Geólogo Alerta que Projetos Renováveis Também Demandarão Investimentos em Atividades Poluidoras
Na edição do Projeto Perspectivas 2021 , vamos conhecer as projeções do geólogo Luciano Seixas para o ano de 2021. Ele enxerga que os preços do petróleo neste ano devem ficar estáveis na casa dos US$ 53 por barril de óleo equivalente (boe), caso a pandemia não ganhe ainda mais força aqui e pelo mundo afora, como já ocorre, e da eficácia mundial e local da vacinação. Na equação exposta pelo geólogo, alguns fatores deverão manter os preços nesse patamar, como os elevados estoques disponíveis e o desejo do presidente eleito dos EUA, Joe Biden, em investir em renováveis. Seixas ressalta, no entanto, que o investimento em energias verdes ainda esbarra em certos problemas. Um desafio para a expansão dessas fontes é o investimento substantivo na mineração poluidora de cobre, alumínio, cobalto e lítio, por exemplo. “Muitos desses minerais de ocorrência mais escassa terão ainda que ser encontrados”, acrescentou. Ele prevê ainda que o processamento e uso do petróleo serão submetidos a desafios de tornar o energético menos poluente. Seixas também afirma que projetos em águas rasas e em terra no Brasil ainda são uma incógnita econômica, em função de baixos preços do barril de petróleo, da pandemia e sua erradicação, além dos valores pagos ou a serem pagos por tais ativos.
Como o setor de petróleo enfrentou os desafios de 2020, com a pandemia apanhando a economia brasileira em pleno voo de subida?
A pandemia chegou de vez deprimindo o mercado consumidor de energia e, consequentemente, a sua produção, repercutindo acentuadamente no mercado petrolífero. O petróleo Brent despencou de US$ 63 em janeiro para US$ 21 entre março e abril, estabilizando em US$ 48 como preço médio, em dezembro. Tal queda de preços de 29% no ano não chegou as às bombas. A gasolina e o diesel mantiveram os preços por conta de variação cambial positiva do dólar em 24% ao ano, em 12 meses, variação ainda maior, se desconsiderarmos os meses de outubro, novembro e dezembro.
A Petrobrás, que tem as suas maiores receitas em reais, com a produção e vendas, e exportação em dólar, projeta ter USS 87 bilhões de dívida bruta no final de 2020. Mesmo assim, ainda deverá R$ 458 bilhões ante ao seu valor no mercado bursátil de R$ 405 bilhões (05/01/2021). Isso por conta do malsinado PPI, que incorpora aos preços internacionais em dólar, praticados no Brasil, as taxas de internação e cabotagem – o que é absolutamente lesivo para a empresa, que perde market share e faturamento. Tal engenharia financeira só beneficia os produtores de fora, elevando os preços finais para o consumidor pátrio. Como consequência, a Petrobrás deve, em reais, quase o mesmo que devia em 2016, quando o petróleo despencou de US$ 100, para algo em torno de US$25. Tal dívida somada à malsinada venda de bons ativos geradores de caixa, torna sempre menor o faturamento da companhia. E ninguém comenta o valor de tal dívida, como faziam com grandes estardalhaços em 2015 e 2016. Mundo estranho não? Os desinvestimentos pouco ajudaram na redução.
A economia brasileira, muito prejudicada, foi salva, em parte, pelo auxílio emergencial total de 3.900 reais pago ou a ser pago a 13,6 milhões de brasileiros. Isso atenuou substantivamente a queda do PIB para algo previsto como 4,81%, ou uma retração para R$ 6,95 trilhões (US$ 1,29 trilhões), ante aos R$ 7,3 trilhões (US$ 1,82 trilhões) de 2019, com redução em dólar mais acentuada, por conta da desvalorização do real em 24% (R$ 4,02 janeiro e agora, dezembro, R$5,26/US$). Isso, também, pouco se comenta, apesar das perdas sofridas pelas classes média e pobre, sempre as grandes prejudicadas, via inflação. Já os ganhos foram superlativos para os portadores de dólar e euro, com ganhos e receitas exportadoras acumulados em moedas fortes.
