de idade, foram aleatoriamente divididos em grupos: estimulados pela acupuntura e não estimulados por nenhuma forma. O estudo se concentrou na avaliação terapêutica de dois pontos específicos de acupuntura (um no meridiano do estômago e outro no do baço).
Os voluntários, tanto os que se submeteram às sessões de acupuntura quanto os do grupo controle, passaram pela avaliação de um dispositivo (equipamento utilizado para a nova técnica) que emite ondas eletromagnéticas de alta frequência e permite medir de forma não invasiva o conteúdo de água nos pontos de acupuntura. Esta medida chama-se constante dielétrica do tecido.
A alternativa proposta pelo novo método leva em conta que “os pontos de acupuntura são conhecidos por suas características elétricas distintas que podem ser influenciadas por variações anatômicas e condições da pele”, ensina o professor Araújo. Quanto aos resultados da análise, afirma que, após a inserção da agulha e durante um período de 20 minutos após a remoção, houve diminuição significativa na constante dielétrica tecidual no grupo de acupuntura. A alteração do conteúdo de água nos pontos de acupuntura “está relacionada à estimulação da agulha”.
Os achados, segundo os pesquisadores, contribuem para a prática de acupuntura ao oferecer uma nova forma de medir e entender as respostas dos pontos de acupuntura à estimulação das agulhas. O professor Araújo afirma que a nova metodologia tem potencial para ser utilizada por acupunturistas em suas clínicas, aprimorando a técnica terapêutica e melhorando a resposta ao tratamento. Além das aplicações clínicas, serve de “base para avaliações objetivas da terapia e aprimoramento de pesquisas relacionadas”.
Mais informações: araujoje@fmrp.usp.br
*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
Matéria – Jornal USP, Texto: Rita Stella
Arte: Brenda Kapp*
Imagem – Pessoa em sessão de acupuntura. – Foto: pvproductions/Freepik
Professor João Eduardo de Araújo. – Foto: Currículo Lattes