Biorrevolução, entenda como ela já está transformando a vida de todos
O que biologia tem a ver com inteligência artificial, automação e análise de dados? Muito mais do que se imagina. Os grandes avanços vistos nos últimos anos nessas áreas estão totalmente interligados, acelerando o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis no nosso cotidiano.
Essa confluência do progresso dos dois lados está promovendo a chamada biorrevolução, uma megatendência com impacto significativo em diversos campos, principalmente saúde, energia e agricultura, segundo relatório do McKinsey Global Institute.
“Cerca de 400 casos de uso, quase todos cientificamente viáveis hoje, já são visíveis. Essas aplicações por si só poderiam ter um impacto econômico direto de até US$ 4 bilhões de dólares por ano durante os próximos dez a 20 anos”, diz o documento.
Impulsionada pela digitalização, crescente conectividade e queda dos custos, a onda de inovação já desempenha papel importante na resposta aos desafios globais, incluindo as mudanças climáticas, embora ainda esteja só no início.
De acordo com a Embrapa, na agricultura em especial, as biotecnologias já estão gerando ganhos de produtividade, controle de pragas e geração de novas fontes de energia, entre outras melhorias, associadas à redução de custos, de tempo e de prejuízos ao meio ambiente. De fato, uma revolução.
Menos adubo, mais produtividade
Apenas dentro do ramo da biologia sintética – que une análises computacionais com princípios da engenharia genética, remodelando sistemas biológicos existentes ou construindo novos componentes –, são diversos os exemplos de soluções para questões complexas da agricultura e da alimentação. Veja alguns:
– Microorganismos presentes no solo poderão ser aprimorados para ampliar a capacidade de absorção de nutrientes pelas plantas, garantindo menor uso de fertilizantes químicos, maior fixação de carbono, colheitas mais nutritivas, aumento da retenção de água e prevenção da erosão.
– Alterações genéticas poderão ser projetadas para fins específicos, conforme informações da Embrapa: diminuir perdas de safras, por exemplo, mudando a resposta celular das plantas a agentes causadores de doenças.
– Da mesma forma, na pecuária será possível influenciar a quantidade de gás metano gerada por bovinos.
– Micróbios geneticamente modificados podem ser usados na produção de moléculas de interesse econômico, como enzimas usadas na fabricação de biodiesel e bioetanol a partir de diversos substratos provenientes do agro.
Sistemas agrícolas sustentáveis
Soluções que incluem uso de nanotecnologia na agropecuária também são exemplos da biorrevolução que está em curso, em diferentes aspectos.
– Herbicidas e pesticidas podem ser mais eficientes quando nanoestruturados, sendo assim necessárias doses menores.
– Nanofertilizantes são mais eficientes no uso de nutrientes, diminuem o custo de produção, ampliam a tolerância da planta a fatores de estresse e estimulam a atividade de microrganismos benéficos para a planta, fortalecendo sistemas agrícolas sustentáveis.
– Nos alimentos prontos, será possível adicionar menor quantidade de sal e açúcar, já que a redução de partículas desses ingredientes para a nanoescala intensificam a percepção de gosto.
– Nanopartículas de polissacarídeos poderão simular gordura, por meio da alteração da textura.
– Técnicas de nanofabricação de embalagens servirão para dosar a permeabilidade e criar superfícies resistentes a micróbios, aumentando a durabilidade dos alimentos.
– Nanossensores poderão integrar embalagens inteligentes, monitorando aspectos relacionados à segurança e qualidade de alimentos. Também serão usados na agricultura de precisão, auxiliando produtores rurais com informações sobre as condições do clima, da planta e do solo.
60% do que usamos para viver pode ser biológico
Esses são só algumas amostras do que está vindo com a biorrevolução – muitos desses avanços, inclusive, que já estão colocados em prática e dando resultados, além dos progressos em diversas outras áreas.
Segundo o relatório da McKinsey, há potencial para que 60% dos materiais físicos que usamos globalmente sejam produzidos biologicamente. As descobertas são surpreendentes: a fermentação, usada há séculos para fazer pão e cerveja, por exemplo, agora está servindo para criar tecidos como a seda artificial de aranha.
Ainda que haja um longo caminho pela frente, “um progresso modesto nesse sentido poderia transformar as economias, as sociedades e as nossas vidas, incluindo o que comemos e vestimos, os medicamentos que tomamos, os combustíveis que utilizamos e a forma como construímos o nosso mundo físico”, prevê a McKinsey.
Matéria – EXAME Solutions