Para as empresas, fora as agrícolas mega produtoras, e algumas outras poucas, o ano foi muito difícil, melhorando um pouco no final. Os empregos em todas as áreas minguaram e poucos conseguiram ter um faturamento decente. Os grandes agricultores que receberam em dólar mantiveram a moeda fora do Brasil e os investidores externos, grandes especuladores, principalmente no mercado bursátil, retiraram a maior parte do dinheiro do Brasil retornando com ele apenas em outubro-novembro, com saídas de US$ 432 bilhões e entradas US$380 (Banco Central-BC), principalmente quando as ações atingiram preços muito baixos, com a classe média investidora pagando o pato, pois teve que se refugiar na bolsa, com mais riscos, para proteger o seu patrimônio, já que os ganhos em renda fixa, CDI, CDB, poupança e os atrelados à Selic, todos, ficaram artificialmente muito baixos, menores que 2% ao ano, sobrando de elevado apenas o IGP-M de 23,14% anualizado em dezembro, e com o IPCA em alta de 4,31%, revelando claramente uma tendência inflacionária negada pelo BC.
A inflação se elevou em outubro, novembro e dezembro, depois de uma alta latência por ausência de consumo. Agora está sendo aumentada por conta da escassez de matérias primas com estoques reduzidos por conta do vírus, que eleva os preços via procura, e tome mais inflação, com tal desequilíbrio. O consumo crescido foi consequência do auxílio emergencial, com parcelas pagas sendo usadas nas reformas das moradias dos pobres, e investimentos em imóveis feitos por poucos privilegiados, por absoluta falta de outra opção considerada “segura” de investimento, principalmente quando o próprio BC tem dificuldades de rolar a dívida pública, interna, de curto prazo, considerada explosiva e passível de calote segundo o próprio ministro da economia. Pasmem! E o PIX agora vigente parece ser o aferidor para um futuro imposto, tipo CPMF, sobre as transações eletrônicas.
A economia global retraída, e problemas ambientais, deprimiu a produção mundial de alimentos, fazendo o Brasil incrementar as suas exportações agrícolas, tornando escassos os produtos no Brasil, por falta de legislação e de ação governamental para preservar a economia interna. Isso elevou o custo de vida a níveis astronômicos, sempre penalizando os menos favorecidos, claro.
Assim, algumas empresas e consultorias lutaram para sobreviver e muitas sucumbiram ou estão pré-falimentares, por absoluta falta de serviços.
Quais são as perspectivas do senhor e de sua empresa para 2021?
Difíceis. Com o fim do auxílio emergencial e inflação ascendente haverá certamente retração de consumo e uma iminente insatisfação geral, que só não será imediata, porque parte do auxílio foi direcionado para a poupança, que está sendo consumida pela inflação e desemprego.
Com a produção do petróleo latente, retida pela pandemia, os preços do petróleo tendem a ficar estáveis, na casa dos US$ 53 por barril, se a pandemia não recrudescer fortemente, como parece ocorrer em todo mundo. Isso confirmado a oferta de petróleo será maior, deprimindo os preços. A salvação será a vacinação intensa no curto prazo, no início de 2021. Aí o cenário muda positivamente, mas não haverá incrementos substantivos na produção e no consumo de petróleo reprimido. Quem tem produção latente, e outras poucas fontes de receitas, aumentará a oferta, e outros fatores geopolíticos contribuirão enormemente para manter os preços baixos, como os elevados estoques já muito acumulados e fatores subjetivos, como o desejo expresso do presidente eleito dos EUA, senhor Joe Biden, de substituir com celeridade o uso dos combustíveis fósseis, ainda responsáveis, hoje, por 70% do consumo mundial, por energias ditas limpas, verdes.
A geração de energia limpa esbarrará com determinados problemas. Alguns projetos poderão se tornar absolutamente inviáveis face ao preço baixo do petróleo e do real conhecimento de quão “verdes” são realmente tais energias, que exigirão incrementos substantivos na mineração poluidora de cobre, alumínio, cobalto, lítio e carbonatos entre outros, usados para armazenar energia elétrica, nas baterias dos automóveis, para consumo industrial e até residencial, nas linhas de transmissão, na construção e instalação de torres eólicas, postos de distribuição, e etc. Segundo a Wood Mackenzie as produções de cobre e alumínio têm que ser aumentados em cerca de 40%; as de níquel em 60%, e tem que se produzir 5 vezes mais cobalto, e 10 vezes mais lítio, para que haja um substantivo incremento e armazenamento de tais energias, com investimentos estimados da ordem de US$ 1 trilhão. E muitos desses minerais de ocorrência mais escassa terão ainda que ser encontrados. Assim, no curto prazo os preços de petróleo poderão ter uma maior flutuação positiva.
Também o manuseio da inteligência artificial usada nas melhoras dos processos dominará na área de interpretação, exigindo, no curto prazo, imensa digitação de dados, para uso intensivo, sendo este propiciador de desempregos de grande parte da mão de obra qualificada ou não, como já vem ocorrendo. Os aluguéis comerciais fora da área de logística perderão valor por excesso de oferta e uso maior do home office. Os profissionais de TI, mineradores, gerentes de projetos e correlatos, serão os grandes beneficiados.
Igualmente, como o carvão, o uso do petróleo será submetido a desafios de se tornar menos poluente, e grandes melhorias nos perfis de refino e produtos. Essas serão as grandes preocupações das empresas focadas exclusivamente em refinar petróleo.
As produções das áreas emersas e de offshore raso, produtos de desinvestimentos, ou em processos, feitos pela Petrobrás, são uma grande incógnita em função dos preços baixos do petróleo. Alguns dos ativos foram adquiridos por preços muito elevados e terão pouca ou nenhuma lucratividade no curto, médio, e longo prazo, com os preços do petróleo deprimidos, e dos investimentos necessários para incrementos na produção. Outros ativos adquiridos e divulgados com estardalhaço, vendidos por outras empresas, não são tão bons e alguns têm volumetrias superestimadas, não representando o paraíso cantado em verso e prosa por algumas mídias, ditas especializadas.
As consequências da vacinação precoce, em termos de prognósticos, ainda é para mim uma grande incerteza, face às dificuldades de implementação. Caso isso ocorra com celeridade os cenários de produção, consumo e preços mudam completamente.
Se o senhor fosse consultado, quais as recomendações e sugestões que faria para o governo neste novo ano que está prestes a iniciar?
Que o governo seja pragmático. Basta de bazófias sem sentido, que só prejudicam o Brasil e sua população. Até alguns generais já falaram disso. Independente do viés político, o Brasil tem que ter mais projetos de P&DI e de pesquisas científicas, inclusive para o setor agrícola, até agora muito pujante. Novas empresas do tipo Embrapa precisam ser criadas em outras atividades ou não destruídas. Desativar centros de pesquisas, como vem ocorrendo em nome de ilusórios ajustes fiscais, é puro suicídio. Muito ao contrário do aqui feito, os blocos econômicos estão se firmando independente das ideologias ou querelas pessoais, e há previsões dos EUA injetarem mais dinheiro na economia para reativar negócios mortos durante a pandemia. Depois eles pensarão nos ajustes fiscais. Basta ver a dívida pública americana comparada ao seu PIB.
Nossos alinhamentos comerciais têm que se dar em benefício da nossa população, e não em nome de preferências ideológicas de quem quer que seja, como é a tendência atual. Por exemplo, assistimos em dezembro o prenuncio do grande acordo comercial asiático, juntando os povos chinês, japonês, australiano, coreano, vietnamita, tailandês etc., e quiçá indiano. Se dependesse de ideologias, e da história, jamais essas nações se juntariam. Mas, no mundo atual absolutamente pragmático, a costura política é feita juntando os desiguais, sem possibilidades para dissensos pouco oportunos. A tecnologia 5G é um bom exemplo disso. Os europeus estão dando um show de diplomacia no assunto sem claramente definir que lado fica, ou de quem adotará tal banda tecnológica. A questão ambiental continuará o nosso calcanhar de Aquiles se não mudarmos a política atual.
Países e governantes não devem ter preferências de quaisquer cores. Devem pensar na população. Essa é a minha sugestão e constatação que na minha área de atuação, em 2021, sobrarão pouquíssimas oportunidades, face as concentrações de negócios e ativos nas mãos de poucos (relativamente). Assim, 2021 será o momento de se reinventar ainda mais, se os prognósticos acima se concretizarem, ou não.
Com informações de Petronotícias